195 - Pérolas e diamantes: sinais
Foi durante a campanha eleitoral para as eleições europeias que me apercebi de que não existe debate político, nem ideológico, em Portugal. Daí os resultados.
A seriedade não quer nada com a política.
Do lado do PS apenas vemos que continua a hastear a bandeira do Estado Social. O que não é mal nenhum, só que é muito pouco para perspetivar o futuro.
Já o PSD insiste em emagrecer o Estado. Só que o Estado já não tem por onde emagrecer. O Estado é só pele e osso.
Durante os últimos três anos assistiu-se a uma quebra abrupta do nível de vida dos portugueses. O senhor primeiro-ministro convenceu-se, e tentou convencer-nos, que os portugueses teriam apenas de substituir quinze dias de férias nas Baleares por uma semana no Algarve e o bife dia sim, dia não, por uma costeleta de porco aos domingos. Mas a pobreza que emergiu com a austeridade do governo PSD/CDS é muito mais grave e profunda. E até muito mais perigosa, por ser menos visível.
Agora acenam-nos com o fim da crise, porque a troika foi embora. Mas a má notícia é que ficámos com o país de pantanas.
Subiram os impostos, a gasolina, a água, o vinho, a luz, o pão, a sardinha, a febra, o bife, os telefones, as portagens, as rendas de casa, etc.
Apenas uma coisa desceu, e muito, os ordenados. Não tarda nada, o governo, para tapar mais um buraco orçamental, taxará o ar que respiramos e o sol que tomamos ao domingo, quando espreita.
Este governo de má memória parece que tem prazer em aparecer aos olhos dos portugueses carregado de hostilidade, sobretudo para com os pensionistas e os funcionários públicos.
A governação resume-se cada vez mais à arte de “aparecer”. O fazer é o que menos importa. Este governo demonstrou que além de ser constituído por políticos fracos, é um alfobre de “rapazes” incompetentes, produzidos pelas máquinas partidárias ou trazidos dos bancos das universidades privadas e dos grupos económicos.
Quem manda em Portugal já nem sequer são os políticos. São os banqueiros.
O nosso parlamento é cada vez mais entendido como um corpo inútil. E por detrás de toda esta crise do Estado persiste o modo como os partidos políticos se movem entre o poder local e o poder nacional.
São evidentes os sinais de crise do regime democrático. O tráfico de influências e lugares, o nepotismo e a corrupção no interior dos partidos vai corroendo a já pouca confiança que ainda poderão inspirar.
Se a tudo isto juntarmos a crise na justiça, a crise da representação partidária e a subordinação do poder político ao poder económico, ficam desta forma definidos os principais fatores da crise do regime.
A prostituição dos corpos e dos espíritos, a mesquinhez e o salve-se quem puder cresce dia a dia. Basta ler os jornais para disso nos apercebermos.
A fome é grande, os bens escassos e os empregos desaparecem todos os dias. O reino das cunhas mantém-se incólume. Daí resultando a obediência cega, o silêncio temerário e a “gestão individual da carreira”.
As oligarquias partidárias continuam submissas aos grandes interesses, ao tráfico de influências, à corrupção. É normal escutarmos, em relação aos políticos, a expressão: “São todos uns ladrões.”
Infelizmente, os portugueses pouco mais são do que um pano de fundo, em toda esta crise. E os de sempre continuam a jogar o seu jogo simples: manobrando quem tem poder ou quem poderá vir a tê-lo, quem ganha poder hoje para ser apoiado amanhã, quem sobe e quem desce, quem come e quem é comido.
Por isso é que o povo continua a votar em autarcas demagogos e naqueles que numa dezena de anos endividaram as câmaras até ao limiar da bancarrota.
E o mais triste de tudo é que o patriotismo dos portugueses se resume apenas ao futebol.