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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

11
Mai11

O Poema Infinito (47): equinócios de espanto

João Madureira

 

Ai a tontura do deserto, a iluminada meditação da luz e da areia. A tontura da sede, a febre do céu. O mel das noites árabes. Também já fui berbere. Por isso te amei num oásis de palavras doces e frescas. Descobri nos teus olhos, que eram outras tantas estrelas, o meu mapa astrológico. A luminescência dos alperces amadureceu-me a solidão. Na órbita dos nossos corpos giraram então astros indefesos. É esse o destino dos mares interiores, estenderem-se pela memória como serpentes emplumadas. Das tuas mãos caem rosas feitas de fios de seda. As nossas bocas ficam sedentas. Depois voltamos à cidade. Que é outro deserto. O deserto da desvelo. Fico com o corpo coberto por uma linha azul. O deserto é agora uma folha de papel cheia de texturas desenhadas a tinta-da-china. Uma maré de crepúsculos invade-me o sexo. Cruzam-se as palavras com os pássaros migradores. O espaço é outro corpo coberto de desejo. O sonho deriva do delírio. O dia foge de nós como um objecto estranho. A noite germina na insónia da sobrevivência. O tempo perde-se no tempo que procura um outro tempo. Viajamos agora pelas paredes brancas do quarto. O deus da volúpia tornou-se perigoso. Os corpos cansados imaginam a morte. Outro será o tempo para morrer. Pássaros incertos embalsamam com os seus voos as paisagens da memória. Outro será o tempo de esperar. As claridades humildes cantarão viagens inseguras. Contigo adormeço a pensar nos relâmpagos. Em ti pouso o pensamento. Outra é a lógica das peregrinações interiores. Amacio a minha pele nos teus lábios ansiosos. Nós abatemos a tiro de palavras a obscenidade e a infâmia. Ardem as cidades que habitam dentro dos livros infelizes. Deles fogem os animais assustados. Desta vez Noé construiu um foguetão. E da sua boca saem equinócios de espanto. 

09
Mai11

O homem da pita

João Madureira

 

Enquanto praticava, durante o fim-de-semana, um dos desportos nacionais mais apreciados, o passear nos centros comerciais, entrei distraidamente na Bertrand. Lá dentro havia muitos livros nos escaparates dos topes, ainda muitos mais nas prateleiras, e viam-se algumas pessoas que aproveitavam para, devido à crise, ler algumas páginas de livros que não dá nenhum jeito comprar por causa do seu preço elevado. Porque quando a crise aperta são os objectos de cultura os mais sacrificados. Eles e os carros novos de gama baixa e média.

 

Pois, como ia dizendo, entrei na livraria e pude constatar, com alguma satisfação, convenhamos, que as capas de várias revistas e jornais davam especial destaque à Bimby e ao António Barreto. Ou seja, deu para ver, mesmo a um cidadão distraído como eu, que estes são os dois produtos mais mediáticos nos tempos que correm.

 

Com a Bimby podemos bimbar várias receitas de culinária e com o António Barreto podemos bombar no país e na classe política. Especialmente nos socialistas, que agora, com a crise, são os bombos da festa. E se com a Bimby, a cozinha mais pequena do mundo, podemos confeccionar todo o tipo de pratos, com o António Barreto podemos ficar a saber que o povo português trabalha pouco, produz pouco, ganha pouco, lê ainda menos, é insuficientemente instruído, mas, mesmo assim, vive acima das suas posses.

 

E podemos ficar também a saber que o engenheiro Sócrates é o culpado de tudo isto e ainda da chuva que cai fora de época, do sol que aparece e desaparece sem um critério unitário, das geadas fora de tempo, das trovoadas de granizo e das trombas de água, do nevoeiro matinal e da crise. Ou seja, foi ele quem provocou a desregulação da economia e das finanças internacionais, além de aumentar o buraco de ozono e de ser um dos principais responsáveis pelo aumento do preço do petróleo, daí o estarmos como estamos.

 

Ande a culpa lá por onde andar, às costas do Sócrates vai parar. E é bom que assim seja, pois dá um jeito do caraças. Por tudo isso, e por alguma coisinha mais, o António Barreto ganhou, durante algumas semanas, o estatuto de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas enquanto o putativo comentarista do PSD é um palrador mediático destinado às classes média baixa e baixa, o António Barreto é um upgrade do mesmo produto mas dirigido às classes média, média alta e alta.

 

Estou em crer que me desviei do propósito que desta vez tinha para escrever. O destinatário não era nem a Bimby, nem o António Barreto e muito menos o Professor Marcelo, mas antes o candidato a presidente da Assembleia da República pelo PSD, Fernando Nobre.

