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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

21
Out08

A morte inspirasse…

João Madureira

 

Eras quase menina quando a ânsia das árvores te aceitou no seu templo. Houve nessa época um brilho no espanto ferido do deus cantor. A cama brilhou na cristalina cintilação dos venturosos. Os salgueiros debruçavam-se para celebrar as flores pequenas. Perdeste então os paradoxos e o silêncio tomou conta da chuva. Ao entardecer o teu olhar ficou fixo nos rododendros e passaste a amar a eterna inocência dos olhos dos rústicos. Então fugiste para celebrar os meses absorvidos pela melancolia dos homens. A morte inspirasse na carne vermelha dos sexos. Por isso as mulheres se deixam estrangular pela beleza. Alguém canta a eternidade, a fresca e veemente ilusão de eternidade. A luz martela ao de leve os meses plantados. A arte da melancolia devora os nomes selvagens. Mas a tua imagem fica. Fica fixa. Depois foge em delírio. Por fim nasce o dia no teu corpo e eu vibro na penumbra dos teus beijos. Amar também salva.

20
Out08

Plang, pling…

João Madureira

 

 

Plang, pling, ping, pong, ping, ping, pling,

plang, plong, ping, ping,

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19
Out08

O rosto inclinado

João Madureira

 

 

O rosto inclina-se para a luz como num filme de Wong Kar Wai e sobre ele sopram arduamente as colinas em labaredas. Os nomes das coisas enchem-se do gelo perpétuo dos altos.

Não escrevas os nomes neste dia total.

As mãos descrevem frutos e os carvalhos sopram varas com que o criador ateia o lume do pecado. As mães batem com as mãos nas palavras e delas emerge a seiva cintilante dos organismos que amam.

O tempo também ama a razão.

Por vezes os sexos fecham-se por falta da doçura da paixão.

Quando tudo dorme brilham as janelas reflectindo os jardins convulsivos.

São de granito os laços que nos unem.

 

18
Out08

Costumava deitar-me em ti

João Madureira

 

 

Costumava deitar-me em ti como se fosses um mês de Primavera. Havia violência nos campos rotativos que cruzavam as florestas. As manhãs absorviam as casas das encostas como se fossem bocas de pensamento. Também havia incêndios no pensamento do amor, como se de uma dor de livros se tratasse. Uma dor reveladora de um leitor afogado nas sílabas do poema. Havia ainda homens deitados sobre bocados de estrelas e o leitor afogado ardia na aproximação da noite. As palavras molhavam as aparências, as ervas movimentavam-se ao sabor da brisa na ressurreição da inocência. Mexias a boca na experiência dos dedos. Não existia arrependimento, nem corpo, nem delito. O corpo era eterno. O corpo era uma garganta enaltecida pela luminosidade dos crisântemos.

17
Out08

Com o dedo mexo na dor

João Madureira

 

 

Com os dedos mexo na dor da afeição. Sem dor nada se mexe, nem a idade, nem o conhecimento da idade, nem a força do corpo. Não sei se é lentidão ou cadência, ou o campo revolucionário da paciência, mas a brutalidade da fome consome os olhares fabulosos dos famélicos. A ignomínia deita-se com a morte e acorda com o capitalismo. Por mais que se diga das razões dos pobres nada mexe no arrependimento dos infames.

16
Out08

A exultação da tristeza das maçãs de luz

João Madureira

 

 

Nesta maçã de luz descubro o espírito do guardador de rebanhos recebendo os sorrisos inimigos dos loucos, como se alguém se inspirasse na gentileza incógnita das fontes de gelo no inevitável instante do adeus. As árvores exultam com os gládios rápidos dos querubins insensíveis. Lá onde o criador se inspira nasce um silêncio experimentado pela solidão e desse silêncio rebenta a morte com sofreguidão humana. Lembra-me o repouso frio dos abutres como se a tristeza fosse uma força cercada de lágrimas insinuadas pela confusão dos cegos. É essa a inspiração imprecisa dos poetas selvagens. Como se os nomes vagarosos dos peregrinos sofressem da vertigem assassina dos presos. Há um poder na tristeza que a inclina para a penumbra da violência dos santos, como se a noite pudesse distinguir o seu próprio murmúrio. São os anéis de sangue a força vital pela qual as mães se esvaem em exaltação de vida. São elas as flores do corpo dos seus filhos. E neles morrem.

15
Out08

Há golpes fabulosos nas moléculas lilases

João Madureira

 

Golfadas de braços apertam a tua larga imagem. Golpes de ternura inundam-te o olhar. Pássaros nucleares voam na candidez que atravessa o teu sorriso. Há várias razões para pousarmos na tua loucura. O teu sonho tem moléculas de cor lilás, saindo dele em direcção ao infinito sexuado da terra lavrada. Não há vida celeste nos beirais dos castelos abandonados. São fabulosas as mulheres que cantam a eternidade do sangue. São como crianças loucas em busca das canções de embalar.

 

14
Out08

Não há um mundo puro

João Madureira

 

 

Não consigo pensar-te a sorrir tão friamente sobre a ferocidade do mundo. Não há um mundo puro. Outro existe preenchido pelo silêncio, onde as canções antigas correm como as águas silenciosas das fotografias. Há um mundo para cada estação do ano, um mundo de tristeza onde a fortaleza dos homens é obscena. Por detrás da noite surgem os livros tristes dos amantes imaginados. Não há noites perfeitas. Todas as noites se extinguem no dia. É essa a perenidade da sabedoria.

13
Out08

Pling……………plang…………

João Madureira

 

 

Pling……………………….…………………………………………plang……………………………… plong……………………………………………………………………………………pling………………………………………………………………..plang……………………………………………………………………………………………………………ping…………..ping……….ping…………………………………………………………………………………………..plong………………………………………………..plang……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………pling………………………………………………………………………………………………………………………………………………………..pling…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………pling……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………pling……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….ping……………………………………………………………………………………………………..plang…………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………ping………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………..ping

 

12
Out08

Espero todos os dias regressar

João Madureira

 

 

Espero todos dias regressar ao lugar onde nasci. E ver todos os pássaros de uma vez. Mas é Outono. E não me dou bem com os Outonos assustados.

- Venham daí as bebidas. E respondei-me, se por acaso sabeis, qual é a idade da alma dos homens?

As folhas filtram a luz das estrelas que se escoam pelos interstícios das pedras das casas de granito. Pulsa o ar nos dedos da madeira iluminada pelas candeias antigas. Pulsa o ar nas tuas costas ramificadas. É mais um sonho severo de labaredas que vazam o oxigénio das artérias. Sonhas com cavalos frios como se adormecesses na insónia dos símbolos alquímicos.

É a violência diária o que mais me aflige. A violência do ouro que depressa extingue a vida simples dos santos. Dos símbolos santos da claridade, da candidez da agonia, da graça terrestre de Deus.

Deus é uma ameaça de morte explodindo de encontro à nossa finitude.

A nossa nudez cruza o dom do prazer como se de uma visão hipnótica se tratasse.

Gravo as folhas nos músculos das casas frias, onde a carne é um centro ávido de sexo. É seda fina o brilho natural dos teus seios telúricos, como se a terra ardesse em desejo. Explodem as ruas e tu gemes como se a vida fosse eterna. Mais uma insónia me espera na sombra da tarde.

A serpente bíblica continua a fazer os seus estragos.

Deus abençoe a ideia. Deus abençoe as palavras. É violenta a ideia do pecado quando se aproxima do prazer. Mas até o prazer é violência e dor. E claridade.

Deixa-me repousar no teu esforço.

 

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