Espero pelas noites construídas
Espero pelas noites construídas como claustros. Vejo uma nova guerra anunciada na televisão por um soldado tocando clarim e atravessando cartazes repletos de juramentos de ferro forjado. Os macacos continuam a bailar no jardim zoológico exibindo cabeleiras loiras e falando inglês. Agora todos falamos inglês. Os beijos também são dados em inglês. Os beijos e os risos. Uma mulher que ri bem fá-lo em inglês. Também olha em inglês. E come em inglês. Até copula em inglês, mesmo que o copulador seja português. Copular é um verbo estranho mesmo em português. Mesmo as aves cantam em inglês. Os cães trotam em francês. Apesar dos gatos. Os anjos voam em latim. Os judeus gemem em yiddish. Os cavaleiros anónimos combatem epitáfios enquanto os santos de lábios grossos cantam salmos da bíblia. Um cavalo francês come as flores do jardim. Flores que esperavam ir para o paraíso dormir no regaço de um senhora bela. No paraíso as pessoas estão nuas e os anjos ansiosos fazem-lhe cócegas na planta dos pés. O poeta pede para sair do paraíso equilibrando-se em raios luminosos e correndo mais uma vez o absurdo da morte. Novo dia está prestes a jorrar. Uma mulher pega numa caixa e vai cerzir meias de peregrinos. Eles são mansos como o cordeiro de Deus. Lawrence Ferlinghetti bem costumava dizer que o amor é mais difícil de nascer nos mais idosos porque já percorreram os mesmos trilhos muitas vezes…