19
Set07
O sonho mortal
João Madureira
Já lá vão alguns anos desde o momento em que me deixei domar pelo sonho de revolucionar a realidade, de a alterar e de lhe querer impregnar uma velocidade de aceleração que nos levasse rapidamente, e em força, até ao paraíso terrestre.
Foi esse o sucedâneo de paraíso que me venderam na infância metodicamente católica e na adolescência genericamente cristã.
Fui empurrado para acreditar que era possível preencher o meu sonho de verdades incontestáveis.
Mas agora apercebo-me que não é possível recriar o passado. Que esse passado está morto.
Mas o mais triste disto tudo é que este presente é uma fraude e que, afinal, não há futuro. A não ser uma sucessão de presentes fraudulentos.
Sei agora que lembrar a revolução que veio em nome de um passado colectivo e risonho, só conseguiu estragar a nossa vida colectiva e a vida de milhões de seres humanos maravilhosos que morreram vítimas de tal sonho.