A profecia das searas
Há algo de profético nas searas, onde os cereais das extremas amadurecem sempre primeiro.
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Há algo de profético nas searas, onde os cereais das extremas amadurecem sempre primeiro.
Há algo de intolerante nos estudiosos do passado. Afinal os livros não são toda a História, nem a memória humana consegue abarcá-la.
Não existe a História. Existem histórias.
A felicidade não existe em ração, apenas é visível nas partículas, grão a grão. E nunca satisfaz o apetite de ninguém. É mais como a rega gota a gota alimentando a árvore em doses ínfimas de rigor e paciência.
A felicidade é um tempo de infância, um tempo de cigarras.
Depois o açúcar dessa época derrete-se como neve ao sol e a infância dá lugar ao período seguinte, que é o tempo de formigas.
O tempo da infância é estouvado, deslumbrante, despreocupado. Lembro-me dos animais a pastarem nos lameiros mesmo junto ao rio. Calmos, despreocupados. Tal e qual a minha infância. Lembro-me dos pastores a levarem os seus rebanhos para o monte. Assobiavam os pastores. E, por vezes, cantavam. À noitinha regressavam às suas casas a cantarem e a assobiarem. Tal e qual a minha infância, que gastava muito de assobiar pelos montes em busca do eco. A infância é um eco. E poeira. Poeira filtrada pelo sol. A poeira dos cavalos a trotar a caminho do S. Caetano. Atrás deles trotavam os sorrisos tolos das mães, inebriadas com o balbuciar terno dos seus filhos. Lá, no meio do centeio, a minha infância brincava às escondidas, dava saltos inesperados, como gafanhotos tolos.
E na noite azul-clara os meus olhos mergulhavam na frescura das ervas dos caminhos e no silêncio da serra.
Hoje vim para casa a pensar no que um amigo meu me disse com a verdadeira indignidade de um transmontano.
- Cada vez temos menos responsabilidade nas decisões que os políticos de Lisboa, ou Bruxelas, tomam em nosso nome, dizendo que são para nosso bem. Agora já não temos controlo sobre nada. Não tomamos decisões. Limitamo-nos a fazer o que nos mandam. Apenas vivemos de acordo com as regras escritas lá bem longe por gente que nada sabe sobre a nossa terra.
Então pensei que isso é o que acontece já um pouco por todo a parte. Só que não lho disse para não o arreliar ainda mais. Nós podemos viver com evidências. Com uma verdade. Mas quando ultrapassamos esse limite, temos tendência a tornarmo-nos irascíveis e incorrectos.
As sociedades hodiernas têm uma característica singular: no seu ímpeto massificador, tudo arrastam com as suas correntes simplificadoras.
Eu fico à margem.
Não sei se é isso que quero, mas também sei que a História não é rectilínea. Acredito mais nas dúvidas ziguezagueantes, do que nas verdades inflexíveis.
A esperança nasce da dúvida, não das certezas. Por isso gosto de variar. Sei, porque mais uma vez a História me ensinou, que mesmo as mais bizarras posições políticas, morais, intelectuais e religiosas, conseguem ter os seus seguidores. E por vezes até triunfam.
Após a glória efémera, alguns passaram logo para o museu de cera das monstruosidades cândidas. Enquanto profetas, iludiram. Quando aplicaram os seus desvarios despenharam-se na sua banalidade cruel.
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À medida que o PS avança na rotina governativa do país, fica à vista a alma da actual direcção socialista – se é que ainda se pode designar assim o partido de José Sócrates: uma alma determinada no espírito da ambiguidade, fundamentada na purga ideológica das suas origens sociais-democratas e na eliminação da consciência social dos seus militantes, e noutra bem mais importante, que é a sua base social de apoio, alicerçada ainda na sinuosidade do controle individual da liberdade de expressão e das empresas mais importantes, de que é sinal evidente a colocação de peças chave nos órgãos de informação ou nas empresas mistas tuteladas pelo Estado, ou dele dependentes, desaguando tudo num aparelhismo serôdio e interesseiro.
Mais do que espírito, a alma do PS é hoje um exercício mimético de subserviência indistinta. Mesmo com os apelos parolos de alguma sensualidade caseira evidente nos liftings, nos penteados, nas roupas e nas poses dos seus deputados (deputadas?), a sua conduta é mais do lado da licenciosidade moral.
Por isso a sociedade portuguesa jornadeia por caminhos sinuosos de reformas e contra-reformas, com distâncias tão curtas como trimestres.
Num futuro próximo vamos ser catapultados para a modernidade liberal, ou, no dizer dos espíritos críticos, para o abismo.
É esta a coragem dos obstinados ou a estupidez dos cândidos.
O mal da escrita – o mal de Montano – é que o tempo acende a consciência dos nossos limites. E é triste viver com a angústia de que o que se fez, e do que se fará, nos satisfaz. E à medida que a desilusão avança, com ela avança também a dessincronização com quase tudo o que nos rodeia: pessoas e coisas. Em tais ocasiões uma palavra, mesmo que amiga, agride-me e fico com a sensação de que a vida é um absurdo.
Não consigo entender os outros. E muito menos me faço entender por eles.
A nossa memória é um pouco perversa, desde logo porque regista sobretudo as nossas horas de vida mais atrevida, ou trágica, ligadas à coragem, à revolta ou à imaginação.
Aos momentos neutros esquece-os, como se o sossego, a calma e o descanso, não tivessem direito a registo.
A nossa memória parece que foi criada para registar a desgraça e esquecer a felicidade. Por isso é que alguém escreveu com sabedoria que “tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Talvez a condição humana seja feita para os silêncios dilacerantes.
Dizem-me cínico. Só que o cinismo não dá garantias de nada. O cinismo está sempre presente um pouco além da verdade e aquém da felicidade.
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