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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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29
Jun11

O Poema Infinito (54): a perfeita noção de insatisfação

João Madureira

 

E por vezes sobe-nos um silêncio por dentro que nos aflige de morte. Esse é o nome da solidão por onde a raiz da nossa origem emerge para próximo do abrandamento da dor. As estrelas transformam-se em rituais de gelo. Vem de longe a voz que nos faz esquecer o próprio nome. Perdemos o mundo tentando alimentar-nos da feroz beleza do amor, do fogo cruel do desejo. O sonho simula a violência. Levitamos diluindo-nos no escuro. O tempo fixa o horizonte da obsessão. Quero ignorar a sedução que me incendiou o dia. Todos os caminhos da luz conhecem a fonte do desejo. Por isso tento segurar mais um pouco a divindade desequilibrada que se viu traída pelo fogo do silêncio. Outra é a dor das tuas mãos atravessando o caminho do meu corpo já exausto. Novas estrelas determinam o caminho até ao rio onde se afogam os anjos virgens da verdade. Aí começa a perseguição infinita. A nova fé no nada varre o esplendor do elixir da eterna juventude. Um homem baptiza Deus nas lágrimas dos mártires. Fios de luz divina desenham na pele dos humanos vários trilhos da morte. Vamos ter de começar de novo. Vamos ter de suspender o rosto indelével da felicidade dos traidores. Vamos ter de remendar o mal das aberrações divinas. Vamos ter de entoar cânticos negros enquanto exaltamos a fragilidade da vida. Chovem-nos gotas de sal nos olhos cansados. As nossas cinzas paralisam-nos o futuro. Os sonhos transformam-se em poeira. Também eu feneço na cruz diária da dissimulação. Deus despedaça a golpes de machado a árvore da vida. Esse é mais um tesouro arrasado pela ilusão da palavra divina. Sobeja de mim a perfeita noção de insatisfação. Só assim consigo pensar na origem do bem. Na sua violência, na sua ordem, na sua intrínseca superioridade moral. Na sua paz guerreira. Bebo na fonte da verdade a ilusão da mentira. Embriago-me até ficar lúcido.

27
Jun11

A utilidade das algemas e tagine de peixe à marroquina

João Madureira

 

Um meu amigo que está lá para baixo e que já não via há muito, muito tempo, diz que inventou (reciclou, adaptou) uma nova função para as algemas. De facto, o L. sempre teve uma fixação por algemas, daí acalentar, desde a infância, o sonho de ser polícia. É funcionário de acção educativa numa escola secundária do litoral sul. Do mal o menos.

 

“Tu sabes bem”, disse ele olhando para mim, mesmo parecendo o contrário, com os seus olhos estrábicos, “que as algemas e as correntes possuem virtualidades e funções na vida moderna que os seus inventores muito possivelmente não terão ponderado na época recuada em que foram inventadas e onde tudo era mais simples.”

 

Tornando a olhar para mim, deduzi eu, e não para o poste que estava ao meu lado, como parecia, pois ninguém fala para um poste estando sóbrio, continuou a sua dissertação: “Se eu fosse responsável autárquico pela segurança na zona onde habito, mandava instalar vários conjuntos de algemas e correntes nas paredes dos edifícios públicos. Quando os moradores se cansassem da televisão e de ir passear o cão, podiam acorrentar-se uns aos outros como exercício de treino. Passaria a ser uma forma de convívio interactivo entre vizinhos. Estou em crer que todos adorariam.”

 

Eu olhei para o L., ou melhor para os olhos do L. que nesse momento estavam a fixar com muito empenho uma velha fechadura de uma porta da Rua da Cadeia, e limitei-me a abanar a cabeça em sinal de concordância. Ele sorriu para a fechadura e continuou: “As mulheres, transbordando de fantasias juvenis, ou sexuais, diriam: «Esta noite o meu marido acorrentou-me. Senti-me nas nuvens. E o teu?» (Pausa para salivar.)

