20
Jul06
A questão mínima
João Madureira
É de bom-tom seguir em frente. É tranquilizador olhar em linha recta. É sensacional desfrutar da memória das formigas, do esplendor das motocicletas, do deslumbramento da metafísica e do fascínio dos cactos em flor.
É maravilhoso assistir ao resplandecer dos passeios, à filantropia dos açudes, ao exagero dos discursos dos controladores de tráfego aéreo, à perícia da pesca às enguias ou da caça dos gambozinos.
Depois, quando chove, os pneus dos carros desenham trajectórias ambivalentes e os pássaros voam baixo.
Encostado à janela do meu quarto suspiro por um céu cheio de metáforas.
Lá fora caem penas de cegonha ilustradas por pintores disparatados.
Sento-me numa cadeira antiga e suspiro por tardes imensas de tédio.
Num canto da casa uma imagem mínima concretiza-se em azul.
Mais logo à noite comerei maçãs assadas.
É esta uma outra forma de existir.
Será?