 

Confesso que fiquei com uma lágrima no canto do olho quando, durante a campanha eleitoral para as eleições presidenciais, ouvi o candidato da AMI falar do pretinho africano que corria atrás da pita para lhe roubar a migalha de pão que ela levava no bico. Mas desde já aviso os estimados leitores que o que nessa altura verdadeiramente me espantou foi a erro de análise do amigo Fernando. Ele, poeta como é, pensou que o pretinho faminto tinha os olhos postos na migalha no bico da pita. No entanto, se fosse etnologista, ou transmontano, que são condições sinónimas, perceberia que o que o menino famélico perseguia era a pita e não a migalha de pão que ela transportava no bico. Uma pessoa cheia de fome, podendo optar entre a migalha e a pita, não hesita um momento. Reconheço que a imagem do menino atrás da galinha, para lhe roubar a migalha de pão, é muito mais apelativa, mas, infelizmente, é falsa. Pode ter um efeito mediático directo e dar votos, mas não está de acordo com a condição humana, animal portanto. 

 

Eu sei, o Fernando Nobre é lusitano. E por isso pensa que o fado é o único género de humor tipicamente português. Por isso o ter recorrido ao mau humor, que explora a tristeza em vez da alegria. Nisso, como em muitas mais coisas, andamos ao contrário do resto do mundo. Lá fora riem-se com o nosso subdesenvolvimento. Nós por cá votamos num cómico que resolve respeitar a tradição transformando os seus momentos de campanha em espectáculos fadistas onde as pessoas se sentem tristes e apreciam.

 

Não estou a dizer que o Fernando Nobre é um humorista voluntário. Nessa armadilha não caio. Portugal, todos o sabemos, é um país de cómicos involuntários. Em Portugal, os políticos cada vez mais se parecem com personagens criadas por humoristas. O humor é um termo geral que abrange distintas variações, registos e géneros: a sátira, a paródia, a ironia, o sarcasmo, o abjecto, obscenidade e o discurso político.

 

Sabendo que existe uma linha muito ténue entre o que nos faz rir e o que nos deprime, e que a graça está sempre a um milímetro da desgraça, mesmo assim não resistimos a lembrar que Fernando Nobre, foi, inicialmente, um simpatizante da monarquia, apoiou Mário Soares na recandidatura a presidente da República, foi mandatário, nas últimas eleições europeias, do Bloco de Esquerda, foi candidato à Presidência da República contra os candidatos dos partidos, e agora é cabeça de lista das legislativas do PSD por Lisboa, com a promessa de lhe entregarem o cargo de presidente da Assembleia da República. Ele que detestava os partidos, que abominava a política e que criticava os deputados por nada fazerem.

 

Os dirigentes do Bloco de Esquerda, também eles fadistas empedernidos e excelentes humoristas involuntários, já vieram afirmar que esta atitude do Fernando Nobre “é o fim de uma imensa fraude”.

 

É bem possível que os eleitores mais indignados resolvam ir a banhos. Nós, por aqui, achamos mais sensato sair deste filme lembrando uma das frases mais emblemáticas do cinema português (A Canção de Lisboa): «Vamos embora que isto é uma aldravice».

 

 

PS – Segundo o Correio da Manhã, no passado ano, a AMI rendeu ao seu fundador e presidente, o cidadão Fernando Nobre, e à sua esposa, a respectiva secretária-geral, 73.170 euros, o que dá um rendimento bruto mensal de 5226 euros. Bem prega Frei Tomás…

06
Mai11

O Homem Sem Memória

João Madureira

 

62 – E o namoro começou a seguir o seu caminho. Mas toda a obra humana tem sempre os seus encómios. Motiva sempre o seu contrário. Os seres humanos nisso são exemplares. O ciúme triunfa sempre por cima dos outros sentimentos. As relações humanas são uma espécie de guerrilha urbana. Luta-se sempre contra um inimigo difuso e fugidio. E nessa luta ninguém sai vencedor. O que se pretende é infligir o máximo de danos possíveis ao putativo inimigo.

