Está esta porta fechada.
Que importa que a porta já não se importe?
Será que as pessoas também já não se importam com a porta?
Estarão também as pessoas fechadas?
Mas as pessoas não são portas.
E isso que importa?

As folhas deslizam nas águas tranquilas do rio subestimando as margens.
Depois encostam-se distraídas a observar o céu.
Por baixo delas os peixes interrogam-se para que servirão as folhas secas dos plátanos que atrapalham a visão periférica dos insectos.

Antigamente os cães deambulavam por Chaves em busca de alimento.
Havia muitos cachorros, muitas pessoas e pouca comida.
Alguns, mais fidalgos, andavam a passear tendo em vista copular com um cadela que se pusesse a jeito.
Os homens, esses, faziam quase o mesmo.
Hoje os homens e as mulheres passeiam os seus cães devidamente atrelados, limpos e obesos. Por vezes é tão obeso o cão como o dono. Ou vice-versa.
Mas não há digressão canina que não implique micção ou defecção.
Por isso os passeios, as praças e os jardins, que são lindos e ficam caros, muitas vezes parecem-se mais com latrinas.
Há na nossa sociedade de “bem-estar” qualquer coisa que se assemelha com um novo-riquismo serôdio e frívolo que, a seu tempo, vai ter de desembocar em empobrecimento.