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“Com a neurobiologia, Matt aprendeu que há dois tipos de riso diferentes. O riso Duchenne (cujo nome deriva do pioneiro da neurofisiologia G.B.A. Duchenne de Boulogne, cujo livro The Mechanisms of Human Facial Expression foi publicado em 1862) constitui a reacção espontânea e carregada de emoção às brincadeiras nas crianças e às situações que despertam o humor nos adultos, como as anedotas, os trocadilhos e as peripécias de uma comédia, que partilham todas as características da incongruência e do inesperado num ambiente social seguro. As cócegas, as perseguições e o súbito aparecimento de um rosto podem provocar nas crianças o riso ou o medo, consoante a maneira como forem interpretados. Escorregar numa casca de banana é divertido, a menos que a pessoa se magoe a sério. O riso não Duchenne é mais estratégico, menos espontâneo e nem sequer precisa de ser acompanhado pelo humor. A conversa normal é muitas vezes acompanhada pelo riso, o que o falante usa para sublinhar uma observação e o ouvinte para indicar apreço. Este tipo está bem integrado na conversa, ao contrário do mais «genuíno» riso Duchenne, que pode levar a conversa até uma paragem por perda de fôlego ou dificuldade de respiração. Alem de lubrificar a conversa normal. O riso não Duchenne é usado para distender situações tensas (riso nervoso), para fazer os outros sentirem-se pouco à vontade (riso malévolo) e para outros fins estratégicos. Os estudos neurobiológicos mostram que o riso Duchenne activa antigos circuitos cerebrais que têm a ver com as brincadeiras e com as emoções positivas em todos os primatas e, na realidade, na maioria dos mamíferos. Só o riso não Duchenne activa zonas do cérebro associadas com as nossas capacidades cognitivas avançadas.
(…) Em termos simples, podemos dizer que, antes de falarem ou até de pensarem em termos humanos, os nossos antepassados provavelmente já se riam.”
A Evolução Para Todos – David Sloan Wilson – Gradiva
Há palavras que é preciso imaginar dentro dos seus sons. Há palavras pacientes. Há palavras criptogâmicas que demandam a perseverança através do oscilar da noite. Há palavras como os passos apressados, como os gritos surdos dos desventurados. Há palavras que se nos dirigem em bicos de pés, palavras desconexas que se esforçam em ser tempo e voz e silêncio. Há palavras caladas como buracos, palavras sucessivas que se dispersam pela Primavera. Há palavras de dor que caminham com gestos espantados pela floresta lenta. Há palavras que são mundos surpreendidos. Há palavras pesadas como chumbo que sentem o desespero das mulheres. Há palavras que são caminhos, existem outras que possuem a transparência da água e outras que são esforço. Há palavras que flutuam debaixo da chuva. Há palavras pronunciadas com medo de pousar nos ouvidos da morte. Há palavras que são lágrimas. Há outras que são candeias. Há palavras que ressuscitam o mundo e outras que calam ditadores. Há palavras que fecham os olhos para não agitarem as trevas. Há palavras como pedras, outras como o vento, outras como desfiladeiros. Há palavras que crescem dentro dos sonhos. Há palavras esquecidas e existem outras que são o próprio esquecimento. Há palavras como catedrais e outras como naves e ainda outras como cidades incompletas. Há palavras desejadas. Há palavras impostas. Há palavras afogadas. Há palavras estranhas. Há palavras fechadas e outras abertas. Há palavras virgens. Há palavras que crescem e há palavras que mingam. Há palavras que morrem. Há palavras subterrâneas que se levantam aos gritos por dentro do espanto. Há palavras espantadas. Há palavras policiais, há palavras políticas, há palavras que não se ouvem. Há palavras que são peixes e outras que são flores. Há palavras que são túmulos. Há palavras que se criam dentro das próprias palavras. Há palavras lentas. Há palavras apressadas. Há palavras ferozes. Há palavras que perguntam. Há palavras que respondem. Há palavras que são sítios imóveis. Há palavras que ardem, há palavras que choram. Há palavras que são como as mãos de Deus. Há palavras que fizeram o mundo. Há palavras deformadas. Há palavras geladas e existem outras que queimam. Há palavras tão grandes como o universo. O universo é uma palavra com todas as outras palavras dentro. Há mesmo palavras que já atravessaram o inferno. Há palavras coléricas. Há palavras prestigiadas. Há palavras fascinadas. Há palavras que são astros. Há palavras obscuras e outras que simplesmente são terríveis. Há palavras libertas. Há palavras tremendas. Há palavras delirantes. E há palavras que são raízes.
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