 

“E as crianças, quando saíssem da escola, iriam logo a correr para casa, onde os avós, ou a criada, estariam à sua espera para as acorrentar. Esse gesto singelo fazia mais pelo desenvolvimento da sua imaginação do que todas as aulas de Educação Visual durante um ano lectivo, além de as ajudar a aumentar a cultura geral que lhes é sonegada pela televisão, e reduziria consideravelmente a incidência da delinquência juvenil. Quando o pai, ou a mãe, ou ambos, chegassem a casa, toda a família escolheria o eleito do dia para ser acorrentado como prémio pelo facto de alguém em casa ter o privilégio de possuir um posto de trabalho, mesmo que a produtividade continuasse em níveis absolutamente medíocres. Mas não se pode ter tudo. Não é verdade, caro amigo?”, interrogou-me o L. olhando para a árvore que abanava as folhas sobre o meu lado direito.

 

Demos mais uns quantos passos, enquanto ele ganhava fôlego para mais uma investida. “Os nossos parentes mais idosos que causassem problemas seriam acorrentados na garagem. Apenas se lhes soltavam as mãos uma vez por mês para assinarem os cheques da segurança social. Como vês”, disse ele sorrindo para uma vaso colocado no parapeito de uma janela, “as algemas e as correntes poderiam ajudar a construir uma vida melhor para todos nós.”

 

Eu pus-me a olhar para ele que continuava com os olhos fixos no vaso e disse-lhe: “És um pândego”, com vontade de lhe dizer outra coisa. Cumprimentei-o mais uma vez, em sinal de despedida, e fui-me embora.

 

O L. nunca foi para mim uma pessoa querida. De facto, o pobre rapaz, por causa do seu olhar, e de outros atributos que agora não vêm ao caso, foi sempre um solitário. E continua. Lembro-me perfeitamente de uma vez no Liceu, quando estávamos no laboratório de química, o preparado do L. explodir, queimando-lhe as sobrancelhas e pregando a todos um susto de morte. O choque e o pânico fizeram com que ele molhasse as calças, mas nenhum de nós lhe ligou qualquer importância, nem mesmo o professor, que o detestava por explosões ocorridas nos vários anos de repetência. Durante o resto do dia andou pelo Liceu encharcado, e todos nós fizemos de conta que era invisível. Mas o L. era apenas estrábico.

 

Ganhei-lhe algum carinho porque uma vez me confessou que não podia ter filhos. Eu, então, perguntei-lhe, pesaroso, a razão de tamanha desventura. Ele, fixando um quadrado azul da pintura do Nadir Afonso que está na parede do Sport, deu-me uma resposta que ainda hoje me fascina e enternece: “Sou como Portugal, tenho os testículos subdesenvolvidos.” Só não chorei porque me ri.

 

PS – Por causa da crise da dívida pública, cujos juros não param de subir, e tudo por culpa de José Sócrates, aqui deixo aos estimados leitores mais uma receita para quatro pessoas, de preferência socialistas, para verem como elas doem na oposição: “Tagine de peixe à marroquina”.

 

Ingredintes: azeite, cebola, açafrão, canela em pó, coentros e cominhos moídos, açafrão-da-índia, tomate em pedaços, caldo de peixe, quatro lucianos-do-golfo (por sugestão do governo PSD) pequenos, limpos, sem espinhas (essas deixam-se para José Sócrates e seus apaniguados), sem cabeça e sem rabo (por sugestão dos ministros do CDS); azeitonas verdes descaroçadas (por sugestão do PCP), sumo de limão (em homenagem ao resultado do BE), coentros frescos picados e cuscuz (por inspiração da deputada do PSD por Vila Real, Manuela Tender) preparados de fresco para servir.

 

Confecção: Aqueça o azeite numa cataplana, em lume brando, junte a cebola e deixe cozer (entretanto vá lendo as promessas do PSD e do CDS para não as esquecer), mexa de vez em quando, durante dez minutos até a cebola ficar tenra (e terna como Pedro Passos Coelho, vulgo PPC, em campanha eleitoral), mas sem alourar, como o Paulo Portas. Junte o açafrão, a canela, os coentros moídos, os cominhos e o açafrão-da-índia e deixe cozer, mexendo sempre, durante mais trinta segundos. De seguida prepare os tomates (com cuidado, em homenagem ao meu amigo L.) e o caldo. Logo após mexa vigorosamente. Espere que levante fervura. Baixe o lume, tape e deixe cozer durante quinze minutos. Destape e deixe apurar mais vinte a trinta minutos. Corte cada Luciano-do-golfo (com a mesma precisão com que PPC se prepara para cortar na saúde, na educação e na segurança social), introduza-os na caçarola, envolvendo-os no molho. Deixe cozer, em lume brando, durante cinco a seis minutos. Adicione cuidadosamente (como é timbre do nosso Presidente da República) as azeitonas e o limão de conserva e os coentros frescos picados. Tempere com sal e pimenta e sirva acompanhado por cuscuz. 

