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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

20
Set06

Indefinitivamente

João Madureira
2004_1101feirasantos70007.JPG
Não sei que tenho porque cada vez olho mais e vejo menos.
Sei que não é a aparência o essencial.
Mas têm os espelhos a faculdade de nos devolver a imagem.
Por vezes olho-me nos olhos e só vejo tristeza. Uma tristeza diáfana e profunda. Uma tristeza inconformada. Autêntica. E uma tristeza autêntica custa a aguentar.
Também é autêntica a indiferença que sinto pelo mundo. Não quer dizer que o mundo me seja indiferente. A sua indiferença é que me deixa indiferente.
Já não procuro o que sei que vou encontrar.
A vida, quase sempre, é um desencontro. Uma apologia da competição. Uma tarefa ingrata, como ingrata é a morte que nos leva quando começamos a aprender a viver.
Torna-se o Homem sábio e, quando está preparado para viver com sabedoria, morre.
Por isso só a morte é definitiva.
E como sabemos que todos vamos morrer, torna-se a vida um espelho irrisório.
19
Set06

O louco e a tartaruga

João Madureira
2004_0730santoamaro29julho040035.JPG
Na minha rua há um louco que não parece nada louco. Só que é louco. Mas não se pode assegurar qual é a sua loucura. Todos sabemos bem que ele é louco, mas ninguém sabe de ciência certa quando é que assim ficou. Para dizer a verdade, nós, os seus vizinhos, nem sequer sabemos bem quem ele é. Só sabemos que é louco. E é o próprio quem o declara quando se põe a gritar à janela do seu quarto, principalmente nas noites de Verão. Ele diz que é louco. E tem mesmo ar de louco, e olhar de louco, e andar de louco e fama de louco. Por isso é louco. Tem de ser louco. Se não fosse louco não dizia que era louco nem se comportava como tal. Sai todos os dias para o trabalho vestido a rigor, transporta sempre uma pasta de cabedal e pela trela leva uma tartaruga das grandes. Sai pela madrugada de casa. Não é que comece a trabalhar cedo nem o seu local de trabalho diste muito da sua residência. O que lhe leva muito tempo é a viagem com a tartaruga. Mas ele não se desfaz dela, nem a puxa com força, nem lhe ralha, e muito menos lhe bate. Muito pelo contrário, tem-lhe muito carinho e dedica-lhe uma atenção deveras especial. A tartaruga também lho retribui. Não faz barulho nenhum, não morde as pessoas, não cheira mal, não protesta, nem lhe dá muito trabalho.
Mas, ao contrário do seu dono, a tartaruga é normal. Não ostenta o ar esgazeado do seu proprietário. Revela, até, uma aparência muito natural. Parece mesmo aquilo que é: uma tartaruga comum. É tão normal que passa dias inteiros a ver televisão. Mas televisão generalista. As outras assustam-na com os programas científicos, ou culturais, ou informativos. Ela adora telenovelas e filmes de acção. Também não desdenha de se entreter a ver jogos de futebol, especialmente os do campeonato português. Os dos outros fazem-lhe prejuízo. Um dia o louco, porque detesta futebol, especialmente o nosso, tentou, por três vezes, mostra-lhe jogos do futebol inglês, só que a pobre criatura marinha ficou tão agitada com a diferença de movimento que tentou subir para as costas do patrão e, no intento, desequilibrou-se, caiu e ficou de pernas para o ar, o que, na sua espécie, significa morte certa, dado que as tartarugas não se conseguem virar, morrendo por isso à fome e à sede.
Tão amedrontada ficou que agora só vê televisão no seu quarto e não permite que nessas alturas o louco se aproxime do aparelho.
Para gáudio do celerado, o bicho aprendeu a cantar modas alentejanas e, nas noites de Primavera, quando as macieiras se enchem de flores, entoa aqueles cantares lentos e monocórdicos com muito sentido e oportunidade.
Por isso é o animal do louco um bicho de estimação muito considerado na vizinhança e querido pelas crianças e velhinhos do bairro.
Um grupo de senhoras muito devotas e dadas às coisas da igreja está mesmo a pensar apresentar queixa à sociedade protectora dos animais com a intenção de o libertar do louco e levá-lo para uma instituição de caridade, considerando mesmo a hipótese de o integrar no coro que canta nas missas, pois, na sua opinião avalizada, quem canta canções alentejanas com tanta propriedade, melhor entoará lindas canções de júbilo cristão.
18
Set06

