O casario tem a beleza geométrica das coisas construídas com cuidado.
Tem bonitas janelas, portas bem debruadas, conceitos estéticos muito coerentes.
Vê-se que por detrás houve um desígnio harmonioso.
Lembramo-nos bem de por aqui namorar deambulando pela brisa da tarde.
Lembramo-nos bem de correr por aqui para irmos tomar banho ao Tâmega.
Em grupos discutíamos música, literatura, meninas e apontamentos de estudo.
Olhávamos longe a definição insistente do futuro.
Não queríamos o futuro.
Só sonhávamos em não perder o presente.
E por vezes o presente era um deslumbramento perseguidor em forma de rapariga fantasista e apetecível.
O cinema punha-nos malucos.
E isto foi antes da política, que veio distorcer-nos a compreensão da realidade.
A revolução era um filme estrábico que nos deixou desavindos.
Agora que a calma nos acalma, voltamos a sonhar com tardes passeando pela brisa da memória.