O ângulo de Deus
Depois das janelas, a luz, a tua luz combustível, os teus frémitos animais.
Depois da luz, o desejo. O meu desejo, que é igualmente teu.
Depois das mulheres, os homens. E depois dos homens, Deus.
As mulheres.
Os homens.
Deus.
O Deus dos homens. E das mulheres.
Mas é especialmente a luz o que se incendeia nos vidros espelhados das janelas. Das tuas janelas. Dos teus olhos.
São os olhares vulcões activos quando encantados de ânsia.
Tens o desejo dos vulcões prontos a ficarem eruptivos.
Sinto que me acendes quando Deus passeia pela brisa da tarde.
Também as sombras me sugerem a tua luz, lá rente ao chão, onde as lagartixas se aquecem.
As folhas caídas incendeiam-se de aspectos quando estão quase a desaparecer.
Tenho os nervos das folhas impressos na pele. Essas folhas agitadas pelo vento nostálgico de Outono.
Tenho os nervos fixos na água das lágrimas frescas do orvalho quando os teus olhos se expressam na sinuosidade dos filamentos.
Quando o dia principia a descansar nas janelas da casa grande, desço as escadas e vou de encontro ao teu ângulo incendiado.