A casa do caçador de borboletas
As casas quase sempre são melancólicas. A melancolia também se constrói como uma casa.
A vida não é uma festa, ou, a sê-lo, é uma festa dentro da própria melancolia.
A melancolia não vem nos livros, refugia-se na alma e no coração dos amantes. Dos amantes velhos. Ou dos mais velhos dos novos amantes.
A melancolia é um dicionário de sentimentos.
A melancolia é uma chuva de memórias.
A melancolia é a própria memória da chuva.
A melancolia é a memória das memórias.
A melancolia foi imposta pelos homens ao mundo. Por isso as borboletas são apreciadas. O seu voo hesitante deixa as cores das suas asas transformarem-se na crueldade da beleza. Por isso os homens espetam as borboletas e expõem-nas aos olhares distraídos dos amigos.
Os homens também espetam a melancolia na memória dos poetas e depois expõem-lhe os poemas em folhas brancas que se amontoam perante a indiferença dos leitores.