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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

29
Set14

208 - Pérolas e diamantes: Mudança

João Madureira

 

Pelo menos numa coisa estou de acordo com o guru do “conservadorismo” português, João Pereira Coutinho: “Na generalidade, os políticos são maus porque os portugueses não exigem melhor.” Basta olharmos para o governo da Nação para nos inteirarmos da qualidade, e da validade, do argumento. Então se o aplicarmos ao nosso concelho, temos que concordar que é tão verdadeiro que até dói.

 

De facto, basta olharmos para os líderes das diversas listas concorrentes às últimas eleições autárquicas para admitirmos que o argumento lhes assenta como uma luva. E nesta comédia trágica, os partidos, e não só eles, valha a verdade, têm também a sua dose de responsabilidade. Nalguns casos, parece mesmo que em vez de terem optado pelo candidato mais credível, apenas se empenharam em escolher uma sua caricatura. Como se em vez de levarem a sério a política autárquica, apenas se entretivessem em contar uma boa anedota.

 

Mesmo assim, há por aí muito boa gente, na qual me incluo, mesmo pedindo perdão pela imodéstia e pelo atrevimento, que coleciona várias e distintas cicatrizes nas costas feitas pelos pretensos amigos. As minhas, por exercício de estilo, exibo-as com orgulho.

 

Por isso não é de admirar que o país, e a autarquia, já agora, estejam de rastos. O pão e o circo para entreter os nativos deu no que deu.

 

Como sempre, os portugueses hão de protestar, mas tarde e a más horas.

 

Está claro que a nossa representação parlamentar também sofre do mesmo vício.

 

João Pereira Coutinho, relativamente ao nosso sistema eleitoral, refere que se torna necessário acabar com o “voto de cabresto”, uma expressão brasileira que identifica um tipo de sufrágio existente nos partidos com representação parlamentar.

 

Ora esse tal voto de arreio consiste em engrossar listas de deputados com “nulidades avulsas” que depois de eleitos fazem figura de corpo presente na Assembleia da República e, mesmo em matérias que não são estruturantes para o partido, votam sempre como manda o cabecilha. Mesmo que em causa estejam os legítimos direitos e interesses dos eleitores da região que elegeram filho, ou filha, tão ingratos.

 

Convém não esquecer que o governo que faz questão em nos desgovernar foi eleito propagandeando que não existia um problema com a moeda única, dizendo sempre que o problema com as Finanças Públicas se devia à má governação interna e à atitude passiva dos portugueses relativamente aos novos desafios, apostando até à exaustão na narrativa da austeridade a qualquer preço. Mas o que o atual estado da nossa economia demonstra é que com a austeridade não chegamos a lado nenhum.

 

Além disso, a boa gestão das Finanças Públicas não é uma questão de esquerda ou direita. Esse foi chão que já deu uvas.

 

E é uma mentira hedionda a tese propalada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas de que para os portugueses garantirem o futuro dos seus filhos têm de abdicar do seu presente.

 

Isso não é verdade nem nas famílias e muito menos nas sociedades.

 

Estes argumentos falaciosos não são sequer negociáveis. No fundo, o que está atualmente em jogo é, sobretudo, uma questão política. É preciso, é urgente, é necessário, mudar de rumo. E isso implica mudar de política. Ou seja: temos de mudar de governo.

 

 

PS – Para podermos fazer uma ideia concreta de quais são os buracos financeiros que vão ser tapados pelo empréstimo de 20 milhões de euros negociado pela CMC com os bancos, que os flavienses vão pagar com língua de palmo durante os próximos 14 anos, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC, mais aos seus distintos vereadores, nos quais incluímos necessariamente o catavento político João Neves, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme. E à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo. Assim vamos todos conseguir dormir um pouco mais descansados.

25
Set14

Poema Infinito (217): as cúpulas e as arestas

João Madureira

 

