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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

30
Jul09

As obras de arte

João Madureira

 

 

“Há obras de artificialmente adaptáveis ou estáveis: são aquelas que, uma vez instaladas, permanecem no seu lugar sem outra preocupação do que continuarem nele, como essas crianças que jogam ao jogo da roda e nunca largam as mãos que lhes couberam na primeira sorte. Outras, mais instáveis, andam sempre de um lado para o outro, agitando-se, estorvando e causando perturbações na boa ordem da Arte considerada na sua natureza cósmica, e resta ainda a categoria – se é que podem classificar-se – das que, errantes, nunca conseguiram adaptação e, como seres em potência, passam de uma classificação a outra, verdadeiros fantasmas da ontologia estética, vozes clamantes contra quem as fez de natureza tão pouco estável.”

 

Off-sideGonzalo Torrente BallesterEditorial Caminho

 

28
Jul09

Os demónios

João Madureira

 

“Os demónios foram a primeira experiência de Deus. Não eram, como vulgarmente se diz, anjos, mas sim homens bissexuais. O seu poder era tão grande que ameaçaram Deus, e então Deus, com a ajuda dos anjos, criados para aquela ocasião, destruiu-os. Tentou destruí-los, pela segunda vez, em Sodoma. A Bíblia conta que enviou três anjos à cidade onde nós reconstruíamos o poder perdido. Foram três sobreviventes da cidade maldita que comunicaram ao mundo o grande segredo.”

 

Off-sideGonzalo Torrente BallesterEditorial Caminho

 

23
Jul09

Salva-te a transparência verde da água

João Madureira

 

 

Apenas agora se vê a desordem geográfica. Pareces um lírio com os pulmões a ferver. E sonhas enquanto a vocação das florestas te doe fundo. Sentes que a solidão das heras cobre as paredes enquanto mais uma nuvem passa de encontro ao poente. Acontece a vocação do sangue. Do sangue terrível da paixão. A tua nudez começa a meter-se para dentro. Salva-te a transparência verde da água. Mais um mês amargo fecha as janelas. És actualmente uma montanha pensativa onde a claridade fica até ao fim.

21
Jul09

No chão caem agora as estrelas

João Madureira

 

 

Agora nem os homens conseguem perceber os deuses artesãos. Há imagens deles subindo o monte Sinai. O demónio já ali vem carregando as suas leis. Os deuses não têm boca. Por isso alimentam-se de desespero. E de diabos. De pequenos diabos de luz. No chão caem agora as estrelas deslaçadas que são amarradas por mãos sombrias. Devagar, os dedos dos deuses aprisionam as palavras desperdiçadas pelos homens. Nisso parecem-se muito com os demónios. Finalmente os demónios vomitam diamantes que os deuses apanham para devolverem aos sacerdotes do Templo.

16
Jul09

Deus é um instante

João Madureira

 

 

Estão as bocas ocupadas com as emoções escuras. Um prazer lento invade-me o corpo. Oiço-te cantar e sinto como é rápido o modo de amar e de sofrer. As mãos, também lentas, absorvem a canção, o tempo e a beleza. A terra dorme e acorda no meio de uma estação. E essa estação está ainda a meio de o ser. Essa estação já é outra estação e essa é ainda outra estação. Alguém se debruça sobre terra e treme de prazer. O vento fustiga os vales. As flores são agora rebentos de solidão. Tu escreves a palavra “malícia” sem malícia. Andam amargas as vozes brancas de solidão. Procuro as palavras que não encontro. Encontro as palavras que não procuro. Encontro-te no meio das palavras que não escrevo. Alguém procura dentro do meu sonho as noites espantosas do silêncio. O silêncio amargo das vozes ancestrais. As vozes das crianças solitárias. Alguém chama por mim directamente do branco da solidão. Um estrangeiro bate à porta do tempo. O tempo escreve a canção dos frutos e não consegue ouvir. A beleza devora a imagem do tempo. O tempo devora o tempo. O tempo devora a imagem. A imagem devora a beleza do tempo. Quase sempre deus é um instante.