Fricção Científica

João Madureira
2004_0714chaves-noite-julho140005.JPG

Fecha-se uma escola.
Aluga-se uma casa.
Aluga-se uma rua.
Aluga-se um bairro.
Aluga-se uma aldeia.
Aluga-se uma freguesia.
Aluga-se uma vila.
Aluga-se uma cidade.
Aluga-se um concelho.
Aluga-se um distrito.
Aluga-se uma província.
Aluga-se uma região.
Aluga-se um governo.
Empresta-se um presidente.
Vende-se um parlamento.
Dá-se um país.
17
Set06

Noé aceitável

João Madureira
2004_0714chaves-noite-julho140006.JPG
Não é minimamente aceitável que se faça pouco da inteligência das galinhas garnizés.
Não sendo tão grandes como as outras, são mais aguerridas, mais carinhosas com os pintainhos, mais defensoras do seu território, mais independentes dos galos, mais poedeiras, mais mexidas, decididas e guerreiras.
Sabem adivinhar os eclipses da Lua e o vento Norte.
Eu conheço uma que dança de roda quando houve música do Marco Paulo, que salta quando vê um padre e que cacareja ao contrário quando avista uma bruxa das más.
Também adivinha os dias de trovoada e as noites de geada negra.
É tão atenta e perspicaz que descobre um mentiroso pelo sorriso, um caloteiro pela maneira como se senta e um político invejoso pela grafia.
Tem esta galinha garnizé o condão de se rir nos dias santos, sem que ninguém lho sugira. É também muito piedosa, muito tolerante com os outros e, sobretudo, sobe e desce escadas com uma pata só.
Gosta muito de passear de carro, sobretudo de descer a Rua de Santo António aos domingos, especialmente quando as pessoas saem da missa.
Nas noites de natal canta lindas canções que ouve na televisão.
Chegou a assistir a uma missa do galo e cacarejou com tanta ventura que a vaquinha e o burrinho choraram lágrimas verdadeiras e até o menino Jesus do presépio se sorriu. O que também é um milagre e, mesmo que pareça trivial, cai muito bem numa noite de consoada que é a festa da família onde os animais têm o mais honroso papel.
16
Set06

Os bagos do dia

João Madureira
2004_0711ficojulho2004-c0001.JPG
Ainda me lembro, com saudade, das vindimas da minha infância.
Eu pouco vindimava. Limitava-me a olhar. Fixava as imagens dos adultos a cortar os cachos de uvas com tesouras ou navalhas, ou deslumbrava-me com a cor do sol filtrada pelos bagos pintados parecendo colares de fantasia como os que saíam nas rifas ou nas barracas de tiro na Feira dos Santos. Por ali andavam muitas crianças que debicavam as uvas maduras, na companhia dos cães que também aproveitavam e comiam os bagos doces que caíam na terra. Depois as uvas eram transportadas em cestas pequenas para os grandes cestos de vime que aguardavam serem cheios durante o dia. Enquanto o trabalho se desenrolava, as mulheres cantavam e os homens assobiavam modinhas tradicionais. A meio do trabalho comia-se, preferencialmente iscas de bacalhau com pão e bebia-se vinho tinto. E muito.
Depois da vindima enfiava-me no meio dos cestos grandes de vime que estavam encaixados nos carros de bois e voltava para casa sujo de poeira e do sumo das uvas que se esmagavam contra a roupa ou escorriam das mãos dos adultos os pelas frinchas dos cestos.
A vindima sempre foi um trabalho que as pessoas faziam com satisfação, com calma, alegria e alguma perícia.
15
Set06

