Inclinações
Eu inclino-me por ti, tu inclinas-te por mim, nós inclinamo-nos como a sombra. Com o mesmo rigor, com a mesma objectividade, com a mesma beleza fria.
De inclinações está o mundo cheio. E de poluição. E de água salgada. E de animais. De muitos animais que não sabem lá muito bem aquilo que andam a fazer. Se é que andam a fazer alguma coisa.
As inclinações são como as sombras. É sempre preciso uma fonte de luz e um objecto opaco que se meta ao meio.
Eu sempre tive uma inclinação por sombras. Por sombras oblíquas e verdades rectas.
O resto é conversa.
Também gosto de conversas inclinadas, de diálogos misturados e de declarações sensatas.
Fora a abstracção, as inclinações são como as fronteiras, linhas imaginárias que delimitam território conquistado ao vizinho.
E o resto é apenas uma inclinação altruísta, tal como a sombra de um castanheiro centenário que se expõe aos anos com muita decência e verticalidade.
E é em demanda de recolhimento que os pardais morrem de frio no Inverno.
Também eles possuem a sua inclinação pelo penar.