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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

26
Fev09

Têm as noites...

João Madureira

 

 

Têm as noites do Norte um perfume especial. São uma instituição mística. É a sua nostalgia uma perspectiva de perfeita infinitude. Ouvi a ressonância da palavra intemporal e o espírito das profecias guiou-me até à minha aldeia. Persigo a certeza efectiva do gesto. A interioridade evocativa da linguagem milenar. Contrapõem-me a cidade em idiomas outonais. Ma eu cumpro a metáfora da aventura. Sou como as árvores ancestrais. Por isso inspiro formas em todas as coisas.

24
Fev09

O perfume das vaginas (A favor da “A Origem do Mundo”, de Gustave Courbet).

João Madureira

 

 

Alguém lê paisagens saltando as linhas da violência. Vêm em estampas de ouro as cabeças das crianças. São flores dentro de flores suspensas nas paisagens. Quem quer ler aprende a sonhar. Quem quer crescer aprende a calcular. Alguém lê milagres nas vigílias dos corpos consumidos pelo desejo. É o sexo aquilo que menos fode. O sono senta-se a meio do frio lençol do final do coito. Alguém ressuscita espaços de silêncio. Ressuscitarás inclinada de orgasmos que se multiplicam em todas as coisas e em todas as direcções. Tu és parecida a uma flor que tropeça na sua beleza congénita. Desloca-se o ar desesperado pelos rios. É o perfume das vaginas. Agora chego a Herberto Hélder. Chego sempre a Herberto Hélder. Ei-lo (Vocação Animal, cadernos de poesia, 19, publicações dom quixote, 1971, página 58): “Deslocações de dedos em volta de umas ancas ferozes, mão atentamente aberta sobre uma vagina viva como uma boca nas virilhas, a flor do ânus – e depois a luz desloca-se de toda a parte para toda a parte”.

23
Fev09

Pling, plong, plang, plang, plang...

João Madureira

 

Pling, plong, plang, plang, plang, Broouuuum, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, pling, plong, plang, plang, plang, Broouuuum, Santa Bárbara bendita \ Que no céu está escrita, \ Com a sua torrinha na mão, \ Peço a Nosso Senhor, \ Que não venha mais trovão. \\ Chagas abertas, coração feliz, \ Espírito Santo, Nosso Senhor Jesus Cristo, \ Se meta entre nós e o perigo. \\ Barborinha, barbarão. \ Pela barquinha passou. \ - Bárbara, tu ondes vais? \ Ó senhor eu ao céu vou…Broouuuum      

21
Fev09

Há rosas que se apagam

João Madureira

 

Há rosas que se apagam. Neste dia. Neste dia que dobra o coração quente das águias solitárias ou dos ecos móveis da vontade. O lado esquerdo do espelho agarra as mãos e o perfil do teu lugar que olha a dança dos peixes. Onde estão as flores do mal, as flores que devoram o mel das estrelas difíceis que voam a uma velocidade mais rápida que a da luz? O teu retrato treme em frente da noite. És uma estátua devorada pelo prazer. A tua boca sabe a sal, como as colinas suaves dos teus seios. Tu és uma cidade perdida num corpo acendido pela dança da lua. O teu amor é um quarto escuro tocado por dez dedos envoltos em seda. Sempre que penso em ti a minha boca incendeia-se de espanto. Deslocam-se as palavras pelas nossas mãos como os dias mansos. Durmo em todas as direcções possíveis. Durmo de pé. Durmo enquanto aguardo pela tua boca perfumada. Não te importes com a água fria da ciência. Sinto o sangue latejar no sexo. Tenho as mãos abertas e assim me embriago de ti. Os jardins sentem o apelo. Os animais pressentem o sangue. O amor pinta-se de vermelho. O vermelho pinta-se de vermelho. Mas não é essa a tua cor. A tua cor é pálida, como a dos anjos que clamam pela sua dimensão humana.

20
Fev09

Fica o mundo gravado...

João Madureira

 

 

Fica o mundo gravado nos olhos dos santos. Alguém escreve as letras fundadoras do apocalipse. Uma terrível paixão toma conta de ti. E o mar pinta-se novamente de azul celeste. Os anjos distraídos chocam com os pássaros em pleno voo como se fossem aviões enormes em rota de colisão. O amor é um instante. Entretanto tu partes aos primeiros raios de sol. Há um lugar cheio de luz onde as glicínias ficam pensativas. Eu amo-te. O vento dá passos. Depois tu partes. Então eu escrevo o teu amor pelos jardins de água. Voltam as crianças do lugar das paisagens ardentes. E tu reapareces a rir como uma árvore invadida de folhas inexperientes de primavera. Sente-se no fim do dia a lentidão humana dos artífices. A minha paciência respira. Desejo regenerar. Desejo amar-te. Vem o sono despertar a ausência de azul. Tu dormes em cima de raízes. A tua blusa freme. És como uma nuvem clara e alta. Experimento ferver em desejo.

17
Fev09

O movimento inútil

João Madureira

 

 

É-me difícil imaginar o olhar violento dos bêbados. Julgava que era de uma geração ofensiva, afinal enganei-me. Pensei muito em noites quando o vento e a chuva assolavam as minhas superstições, mas só conseguia afastar-me da realidade. Sei agora que nem o tempo nem a idade conseguem explicar o desespero. Nem sequer os filósofos ou os escritores são apropriados para aclarar a invocação da vida. Mesmo assim há quem ouse morrer reverenciando o amor possessivo. Sou agora um texto danificado de um escritor sem alma. Não é a saudade o que me queima o sonho, é o esquecimento. Há muitas noites em que não durmo. Nelas procuro ignorar a ansiedade do desgosto e por isso vou preenchendo os ângulos de pureza da poesia. É essa uma nova descoberta interior. Estou de novo obcecado. A vida é uma reconstituição inútil.

12
Fev09

A memória ocidental

João Madureira

 

 

 

Há na nossa memória ocidental uma álgebra longínqua. É o resultado de reminiscências evocativas. Os imprevisíveis acontecimentos manipuladores impuseram-se aos sonhos de ocasião. São os espelhos das cidades os que agora invocam as fantasias milenares. As manipulações poéticas fornecem o silêncio enfático dos emissários. Lá ao longe a vulgaridade reinicia a celebração da genealogia. Expurgada da percepção dos gestos, a celebração do desespero regressa à civilização. A hierarquia celebra o silêncio.

 

11
Fev09

Infinitamente o infinito…

João Madureira

 

Há mulheres geniais esquecidas com rostos como imagens fiadas por artesãos esplendorosos. As outras ao pé delas parecem reproduções nebulosas reflectidas em espelhos vazados. Essas mulheres tocam os objectos com dedos de fogo. São elas que inventam a memória e o amor e a leveza das carícias e as luzes dos ciclos naturais e os lugares claros e os fluxos de seiva e o ar que ilumina a boca sedenta dos amantes e a massa lírica da espuma dos dias e as ondas de prazer que incendeiam o sexo dos homens e a inocência do mundo e as noites esplendorosas repletas de vibrações brancas e as pétalas das flores mais vistosas e o pão saboroso dos domingos e os símbolos astronómicos da criação e a água fresca no Verão e a doce demência da paixão e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… e o infinito… infinitamente o infinito… infinitamente…

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