Poder

João Madureira
2004_0918chavestarde0086.JPG
Ai se eu pudesse.
Mas agora já não se pode como se podia.
Mas se pudesse outro galo cantaria.
Agora não sei bem se queria.
Se pudesse fazia o que queria.
Se pudesse podia.
Se não pudesse, fugia.
Se fugisse fugia.
Mesmo não querendo.
Mas se quisesse queria e não fugia.
Agora já não se foge como se fugia.
Mas se eu fugisse, fugia. Mesmo não querendo, queria. Mesmo não podendo, podia.
Mesmo não sendo, ia. Mesmo não indo, fugia.
Mesmo não fugindo, sorria.
Ai se eu pudesse.
Se eu pudesse, podia.
E ia.
E não fugia.
E sorria. E queria. E fazia.
Ai se eu pudesse.
E se se pudesse como se podia, outro galo cantaria.
Ai se se pudesse como soía.
Eu ia, eu ia, eu ia.
Mesmo se não pudesse.
Mesmo se não fugisse.
Mesmo se não comesse.
Se eu fosse, sorria.
Se eu fosse, ia.
14
Set06

Suicídios voluntários

João Madureira
2004_0816quarteiracoimbra0158.JPG
Escrevo-te de C para dizer que continuo a gastar as minhas economias numa tentativa serôdia de aproveitar o tempo que perdi pensando que o ganhava.
Para te dizer a verdade, nunca me senti tão só. E olha que por aqui as pessoas surgem de todos os lados, como a erva ruim.
Quem anda daninho sou eu que, por causa das ausências premeditadas, apanhei uma depressão regular que me traz dubitativo e atarantado.
Agora só como malignidade e bebo veneno. E olha que compro estes produtos nos centros comerciais. São venenos que matam aos poucos, mas não falham o seu objectivo.
Engordei cerca de cinco quilos. E de repente. O veneno contaria o provérbio. Este, porque engorda, mata. Agora só como hambúrgueres com mostarda e batatas fritas que sabem a plástico derretido. Por cima bebo uma cola. Depois engulo um sorvete.
Por vezes vingo-me nas pizas e nos refrigerantes. O meu colesterol está no máximo e tenho os outros níveis todos alterados. Vai-não-vai, rebento.
Escrevo-te esta mensagem num guardanapo porque essa atitude faz parte da minha nova faceta de escritor deprimido e sabujo. Qualquer dia ainda me vão reconhecer alguma subtileza.
Despeço-me já porque agora namoro com uma senhora que mais parece um pipo. Foi tal donzela quem me converteu à prática do suicídio gastronómico. Apesar de gorda, é muito simpática e até se comporta bem na cama. Tem uma agilidade construída muito aceitável. Também gosta de andar de barco no rio. Eu é que tento distraí-la desse seu propósito. É que com o nosso peso somado, a pequena embarcação, a todo o momento, ameaça naufragar. E, apesar de me andar a suicidar, não pretendo acabar os meus dias no meio de barbos e bogas. Além disso a asfixia provoca-me calafrios.
Ela já ali vem toda sorrisos. Apesar de tudo, é uma visão simpática. É enorme. Agora deu-me para os excessos. Mas sinto-me bem. Especialmente depois de tomar uns estimulantes marotos que um seu amigo me arranjou. O problema reside nos efeitos secundários. Depois da euforia sobrevém a ressaca.
Mas, enquanto o efeito dura, o melhor é aproveitá-lo.

