17
Nov06
Bailes
João Madureira
Desde o tempo dos bailes no Pingue-Pongue que não me divertia tanto sem sair quase do lugar.
Lembro-me que nesses tempos a nossa maneira de dançar, independentemente da música, se baseava quase na prosélita postura de não mexer os pés. E por ali andávamos a experimentar a nossa sexualidade envergonhada apertando a menina até ela se queixar.
São momentos tão doces e ternos que me pergunto se verdadeiramente os vivi ou sonhei.
A música era do Santana. Outras havia, mas a dele é que nos dava tesão. O Samba Pa Ti ou o Oye Como Va eram autênticos convites à dança do aperto.
Por vezes até se realizavam outros bailes em quartos escuros ali para as bandas da Rua dos Gatos ou artérias limítrofes. As donzelas ficavam muito vermelhas ainda mesmo antes de entrarem nos exíguos quatros que não aguentavam mais do que três ou quatro pares. Os rapazes espremiam-se muito tentando perscrutar protrusões tímidas, mas ardentes. O resto vinha por acréscimo. E era um acréscimo muito carinhoso: alguns beijos embasbacados, mas saborosos; alguns apalpanços subtis, mas determinados; segredos suspirados, palavras de amor balbuciadas; e outros pormenores não prioritários, mas extremamente deliciosos.
Era tudo pura adrenalina: os olhares, as posturas, o andar, os penteados, as borbulhas, os odores, os sorrisos, os espíritos ardentes.
Eram aquelas tímidas raparigas princesas dos aspectos.
Davam-nos algum prazer e punham-nos a sonhar com algo mais, que, mesmo conjecturado, era uma senda um pouco obscura e pejada de indecisões e insipiências.
A adolescência é o momento mais doce na vida de um ser humano.
É a idade da experimentação. E quem experimenta sempre alcança.
E é aí que entra a dança. Ou o baile.