Outra vez o Natal
Agora que está a chegar o Natal, aflige-me a insensatez de Fátima, daqueles monumentos enormes de betão e vidro feitos segundo o conceito de que o que é grande e dá nas vistas é o que aproxima o Homem de Deus.
Miguel Torga relata que uma rapariguinha chegou ao pé de si transtornada depois de visitar Fátima. Vinha deslumbrada com a multidão, com o espectáculo, com o lugar. Dizia que era isso o que lhe indicava o sobrenatural e o divino. Isto em Abril de 1947.
O escritor transmontano contou-lhe então que essa emoção se podia sentir em Roma; na emoção provocada pelas catacumbas, onde tinham vivido os Cristãos; no Coliseu, onde tinham lutado os gladiadores com as feras; e o Arco do Triunfo onde tinham passado tiranos.
“- Concebo a sua fé, e respeito-a – acrescentei. – Mas para que qualquer fique carregado de uma electricidade emotiva, não é preciso que Deus ou a sua mãe venham cá abaixo. O homem é muito capaz de uma façanha destas. Basta que um pastor ou um bispo se resolvam a criar um mito. Então, as pedras transformam-se em altares, e uma manjedoira no berço mágico de um redentor.”
A cristandade abandonou o milagre da exaltação do menino Jesus pobre, mas redentor, e em seu lugar colocou uma Nossa Senhora branca por fora e por dentro, coroada de ouro, benzedora de medalhas, salvadora de Papas e aglutinadora de multidões sôfregas do milagre da multiplicação do dinheiro.