PS – Por favor não te esqueças de alimentar convenientemente a piranha.
13
Set06

Alma

João Madureira
2004_0905chavesaguasetembro0003.JPG
Isto é tudo um jogo de espelhos.
E eu gosto de espelhos, daqueles que me trazem o mundo de uma forma diferente.
O mundo ao espelho é o oposto do mundo real.
Por isso gosto de espelhos.
Gosto dos espelhos que me traduzem os sentidos, que me levam a ver aquilo que não vejo, mas sinto.
E sentir, nos dias de hoje, parece uma heresia. Hoje já ninguém sente nada. Ou diz que não sente.
Ou melhor dito, sinto que não gosto de espelhos. Gosto mais de ver o teu rosto espontâneo, como sendo uma combustão de desejos, como expressando uma combinação de ternuras, como induzindo uma invocação de expressões.
Um espelho não consegue reflectir a alma. E é a alma aquilo que nos distingue dos reflectidos. Que só existem porque são o reflexo de outros que se limitam a reflecti-los. Isto tudo em sucessões infinitas de tédio. Em sessões intermináveis de displicência. Em sequências ininterruptas de devassidão.
Ao espelho não te vejo.
No escuro espelho-te.
Na luz desejo-te.
No infinito amo-te.
Tu és o meu espelho porque não me reflectes. Tu és o meu espelho porque quando olho para ti só te vejo a ti.
Isto é tudo um jogo de espelhos…
sem espelhos, porque só assim é jogo.
12
Set06

Nem sim nem não

João Madureira
alj.mad.JPG
Já lá vão muitos anos.
Os anos são como as nozes.
As nozes são boas para comer.
Antigamente comiam-se as nozes com um copo de aguardente misturada com açúcar.
Logo de manhã.
Logo de manhã o trabalho tomava conta da rotina.
Depois era andar de rotina em rotina até cair exausto na cama com colchão de palha.
Dormia-se mal naquelas camas.
Acordava-se muito cedo.
E acordava-se com muita fome e pouco que comer.
Eram tempos fleumáticos.
No entanto as serras eram iguais ao que hoje são. As mesmas curvas, as mesmas cores, as mesmas pedras, a mesma terra, o mesmo ar.
Agora as pessoas são muito diferentes.
São mais esquecidas e pretensiosas. São mais do ter do que do ser.
São e não são. Estão e não estão. Tiram e não dão. E quando vão são e não dão, andam e não são e não comem logo o salmão. Também jantam e não estão, fogem e não são, e dormem sobre a mão. Nem estão nem são. Quando vão, olham e não estão, colhem e não são. E quando são não são os que olham quando não estão nem os que vêem quando fecham propositadamente a mão dos que são e não são. E todos estão e apertam cada um a sua mão que ajuda a comer o pão com queijo e salmão. Isto apesar de todos gostarem de presunto com melão.
Atenção ao portão, que se encosta ao desvão e nem diz sim nem não.
Ali ao lado, a São diz não ao salmão e deita fora o último tostão.
Ai dos que batem no cão.
Dlim, dlão, dlim, dlão.
11
Set06

João Madureira
2004_0606Chavesdiversos0035.JPG
Quando o vento ligeiro se atravessa no meu campo de acção provoca-me, momentaneamente, um desequilíbrio.
É esse o desequilíbrio da tensão. Da tensão que se nos coloca no momento de decidir. E quem decide nunca deve vacilar.
Só vacilam os fracos, dizem os fortes. Só decidem os fortes, replicam os fracos. Só os fortes são fracos, escrevem os filósofos. Só os fracos são fortes, escrevem os psicologistas. Só os parvos são filósofos, deduzem os psiquiatras. Só os complexados são psicólogos, afirmam os loucos. Só os loucos o não são, explicam os poetas. Só os poetas são políticos, pronunciam os tecnocratas. Só os tecnocratas são de ferro, dizem as assistentes sociais.
Só. Ó. Ó. Só.
Só.Ó.Ó.
Só.Ó.
Só.
Ó.

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