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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

30
Abr08

Auto-retrato emprestado

João Madureira

 

No “Pássaro Espectador”, Wallace Stegner, pôs o seu personagem principal, um agente literário reformado, a fazer o auto-retrato: “Jovem, de meia-idade ou a envelhecer, o Joe Allston sempre esteve farto de si mesmo, incerto, consternado, insatisfeito com a sua vida, o seu país, a sua civilização, a sua profissão e consigo mesmo. Sempre se perseguiu a si próprio por sítios onde nunca esteve, tentou sempre enfiar uma agulha numa linha desfiada em ambas as pontas”.

Por vezes é doloroso vermo-nos ao espelho. Raios partam a literatura, esta fome inconsolável de leitura, esta irrisória inquietação da escrita.

 

29
Abr08

Oração ao Homem

João Madureira

 

Passadas algumas dezenas de anos após o 25 de Abril e algumas centenas de anos sobre as perseguições e assassinatos religiosos levados a cabo pela Inquisição Católica, o grau de intolerância e incompreensão cega pelos que vivem à margem da igreja, mesmo que disfarçada e mitigada pelos sorrisos alarves dos néscios e pela indiferença epistolar dos beatos, não é negligenciável nem apela ao silêncio.

Mesmo nascidos e criados em ambientes familiares católicos, polidos pela doutrina, convivendo à mesma mesa com toda a carga de rituais que nos arrastam para a exclusividade da arte sacra e do calendário religioso, rodeados de amigos praticantes ou imitadores por inércia cultural, a viver a semana em horário exclusivamente religioso, onde os sinos tocam o Ave e os relógios dão horas em murmúrios de terço, sobe por nós acima - àqueles que ainda demonstram certa rebeldia -, um sentimento de recusa perante as historietas inocentes da explicação dos anjos e os santos, quando não dos pombos, que tanto podem ser o Espírito Santo, como Deus, como o seu filho que morreu na Cruz desculpando os homens mas culpando o Pai.

Todos sabemos que a senda dos que se arredam dessa orientação espiritual não é fácil. Mas é muito mais humano cada um confessar os seus pecados aos que ama, do que a desconhecidos que mais não possuem do que má consciência da raça humana e por isso a querem redimir de viver e condená-la ao pecado e ao arrependimento, ao arrependimento e ao pecado, até a consumação dos tempos.

Há os que sabendo-se irremediavelmente mortos, querem nesta vida desmistificar os mistérios da ignorância e do medo, enquanto outros se refugiam na eternidade duma alma pesada e tristonha e na ressurreição de um corpo velho e doente.

Alguém definiu que os homens livres, os mortais, são obrigados nesta vida a desatar o nó dos mistérios e a revelarem o heroísmo de amar o absoluto no relativo

Mas o que mais dói é que esta posição humana, baseada no desamparo, mas também na coragem, em vez de provocar o respeito discreto dos crentes, gera entre a turba a inquietação apostólica e o rancor fariseu.

Tenho a impressão que há por aí muito católico que, encostado à ladainha dos padres, tem saudade dos bons velhos tempos em que nas mesas fartas e cheias da Santa Inquisição se faziam auto-de-fé enquanto se comia e bebia à tripa forra.

Hoje, como sempre, não é o andar com a cruz de oiro ao peito que faz com que um ser humano se torne bom, humilde e tolerante. Em vez de um símbolo de paz e amizade, a Cruz torna a ser um apelo à intolerância.

A cristandade não quer melhorar o seu semelhante, antes pretende separá-lo da razão para melhor o subjugar.

 

28
Abr08

Chuva gaga

João Madureira

 

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27
Abr08

O Pai e a crucificação

João Madureira

 

Wallace Stegner, no seu interessantíssimo livro “O Pássaro Espectador”, tem uma frase arrepiante, que penso definir toda a erudição humana: “A crucificação pode ser discutida do ponto de vista filosófico até nos começarem a pregar pregos”.

Penso que Cristo, quando o seu Pai lhe anunciou o Cálice, teve exactamente essa reacção. Mas Deus é, além de outras coisas, magnânime. E os homens são pequeníssimos seres pecadores.