Numa pequena cidade de província tudo se sabe, tudo se comenta, tudo se condena. E o namoro de uma rapariga interna de um colégio com um rude barrosão, pobre, e, ainda por cima, estudante de seminário, deu logo nas vistas. O pai da Graça, com vários amigos na cidade, foi de imediato avisado do desaforo. Devido ao melindre da situação da filha resolveu vir num fim-de-semana espiá-la. Enfiou-se clandestinamente numa pensão perto do colégio e montou o cerco. Por sorte, a sua vigilância coincidiu com o período menstrual da filha que, devido aos achaques, nem sequer saiu da cama. Regressou a Tourém menos apreensivo. Mas nas mulheres nunca confiar. Depois de várias diligências realizadas entre rapazes amigos, incumbiu dois ou três de se manterem vigilantes e de lhe comunicarem o desenrolar dos acontecimentos. Disso deu conta à sua mulher que de imediato se pôs em contacto com a filha para a informar que andava a ser vigiada por uns camafeus amigos do pai. Ela pôs-se logo em guarda e resolveu dar conta ao José do cerco que à sua volta se estava a montar. Preveniu-o que a rapaziada que a vigiava a expensas do pai era vingativa e pouco escrupulosa nos procedimentos. Metiam o aço de uma navalha de ponta e mola no buxo de um individuo ainda com mais facilidade do que botavam abaixo um copo de tinto do Douro.

O José ouviu o que tinha a ouvir e, como não era rapaz temerário, resolveu usar como trunfos a seu favor um ou dois amigos discretos, pois mais não tinha, e estabeleceu, por sua conta e risco, uma rede de informação para despistar e ludibriar a equipa contrária. A cultura e o bom senso principiaram a dar os seus frutos e a sobrepor-se à verborreia e à boçalidade masculina dos rufias.

Começou a namorar longe da cidade, utilizando os transportes públicos, em lugares recônditos, ou no escurinho do cinema. Quanto mais o perseguiam mais desfrutava dos momentos furtivos que ele e a namorada passavam juntos. Um olhar sabia a uva moscatel, um beijo a pavia suculenta e uma carícia mais avantajada a maçã reineta. Sentia-se um herói romântico, uma pessoa vítima dos preconceitos sociais, um amante sério e deslumbrado. Escrevia poemas densos de amor perseguido, cartas repletas de alusões políticas e religiosas e lia livros cada vez mais perigosos. Via-se que a Graça, apesar de viver debaixo de alguma pressão, também se sentia feliz. Cada momento passado em comum era intenso. A adversidade no amor tem destas coisas, põe mel no lugar do fel.

Quanto mais o perigo rondava mais a ousadia dos seus gestos amorosos aumentava. E chegaram, mesmo sem premeditar, a vias de facto. Soube-lhes pela vida.

“Estás arrependida?”, perguntou-lhe o José. “Ninguém se pode arrepender de se sentir humano”. “Amo-te!”, disse o José corando ligeiramente. “Também eu te amo!”, respondeu-lhe a Graça sem corar nem um bocadinho.

E novamente se amaram como quem colhe os frutos mais suculentos de uma árvore. 

04
Mai11

O Poema Infinito (46): levitações

João Madureira

 

O silêncio arde. A Primavera nasceu cercada de vozes. O bebé sorve mecanicamente o leite da teta de sua mãe. Palavras mudas germinam na sua boca. E os seus olhos choram lágrimas límpidas e amargas. Começa um novo tempo. Alguém morre imperfeito. As flores continuam glaciais apesar das suas cores quentes. A melancolia torna-se severa. As primeiras músicas de água voam entre luas excepcionais. Degrau a degrau, a alegria desce das árvores espalhando sal na terra. Ardem os séculos nas mãos dos guerreiros do medo. A razão é uma loucura cruel. Um novo espaço forma-se em redor das espadas. Apagam-se as fogueiras do medo e um destino imóvel toma conta dos pensamentos. O sangue dos mártires rega os arbustos. Os homens passam devagar a caminho da glória. Alguém toca hinos de terror. Os archotes iluminam o amor e o ódio. Outros homens sorriem no seu contentamento cego. A meu lado levita o sonho. Dói-me a dor dos homens, o seu poder confuso, o seu destino. O chefe oculta-se na sua razão e ordena a guerra. Todo o poder é mudo. Os espíritos violentos derrubam as portas da cidade misteriosa. Procuram no seu seio a inspiração luminosa para a vitória. Deus é uma distância impenetrável. O seu sexo repleto de criação ampara-se na angústia dos beijos quentes. Raios de fogo invadem as portas das palavras proibidas. Estamos universalmente sozinhos. É madrugada e a legítima pureza do absurdo procura abrigo nas nossas mãos entrelaçadas. Hoje o sexo desenhou-nos a beleza. O esplendor da vida curva-se perante o seu instante. Outra não é a lucidez dos sorrisos. Nós corremos pelo nevoeiro dentro. Nós colhemos o amor no silêncio do nosso olhar. Nós somos as palavras íntimas. As palavras ínfimas. Nós somos o tempo legítimo da pureza. Dói-nos o permanente pensamento da vida. 

