O solilóquio libidinoso da digressionista ocasional
Vou filmar este bicho espantoso enclausurado dentro do contentor da camioneta.
Depois da vitória, o encarceramento. Ó desconsolada ironia!
Já filmei o animal a turrar com o seu competidor. Já o filmei a resfolegar. Até já o cinematografei a espumar de irritação.
É um magnífico animal, sem dúvida. Uma autêntica força da natureza. Um cântico à virilidade. E que genitais, meu deus! Que genitais! Que quadris! Que força!
Quando mostrar isto à Mimi de certeza que vai alterar-se copiosamente e sorrir. Ela adora animais potentes. Ela é doida por genitais. Tudo o que sugere virilidade a aproxima da parede. E ela adora ser encostada à parede. Ou estendida no chão. Ou assentada metodicamente numa mesa.
Este toiro bravo faz-me evocar o Manuel. Era ele um autêntico beligerante. Era montês a esgrimir gládios. Era arrojado e destemido. Saracoteava com muito talento a silvestre agitação dos guerreiros.
Agora vou confeccionar um grande plano do frontispício do viril bovino para cinematografar os seus olhos. Olhos serenos. Olhos diligentes.
E que genitais, meu deus! Vou também filmar os chifres. Armadura alta. Arnês apontando o céu. E que genitais, meu deus!
Também tem o dorso bem desenhado, pernas enérgicas e locomoção segura.
E que genitais, meu deus! Que potência! São testículos telúricos. Uma ejaculação deste bichano deve ser como uma trovoada de Verão.
Tem os músculos bem tonificados. E que genitais, meu deus! Nunca pensei que existisse realidade tão magnificente.
A penetração dum bicho destes deve deixar a fêmea em estado de deslumbramento.
Quando se desloca parece dócil. Mas quando investe contra o adversário até o piso tirita. Provoca cútis de galinha e tremores na espinha aos indivíduos alterosos. E que genitais, meu deus! Que genitais!
Genitais destes são um excelso cântico à multiplicação indómita.
E o Manelinho!?
Bem, o Manelinho quando observar estas expressivas imagens vai dar saltinhos de contentamento. Vai emitir gritinhos de luxúria. Vai irradiar vagidos sincréticos e apologéticos.
Mas que genitais, deus meu! Que opulência reprodutora! Que idiossincrasia indomável!
Que estratégia construtiva!
Que genialidade!
Que genitais, meu deus!
Que genes e tais!
Bem alentados os genes.
Bem ocorridos os garanhões informais.
Bem aventurados esses.