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Os teus dedos pousando suavemente sobre o sexo defendem o sonho de um orgasmo sagrado. É quando o dia acorda que morre o instinto dos corpos. Elevo os olhos e neles fica suspenso o teu rosto aonde ainda deduzo carícias e demais memórias frívolas. A luz expõe o excesso do tempo e aviva a cor das palavras resignadas. As locuções pomposas poluem a existência. As sentenças austeras chicoteiam a verdade. As promessas indeléveis invadem a tranquilidade magoada das cinzas. Morre abandonada na dor dos teus lábios a dura fragilidade do coito da solidão. Perdemos demasiado tempo em busca do fulgor rigoroso da fé. Essa é a febre paralisada desde o pecado original. Gritas num murmúrio: Deixámo-nos vencer pela súplica da morbidez. Por isso mordo o teu pescoço como se eu fosse um cão vadio. Por isso trago suspenso no meu pénis uma cantiga de sangue. Por isso sinto a dor antiga da morte. E mordo-a também. O prazer nasce do difícil equilíbrio da instabilidade. O amor germina na ilusão da posse. Mas o que eu desejo conter é a película informe do teu rosto impresso em espuma. Somos cândidos demais para tanto sofrimento. Somos arcaicos demais para tanta instrução. Trazes-me os sons da meninice adormecida por isso entrego-te agora o tesouro da minha irresoluta ilusão. Peso o teu silêncio na minha dor. Dizes: O amor é uma roda de vento. Pedes: Deixa-me levitar no teu corpo cheio de rotinas. Depois imitas a violência do silêncio e recolhes na tua vagina as raízes das minhas origens. Apesar do Outono dos corpos, a iluminação da Primavera ainda cintila na íris dos nossos olhos de feras amansadas. Dizes: Tu ainda és o meu algoritmo de lava. Por minutos, a proximidade dos nossos corpos não pressente a proximidade do abrandamento da dor. Cumprimos mais um ritual. Levitamos nos vagidos legítimos dos gestos crispados dos orgasmos. Encolho-me no teu corpo e adormeço como se fosse de novo, e para sempre, um anjo demoníaco.
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