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Mai06
Malmequeres
João Madureira
Fiquei contente por ver o Miguel a desfolhar um malmequer.
Mal-me-quer, bem-me-quer, murmurava ele debicando pétala a pétala a flor pendurada na lapela do casaco, enquanto os olhos lhe brilhavam como duas estrelas numa noite muito escura.
Penso que está apaixonado pela sua colega da turma B.
Ela chama-se Maria João, que é um bonito nome, bem diferente das Vanessas, das Soraias, ou Sabrinas, ou outros que por aí aparecem e nos vão transfigurando em varões solitários com dificuldade em pronunciar nomes esquisitos e infecundos.
Pelo meio das pétalas, o Miguel lê poemas de amor e ouve música romântica. Depois sorri novamente e vai à procura de um novo malmequer para desfolhar.
Anda azougado o Miguel.
Por vezes até entoa música dos velhos Beatles.
Anda tonto o rapaz, com aquele brilhozinho nos olhos e os malmequeres no bolso do casaco.
Até se penteia à moda antiga, com risca ao lado e brilhantina no cabelo castanho.
Anda risonho e azougado o marialva.
Fico contente por ele.
Fico satisfeito como ele.