A escuridão brilhante chama-nos para junto de si. As noites são agora vastas. Seguramos as horas como quando éramos pequenos. Continuamos a construir o nosso mundo, apesar de nos tremerem as mãos. As suas cúpulas são imensas e resplandecem. As arestas douradas dos telhados são o início do espaço onde os sentidos se formam e se constroem. Ouvimos o medo. Escutamos as emoções. Os sentidos adquiriram asas. As nossas almas estão vestidas de silêncio. As horas fecham-se abruptamente. Nas árvores nasceram folhas como espadas. O desejo envolve-nos como se fosse fogo. Pintamos os nossos sonhos no céu em formato gigante. Os montes crescem-nos nos olhos como incêndios. A esperança é como um deserto. Os amigos estão longe, mal os ouvimos. Caem da vida como ninhos. A sua memória é um passarinho de bico amarelo e garras cinzentas. Um passarinho de olhos grandes, que faz pena. A angústia vai-se escoando. A saudade tem sedes diferentes. Por isso nos dói o coração. Todos os ofícios possuem os seus segredos. Até o de viver. O vento vem agora do mar. É oscilante. Vem beijar-nos no rosto, sacode os montes e esboça um novo crepúsculo. O nosso querer é como uma vaga onde os dias se afogam. Os anjos estão estranhos. Também eles sentem saudades da sua antiga humanidade. Estão pálidos e estendem as asas. Proferem que tencionam voar sem margens, pois descobriram que as chamas não os atingem. Claro que andam a ler livros estranhos às escondidas de Deus. Deus acusa-os de deliberadamente se terem esquecido de tudo o que é incomensurável. Lembra-lhes que sozinhos e sem a sua graça divina nada valem. Com o peso da divindade, aos anjos abre-se-lhes um abismo no peito. Exigem de novo ter dor e prazer. Deus emudece de indignação e delineia novamente uma estratégia de inacessibilidade. Com Ele tudo volta a perder sentido. As palavras já não possuem de novo casa. E por isso caem de novo a seus pés e transformam-se nas suas sandálias de veludo. O seu manto é como uma enciclopédia enorme que ninguém consegue consultar. Fixo-me no teu rosto. Fixo o teu olhar. Perante ti preencho os meus sentidos. Lá fora o rebanho persiste em pastar. Cá dentro, as coisas continuam ajoelhadas. As imagens remanescem obscuras e atormentadas. Fazem lembrar mendigos que arfam continuamente as suas ladainhas. O tempo corre. Nós repousamos. O pomar velho perdeu definitivamente a primavera. Dos seus ramos redondos já não sai nenhum perfume. A decadência das coisas cresce como os incêndios. As palavras ficam temerosas e caladas. Sentimo-las nubladas na nossa boca. Cobrem tudo com o seu silêncio. Mesmo os anjos. Até Deus. Os nossos melhores sentimentos começam a dilatar-se e a ficarem cada vez mais longínquos. A idade continua a correr no nosso repouso. O outono é o novo senhor do tempo. As horas inclinam-se e golpeiam-nos com a sua firmeza metálica. Acontece a beleza e o pavor. Estamos perto da terra. A vida ainda nos chama. 

22
Set14

207 - Pérolas e diamantes: Rui Veloso e Arquimedes

João Madureira

 

Ainda em pleno verão deparei-me com uma notícia que me deixou triste e ainda mais apreensivo. Rui Veloso, o rosto mais conhecido da música popular portuguesa, em entrevista ao DN, decidiu anunciar que vai parar de cantar e tocar.

 

Por vezes, parar até pode ser uma boa decisão, se o objetivo for, por exemplo, refletir, descansar ou até mudar de rumo. Ou de ramo. Mas não foi este o caso.

 

Rui Veloso apontou como principias razões desta sua travagem a fundo, a desilusão com o país, a falta de respeito pela cultura e o desprezo pelos profissionais do setor, em detrimento dos milhares de candidatos à fama enaltecidos e promovidos pelos concursos televisivos.

 

Também na música as pessoas começam a preferir as imitações ao original.

 

Apesar de atualmente termos muito mais acesso à informação do que no passado, é preocupante que, como cogumelos venenosos, seja a desinformação a proliferar nos meios de comunicação social.

 

Nos dias de hoje, tudo se nivela por baixo: a governação do país, a gestão das autarquias, o debate político.

 

A semelhança entre os principais atores políticos, especialmente entre os do apelidado arco da governação, é intrigante.

 

Aos portugueses custa-lhes entender as trocas azedas de palavras, pensando que correspondem a ideias e sentimentos divergentes, e depois vê-los a jantar e a passar férias juntos.

 

Rui Veloso confessou que há um caldeirão em que os mestres estão misturados com os analfabetos e que não gosta dessa sensação. Nem ele, nem nós. Verdade seja dita.  

 

Convém no entanto lembrar que, certa manhã, quando estava a tomar banho, o matemático Arquimedes descobriu o princípio da impulsão.

 

No entanto, apesar da sua excecionalidade, ainda hoje lamentamos o facto de ter sido assassinado posteriormente por um soldado.

 

Cada um tire daí as suas conclusões, se for capaz.

 

Por hoje termino com o sábio conselho do mordomo Jeeves, um personagem dos melhores livros de P. G. Wodehouse: “Se me permite a sugestão, senhor, e embora isto não venha constituir mais que um paliativo, tem-se verificado que o vestir de um fato de soirée costuma trazer um efeito estimulante para a moral.”

 

 

PS – O livro Poder e Mudar, de Gustavo Cardoso, começa com o seguinte facto histórico: Na época da Grande Depressão, um sociólogo vai entrevistar um conjunto de pensadores europeus. Embora o mundo esteja à beira de uma guerra mundial e à beira da catástrofe, quase nenhum percebe que vive o momento antes do passo para o abismo.

 

Descontadas as necessárias diferenças, é bem possível que estejamos num momento de rutura e que precisemos de meditar.

 

Mais uma vez, e para que os flavienses não fiquem com a impressão, incorreta por certo, de que o acordo estabelecido entre o PSD de António Cabeleira e o vereador eleito em nome do MAI, não foi a derradeira tentativa para que a prometida, e devida, auditoria externa às contas da CMC não vingasse, aqui fica mais uma vez o nosso apelo ao senhor presidente da autarquia flaviense, e aos seus distintos vereadores, incluindo necessariamente João Neves e João Moutinho, para que, em nome da transparência e do bom nome da Câmara de Chaves, aprovem uma auditoria externa às contas da CMC.

 

Passaríamos todos, com certeza, a dormir um pouquinho mais tranquilos. 

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