Hoje instalou-se o caos na cabeça do patriarca. Bem, não propriamente o caos, foi mais a desordem, que, parecendo a mesma coisa, é coisa bem distinta. No caos existe uma espécie de ordem, na desordem não existe caos, apenas existe incoerência, que, não sendo definidora de comportamentos, é, contudo, disciplinadora de atitudes.
E foi por aí que a desordem penetrou. E foi por aí que o patriarca se resguardou do caos e deixou entrar a desordem.
Mas nem o caos se impôs o que não era mau de todo , nem a desordem se instalou na cabeça caótica do patriarca.
Colérico, o patriarca excomungou a desordem e amaldiçoou o caos. Mas de nada lhe valeu. Na confusão, o patriarca chorou e sentou-se junto ao penhasco da encruzilhada. Sentiu, pela primeira vez na vida, que nada do que impôs vale a pena ser imposto, que nada do que perseverou vale a pena ser recordado, que nada do que ensinou merece a pena ser ensinado. E por isso chorou de novo junto à fonte da sua quinta.
Agora o patriarca descansa deitado numa cama de fetos, longe dos afectos, distante dos olhares, afastado dos carinhos.
Já não há ordem que lhe valha, nem préstimo que o console, ou sorriso que o acolha. Agora o fim está à vista e ele sonha em ainda poder amar por um minuto uma flor espontânea. Mas o caos não deixa. Por isso não tem paz de espírito, nem afectos onde se encostar.
O patriarca não pode acariciar a sua cara porque não a identifica.
De si só reconhece a voz com que sempre deu ordens.
Se tivesse distribuído um pouco de caos talvez lhe fosse permitido a paixão do simples.
O caos não gosta do patriarca. Nunca gostou.
Mas o patriarca vai morrer no meio dele.
É esse o seu destino.