A espera
E lá estamos nós à espera. À espera do que há-de vir. À espera de ir, para logo a vir. E à espera de vir, para logo tornar a ir. E lá continuamos à espera. Esperamos uns pelos outros. Eu espero por ti. Tu esperas por mim. Eu espero por ele. E ela por ti. Eu espero descansar depois do trabalho para logo estar pronto para de novo ir trabalhar e de novo poder esperar e pensar
A vida é uma espera permanente. Esperamos por um bom emprego, por uns bons dias de férias, esperamos por obter um trabalho descansado e bem remunerado. E esperamos pelas esperas dos outros. Só que quem espera desespera e nunca alcança.
Estou à vossa espera. Eu que nunca espero, estou à vossa espera sentado num banco de jardim que também espera. Um banco de jardim espera sempre por alguém.
Há várias formas de se esperar: esperar de pé, esperar encostado, esperar de cócoras ou deitado. Mas a melhor forma de esperar é mesmo sentado.
O melhor é esperar sentado. Se espera, espere sentado.
E se não quer esperar vá-se embora, pois aqui só há lugar para quem gosta de esperar.
Só que eu não gosto de esperar como os outros esperam. Eu gosto de esperar como quem não espera. Eu só espero porque a isso sou obrigado. Eu até gostava mais de não esperar. Mas tenho de esperar porque os outros também esperam e se uma pessoa não espera quando os outros esperam não consegue esperar convenientemente. Ora uma espera que não seja conveniente não é uma verdadeira espera.
Esperar é preciso, viver não é preciso.
Há pessoas que passam a vida a esperar e tanto esperam que desesperam. Só que o desespero não é uma boa forma de esperar. Espera-se melhor sentado.
Há longas esperas e esperas curtas. As longas são mais descansadas, mas também mais aborrecidas. As esperas curtas são mais engraçadas.
Hoje esperei que me fartei. Fartei-me de esperar. Mas, por fim, a espera chegou perto de mim e sentou-se no seu justo lugar.
Por isso a minha espera não foi em vão.
Rejubilemos então.