O desenho das horas
Por favor, desenha-me as horas. As tuas horas. As minhas horas. As horas. Todas as horas.
Desenha-me as horas, por favor!
Desenha-me as horas que levo a chegar até ti. As horas que te não tenho. As horas de espera. As horas de tédio, as horas de riso, as horas de desespero.
Desenha-me o desespero das horas, das horas dos outros que também chegam, que também partem e também esperam. E desesperam.
Desenha-me as horas do início do Mundo. As horas da Criação. As horas de tudo e as horas de nada.
Desenha-me o tempo antes das horas e as horas antes do tempo e as horas depois das horas.
Desenha-me, por favor, o infinito das horas infinitas. As horas da tua vida, do teu tempo. As horas das horas das horas.
Desenha-me as horas frias, as horas arrefecidas pelo gelo e pela neve, as horas molhadas de chuva, de nevoeiro ou de orvalho.
Desenha-me as tuas horas nas minhas horas. Desenha-me as horas todas. Todas as horas.
Desenha-me a passagem das horas, a sua lenta passagem quando cruzam os montes.
Desenha-me a seguir a pressa das horas quando nos amamos.
Desenha-me o passar das horas sobre o teu corpo e sobre o meu. O inexorável passar das horas sobre os nossos corpos.
Por favor, desenha-me as horas livres, as horas de liberdade, as horas libertas, as horas libertadas. As horas todas em que te não vejo.
Desenha-me as horas amargas, as horas de tédio, as horas do crepúsculo. As horas da morte e as horas da vida.
Desenha-me todas as horas do Mundo, o mundo das tuas horas, as horas todas.
Desenha-me as horas, por favor.