14
Jul09

O trio maravilha

João Madureira

 

 

“José Saramago é uma derivação da literatura da América Latina. É uma prosa admissível nas Caraíbas ou num português que tivesse vivido a vida inteira nas Caraíbas. Mas assim não faz sentido nenhum. Lobo Antunes é um escritor. Não me interessa nada, mas é um escritor. Ele publica constantemente. Se tivesse escrito menos quatro ou cinco livros talvez tivesse sido um grande escritor. Aquilo acaba é por ser uma pasta. É como a Agustina. É uma literatura que se acabrunha, sem caminho. Sem… sem… sem… Eu ia dizer a coisa mais horrível: sem forma.”

 

Vasco Pulido Valente – LER – Julho de 2009

 

13
Jul09

Perling, perlong, perlang, perling, perlong…

João Madureira

 

 

Perling, perlong, perlang, perling, perlong… long… long… lang,  perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlong, perlang, perling, perlong… long… long… lang,  perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlong, perlang, perling, perlong… long… long… lang,  perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perlong, perlang, perling, perlong… long… long… lang,  perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlong, perlang, perling, perlong… long… long… lang,  perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlong, perlang, perling, perlong… long… long… lang,  perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perlang, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling, perling… pang…

10
Jul09

O Prazer e o Tédio – José Carlos Barros

João Madureira

 

 

“José Carlos Barros, que não esconde as suas fontes primitivas («Um odor intenso de alecrim [conta Maria Teresa] mistura-se no ar de fuligem. Como no primeiro capítulo dos romances sul-americanos.»), constrói uma pequena maravilha romanesca como há muito tempo eu não lia. Perfeita, melancólica, cheia de amor. Arrebatadora pela sua delicadeza e pelo humor travesso que nos comove. Ele sabe o que é o efeito romanesco; ao contrário dos literatos, ele sabe o significado da palavra romance, mais próximo da sua intensidade que da sua técnica; mais próximo do amor verdadeiro do que da sua imitação literária. Por isso, O prazer e o tédio lembra-me também a loucura de Heathcliff e a melancolia de O Monte dos Vendavais. É nessa paisagem que livro recupera e trata como ninguém, José Carlos Barros revela-se um geógrafo, um topógrafo que nos comove com os seus personagens fantásticos. Diga-se que se trata do realismo fantástico português, no seu melhor, cheio de luz, acabado de inventar por José Carlos Barros.”

 

Francisco José Viegas

 

 

O Prazer e o Tédio começa por ser a história de uma casa em ruínas, uma construção antiga e saturada de memórias que Aline – mulher de 40 anos em luta contra o tédio paralisante – não sabe se há-de reconstruir ou vender. Lírico e meticuloso, de início o livro avança devagar, contemplando os esplendores da bacia hidrográfica do Terva, reflectindo sobre a passagem do tempo e o modo como as pessoas se agarram à terra, ou sobre essa «finíssima membrana» que separa o prazer dos seus perigos.

Então, de repente, o texto desvia-se do rumo, acelera, mergulha no passado e transforma-se num saga familiar com vários narradores, dezenas de personagens e uma hábil oscilação entre diferentes épocas históricas.

(…) Há mulheres que adivinham o futuro, outras de cuja nudez emana uma luz que cega e queima, há vidas trágicas, amores de perdição e aromas…

(…) O Prazer e o Tédio é um dos mais arrebatadores romances de estreia publicados em Portugal na última década. Saber que o seu autor já encetou, na blogosfera, outros dois «folhetins» (As Heranças Indivisas, que se mantém a norte; e a Onda Gigante, situado no Algarve), representa uma espécie de consolo e uma nota de esperança quanto ao futuro da ficção nacional, nestes tempos em que a crise tudo parece contaminar com a sua sombra de nuvens negras.”

 

José Mário Silva – LER – Junho de 2009  

 

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