351 - Pérolas e diamantes: O carro à frente dos princípios
Eu sou daqueles que consideram que tem de existir o primado do fator moral sobre o aspeto material.
Podem denominar este meu convencimento como romântico e excêntrico, mas eu penso que na política, tal como em qualquer outro domínio da atividade humana, o caráter, os valores e as convicções são pelo menos tão importantes como os outros fatores descritos, em termos gerais, como “económicos”.
Mesmo as melhores leis, e até a legislação mais progressista, não valem sequer a tinta com que são impressas se as qualidades morais dos homens que têm de as aplicar forem duvidosas.
A inteligência e a mera perfeição técnica dos métodos de pensar e analisar não são os únicos – nem sequer os mais elevados – valores universais.
Brincar com a inteligência, sem convicções profundas, sem crença e sem autodisciplina, pode levar a que a nossa civilização esteja condenada provavelmente ao declínio e até ao desaparecimento.
Muitos dos nossos “brilhantes” universitários que enxameiam o espaço político são tolos sofisticados que se limitam a serem ensinados. Revelam-se céticos em relação às opiniões e ingénuos quanto aos factos que se limitam a engolir de forma acrítica, quando devia ser precisamente o contrário. Daí o primado da tecnocracia e do “economês”.
Há gente que para dizer alguma coisa espera até poder dizer tudo, acabando por não dizer nada.
As pessoas influentes ensinam pelo exemplo e não pelo dogma, porque representam os valores, em vez de os demonstrarem.
A distinção entre velhaco e herói continua a fazer-se menos pela sua ação do que pela sua motivação e isso, quer queiramos, quer não, contribui para a erosão das nossas restrições morais.
É necessário reforçar o consenso moral, sem o qual a função humana perde todo o sentido.
A sinceridade no debate público continua a poder ser medida em “decibéis”. E a verdade está a preço de saldo.
Ensaia-se a quadratura do círculo, tentando cada um representar tantos pontos de vista diferentes quanto possível. O que leva ao grau zero da diferença. E sem diferença, não existe verdade e muito menos democracia autêntica.
Cada um tenta imitar a aparência rococó, complexa, esculpida a golpes de computador, mas superficial, como pedras semipreciosas elaboradamente cortadas.
Os seus discursos são como balões cheios de hélio, feitos para subir e perderem-se no éter, pois colocam sempre pouco em jogo.
Aprenderam com a lei de Sayre: "Em qualquer disputa, a intensidade do sentimento é inversamente proporcional ao valor das questões em jogo".
A mim parecem-me o teatro kabuki. Ou então atores de teatro amador, nunca conseguindo livrar-se do característico papel de vilão shakespeariano.
Falam, e insistem, na necessidade da escolha, mas, para nossa desilusão, não apresentam nada para escolhermos. Nem propostas, nem carisma, e muito menos ideias. Escondem-se atrás do seu putativo charme exposto em cartazes (a)berrantes, que mais não são do que a extensão do seu ego.
Quando as minhas informações mudam, altero as minhas conclusões.
O segredo da independência está em agir independentemente. Uma pessoa pode nem sequer ter como objetivo o êxito. O melhor é seguir a lei da vida e não partir do princípio de que as coisas se saiam bem.
Só quem não faz cálculos é que possui a liberdade que os distingue das pessoas mesquinhas e os torna imunes às vigarices.
Não podemos exigir a perfeição antes da ação. Não podemos querer ser todos iguais.
As pessoas já conseguem distinguir atividade de ação. E preferem sempre a segunda.
A forma do futuro não é automática. O futuro é constituído pela visão, a ousadia e a coragem do presente.
O que o compromete é colocar as conveniências acima dos princípios.