O destino das águas
Encerram as tuas palavras lindos conceitos.
Também elas possuem metáforas de águas tranquilas, sombras harmoniosas de azul, amarelos calmos, reflexos doirados.
Encerram as tuas mãos gestos meigos e expressivos. São singelas as suas iluminações crepusculares.
Já fui assim. Lembro-me bem disso. De ser assim. Lembro-me bem dessa ventura.
Corriam calmos os dias e as manhãs nasciam doces e iluminadas. As nossas manhãs.
Nessa claridade todas as manhãs do mundo eram calmas. Como calmos eram os teus beijos florescentes. Como calmo era o prazer de ciciar de prazer.
A alegria iniciava o seu vórtice linear quando os pássaros voavam em direcções loucas excitados pelas titilações amplas dos ventos ascendentes.
Eram curvas as germinações das árvores excitadas.
Eram curvos os teus seios ardentes.
Eram curvos ou teus gestos.
Nem mesmo quando a noite chegava os nossos olhos deixavam de estar repletos de luz. Cintilavam as palavras na nossa frente enquanto descíamos a avenida.
Há dias assim, cheios de doces memórias.
Também há dias em que as águas do rio correm tranquilas em direcção ao mar.
Têm as águas esse propósito: o destino seminal de desaguar.
E cumprem-no.