Cristo ainda deve estar a pensar com as suas chagas se o sacrifício valeu realmente a pena.

 

26
Abr08

Uma e outra coisa

João Madureira

 

Não se iludam os patetas, uma coisa é examinar a nossa vida, outra bem diferente é escrever sobre ela.

Já agora posso adiantar que escrever sobre a nossa vida implica considerar se verdadeiramente vale a pena fazê-lo.

 

25
Abr08

Eu que sempre…

João Madureira

 

Eu que sempre me pensei rude e agressivo como uma carriça, pois até tenho uma risca branca na cabeça, além de andar sempre atarefado, vejo-me agora a admirar os pardais nas suas andanças à volta, sem ligar a horários ou a tarefas, brincando com as folhas, saltitando de um lado para o outro, ou jogando às escondidas nos troncos dos carvalhos. Enfim, divertindo-se.

Mas, no fundo, talvez seja este tipo de meditação, agora que cumpri os cinquenta anos de idade, que me mantém satisfeito e completo.

 

24
Abr08

Não percebo nada

João Madureira

 

Não percebo nada de pássaros. Morreram-me dois na gaiola. Foram os únicos que tive. E morreram devido ao meu descuido. Eu que era tão cuidadoso. Mas, tenho de confessar, também sou muito distraído.

Agora não consigo olhar sem indignação para uma gaiola com pássaros a chilrear lá dentro. A indignação é, sobretudo, para comigo.

Mais à frente aprendi com os livros a amar as cotovias. As cotovias, diz o povo, nascem durante a aurora. Eu nasci durante a aurora. Mesmo que não seja verdade, eu nasci durante a aurora como as cotovias. Não sei é se voo tão bem e tão alto.

 

23
Abr08

Celebremos

João Madureira

 

Sempre me surpreendeu, mais pela tristeza e desencanto, do que por outra coisa qualquer, que lá na capital macrocéfala do nosso imperiozinho sebastianino de penedos e planícies incongruentes, se julguem civilizados porque fazem alarde dos uísques que bebem e dos passos de dança que “simiescamente” desenham pelas pistas que despejam luzes, quando não fumos do inferno. Metem pena os que se passeiam pelo Bairro Alto julgando-se a elite dos portugueses. O seu desregramento, que pensam fruto de alguma dúvida existencial, mais não é do que a exaltação da mediocridade e da futilidade mais bacoca e vazia. Fumam charros, ingerem estimulantes e bebem como se amanhã fosse o fim do mundo. Eles vivem esses momentos como o cúmulo da felicidade. Mas o seu mundo de toupeiras noctívagas, ou de peregrinos de hipermercados, é a mais ousada das inutilidades modernas.

22
Abr08

Furtivos e desconfiados

João Madureira

 

Há-os por aí aos pares. Mal deixaram o ofício e subiram alguns degraus na escala social, ficaram mais corrompidos que os tecidos atacados pela traça. A sua simplicidade aparente desabou de repente em singela ostentação de dinheiro e carros. Agora disfarçam a inutilidade debaixo de fatos azuis bem engomados e de cabeleiras pardacentas, que dizem ser fruto do desgastante desempenho das suas grandes missões para as quais foram ungidos pelos seus. Tornaram-se naquilo que detestavam. São agora furtivos, desconfiados. Baseiam a sua conduta na conveniência social dos seus superiores, apenas papagueado o que os outros pretendem ouvir. Defensores intransigentes do diálogo, agora só guardam lugar para o monólogo. Entre o povo exprimem-se por interjeições vociferantes. Espreitam os outros por detrás da sua conveniência egoísta. Regozijam-se com os fracassos alheios, defendendo-se com a sua complacência cívica. Dizem-se responsáveis, mas são apenas antiliberais colaborantes, sem ideias e sentimentos nobres, porque os trocaram por rogações e ladainhas. Se não fossem seres irrisórios, mereciam ser vexados em público.

Apesar de engordarem a conta bancária, esvaziam a sua consciência, que outrora foi livre.

 

21
Abr08

Ping-ping-ping…pang

João Madureira

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