02
Mai11

Divagações

João Madureira

 

Saímos do café e dirigimo-nos ao jardim. O R. deteve-se algum tempo a contemplar o parque, aspirando o cheiro da folhagem. Faz isto sempre que se sente um pouco agitado. Disse-me, visivelmente emocionado, que cada vez pensa mais nos homens que ficam sozinhos, grupo no qual se inclui com todo o direito. “É terrível perder a mulher que se amou, mas ainda é perda maior não ter mulher para amarrar nos braços antes de a desgraça nos bater à porta…”, filosofou olhando na direcção de um pássaro morto espezinhado entre as ervas do jardim.

 

O meu amigo é um homem que normalmente acorda com a sensação de perda. E como nestes tempos todos perdemos diariamente sempre qualquer coisa, é o amigo certo para tempos incertos. Há uns anos atrás, como não havia nada de palpável que pudesse censurar a si próprio de ter perdido, encontrava a necessária puerilidade na actualidade e no desporto. Agora é a política o que lhe mete medo. Mas nem sempre foi assim.

 

Quando jovem pensou enveredar por uma carreira no mundo das artes. Acabou em caixeiro-viajante, não sem antes passar por uma infinidade de pequenos empregos inadequados e de ter namorado mulheres igualmente inadequadas. Um emprego significava sempre uma namorada nova.

 

A sua grande paixão abandonou-o por o considerar frouxo e frívolo. Ele prometeu-lhe ser um rochedo quando antes era nuvem passageira. Ela avisou-o: “Não vais nada. É conduta que não faz parte da tua natureza.” Ele replicou ofendido: “Não cuidei eu de ti quando estiveste doente?”Ao que ela atirou certeira: “Sim. És maravilhoso para mim quando estou doente. O problema é que quando estou boa não me serves para nada.”Foi mais ou menos por essa altura que nos tornámos íntimos. Os amigos são para as ocasiões.

 

Andámos na mesma escola. Aí fomos sempre mais rivais do que amigos. Mas, tenho de vos confessar, a rivalidade também pode durar toda uma vida. Apesar de poder parecer o contrário.

 

A sua inocência desviou-o sempre da verdade (crueldade?) da vida. Foi sempre um efabulador. Pagava a amizade em copos de bebidas caras nos bares onde a maioria dos seus amigos não tinha dinheiro para frequentar. Descrevia-nos com um assinalável nível de pormenores as suas aventuras eróticas. Falava-nos das suas boémias com cara de caso. Mimava-se a si próprio com fatos caros e, sobretudo, aos sábados de manhã, frequentava as barbearias onde lhe punham sobre a pele toalhas quentes molhadas com perfume de alfazema, ao mesmo tempo que se falava de futebol e política a sério.

 

Namorou com uma rapariga tão parecida com a Madalena Iglesias que todos nós equacionámos a possibilidade de ela ser a própria Madalena Iglesias revista e aumentada. Mas nunca conseguiu manter uma relação amorosa por muito tempo. As mulheres deixavam-no sempre. É verdade que o R. dançava com elas de rosto junto e era bom de ver como todas elas lhe entregavam as suas almas em confidência. Mas uma coisa é ser o confessor de uma mulher. Outra bem distinta é ser o seu amado. Era por ser engraçado que elas confiavam nele. Apenas por isso.

 

Uma coisa é certa, o R. foi sempre um amante falhado mas um esquerdista emproado. Nunca conseguiu ser mais nada, a não ser um marxista bastante deprimido. Nas últimas eleições legislativas perguntei-lhe se ia votar no Bloco de Esquerda. Ele fez-se distraído e nada respondeu. Eu voltei a insistir. Então, visivelmente irritado, atirou-me com esta: “Acabaste de me enfiar num estereótipo. E nada existe de mais constrangedor do que estereotipar os amigos.” Eu pedi-lhe de imediato desculpa. Ele voltou à liça: “Foram os estereótipos o que nos lixou a vida enquanto nação. Todos os nossos inimigos se tornaram mais fortes depois de os combatermos. Nestas como noutras coisas, ficou claro que os rufiões são aqueles que acabam por se derrotar a si próprios.” Eu argumentei que a vergonha é um assunto privado. Um assunto de família. E que quando alguém da nossa família age erradamente é nosso dever dizer-lhe. Não boicotá-lo.

 

Ele argumentou: “Sou filósofo, não tenho a certeza de nada. Mas tu não és definitivamente o meu oráculo.”Eu respondi-lhe: “Eu sou adepto do Sócrates. É tudo quanto me basta de filosofia.” Ele insistiu: “És um demagogo.” Eu resolvi terminar com a conversa: “Eu não alinho em linchamentos públicos. Combatam-se as ideias, mas não se persigam homens para eliminá-los na praça pública. E não te esqueças, lá diz o povo na sua ancestral sabedoria: atrás de mim virá quem bom de mim fará.”

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