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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

30
Ago07

A difícil arte da facilidade

João Madureira

 

Quando reparo e penso na governação das sociedades modernas, lembro-me sempre, com alguma mágoa, tenho de confessar, de Boileau quando se gabou de ter ensinado a Moliére “a arte de fazer dificilmente versos fáceis”.

A verdade é que, apesar da incoerência do citado senhor, cada vez mais me embaraço nas redondas palavras dos nossos governantes.

O que eles andam a fazer todos o sabemos. E até o sofremos na pele com particular desapego e algum altruísmo.

O problema é a facilidade com que esses senhores, e senhoras, decidem por nós o que só nós devíamos decidir.

Eles são apenas socialistas cintilantes e determinados.

Nós apenas o povo que os elegeu.

Cada povo tem os governantes que merece.

 

28
Ago07

O amor à paz, segundo Amos Oz

João Madureira

 

 

 

«– É verdade que hoje em dia quase toda a gente usa a palavra “traidor” com demasiada leviandade. Mas o que vem a ser um traidor? Sim, o que é, com efeito? É um homem sem honra, um sujeito que, às escondidas, por detrás das costas, por um qualquer benefício insuspeito, ajuda o inimigo contra o seu povo, chegando, mesmo a desgraçar a família e amigos. É mais infame do que um assassino. E tu, faz-me o favor de acabar de comer esse ovo! Na Ásia há quem morra de fome, está aqui escarrapachado no jornal.

A minha mãe puxou o meu prato para si e acabou de comer os restos do meu ovo e pão com doce – não por força do apetite, mas por amor à paz – e rematou:

– Quem ama, não atraiçoa.»

 

(Uma Pantera na Cave)

 

27
Ago07

Ping-ping-ping, plun, tong, pang-pong, pliiing…

João Madureira

 

 

Ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pling, pling, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pling, ping-ping-ping, pliiing, pliiing, peng, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pung, pliiing, pung, pliiing, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, peng, pung, pliiing, pung, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, peng, pung, pliiing, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, plun, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pung, pliiing, pliiing, peng, pung, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, pung, pliiing, pliiing peng, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pung, pliiing, pung, pliiing, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, plang, ping-ping-ping, plang, ping-ping-ping, pling, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pang, pliiing, pling, plang, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pliiing, pliiing, peng, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pung, pliiing, pung, pliiing, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, peng, pung, pliiing, pung, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, peng, pung, pliiing, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, peng, pung, pliiing, pung, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, pliiing peng, pung, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pung, pliiing, pliiing peng, pung, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pung, pliiing, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong,  peng, pung, pliiing, pung, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, peng, pung, pliiing, pung, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, pliiing, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pung, pliiing, plang-ping, pang-pong, pfind, tong, pliiing, peng, pung, pliiing, pung, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, pliiing, pliiing, peng, pung, pliiing, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, pung, pliiing, pliiing, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pling, pang, pong, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, pung, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pliiing, pang, pong, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, pliiing, pang, pong, pung, pliiing, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, plang, ping-ping-ping, plang, ping-ping-ping, pling, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, pling, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, pling, pling, ping-ping-ping, pang, pliiing, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, pling, plang, plang, ping-ping-ping, plang, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, pling ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping, ping-ping-ping-pliiing-pliiing, pang-pong, pfind, tong…

 

26
Ago07

Abandonos

João Madureira

 

É quando deixo as estradas principais que reconheço que Portugal é um labirinto de caminhos, um sítio de terras abandonadas, aldeias quase desertas e com nomes inverosímeis.

Quando no Verão se enchem de emigrantes, o entusiasmo aparece de novo e a tristeza do abandono perde, por momentos, a sua fúria devastadora.

Até a música popular, por vezes, soa como uma sonata de Beethoven.

 

25
Ago07

Até parece mentira

João Madureira

 

Há uma coisa que me enfurece: o desaparecimento daquilo que tanto demorou a fazer.

Há também uma fatalidade que me acompanha, a de, numa festa, ficar sempre na pior mesa.

Depois atrapalho-me com as conversas e apercebo-me que todos aqueles mundos interiores estão baralhados.

Até parece mentira, mas, mesmo não parecendo, as pessoas gostam mais de nós do que aquilo que julgamos.

 

24
Ago07

O espectador sensível

João Madureira

 

Quando alguém se empertiga isso incomoda o tonante. Ver as próprias mazelas expostas é que dói.

Pode parecer lisonja ou parvoíce egocêntrica, mas enganam-se aqueles que consideram que o artista se dilata ou contrai pelo prazer perverso de fazer mal a alguém.

Quem é espectador sensível e atento do mundo, dificilmente consegue suprimir a lucidez, ou fechar os olhos diante do espectáculo humano.

O que o artista tira da realidade não é um roubo. É um estudo.

O que é crime é desistir de ser coerente e renunciar à dignidade humana.

Todos sabemos que não é humano ver a claridade e escolher as trevas.

 

23
Ago07

A aflição devota do mexilhão

João Madureira

 

 

Não sei que raio de sociedade é que os iluminados do costume andam a construir onde, a cada dia que passa, mais uma dezena de desempregados chora a sua instabilidade social numa aflição rigorosa.

Alguém tem de ser responsável pela desgraça.

 

22
Ago07

O desespero dos deuses

João Madureira

 

A minha avó bem me avisou: “A vida não é boa nem é má, é aquilo que fizermos dela”.

As pessoas fazem rapidamente um juízo sobre como é a vida dos outros. E parece que isso lhes é suficiente para aturar a sua. Assim ficam contentes. Mas todos sabemos que as coisas são bem mais complicadas do que aquilo que parecem.

Muitos aspiram a não fazer nada. Outros contentam-se em fazer coisas que não servem para nada.

Mas é árduo o tempo em que não se faz nada.

Eu, pelo sim, pelo não, entretenho-me a ver o céu, o trajecto dos pássaros e a insustentável ligeireza do crepúsculo.

Os deuses devem andar desesperados.

 

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