24
Jun11

O Homem Sem Memória

João Madureira

 

69 – Aquele foi o Verão do seu contentamento. Acordava cedo e lia, quando podia, ou então, quando se deitava tarde, dormia mais um pouco para arranjar forças para brincar. Havia mesmo manhãs em que se levantava com as galinhas e ia para o seu forte, que era o terraço que servia de telhado à casa de banho, esperar pelo nascer do sol. Ali, com o seu chapéu à Daniel Boone, chorava de emoção quando via os primeiros raios de sol expandirem-se por cima do cume das montanhas. Este exercício de vigilância territorial era repetido ao pôr-do-sol, quando o José endireitava o seu chapéu de pele de raposa e entoava com a boca, transformada em cornetim, o hino do recolher dos seus féis exércitos imaginários.

O estranho chapéu à Daniel Boone resultou de uma investida solitária ao monte em busca de inimigos, que tanto podiam ser índios, como cowboys renegados, ou rebeldes sulistas. Numa dessas incursões deparou-se com uma raposa ferida de morte. Assinalou o local e deixou o animal entregue à sua sorte. Podia ter sido ele a dar-lhe o golpe de misericórdia, mas deixou que fosse o tempo a finalizar a tarefa. O José não conseguia matar nem uma mosca, quanto mais um animal belo e agonizante como aquele.

Passou lá no outro dia e encontrou, como esperava, o corpo inerte e frio do animal. Trouxe-o para casa e pediu a um amigo peleiro que o esfolasse e curtisse a pele. Depois levou-a a um alfaiate para dela fazer um boné com base numa fotografia do Daniel Boone publicada numa revista.

Passou a ser o herói do bairro. O ídolo das raparigas, que namoriscava sem se comprometer com nenhuma. Muitos dos seus amigos achavam-lhe graça e, de certa forma, admiravam a sua propensão para a fantasia. Via-se que não era como os outros. Vivia num mundo muito próprio. Alimentava-se de mitos, sonhos e conquistas.

Arranjou um amigo tão estouvado e tão solitário como ele que tinha um nome feminino. Todas as tardes partiam à desfilada, nos seus cavalos loucos, para o meio dos montes onde construíram cabanas de pinheiros e giestas, onde assavam as galinhas e os láparos caçados nas capoeiras e nas coelheiras dos seus familiares, onde bebiam os licores de laranja e anis preparados à base de concentrado adquirido nas farmácias, ao qual misturavam aguardente bagaceira e uma boa dose de açúcar. Fumavam cigarros feitos de barbas de milho seco ou, quando encontravam uma tribo de índios amiga, fumavam fortes cachimbadas de ervas aromáticas, até ficarem atordoados, à volta da fogueira e bebiam a meias, de garrafas especiais, os licores balsâmicos e açucarados.

Pescavam nos rios bogas, escalos, panjorcas, percas-sol, pimpões, trutas mariscas e enguias que abriam e secavam ao sol, ou davam aos gatos, ou se atreviam a assá-las num bom braseiro, ou então vendiam o peixe a algumas famílias com posses, e o que ainda sobrava entregavam-no ao asilo dos velhinhos, com a nítida intenção de alimentar os mais necessitados, mas o peixe do rio ia sempre parar ao prato do senhor abade, e de uma ou outra freira mais próxima da influência eucarística do guia espiritual, numa boa sertã recheada de suculentas postas fritas com cebola, tomate e pimento, que acompanhava com batata cozida, broa centeia e vinho branco de uma colheita privada de Arcossó.

O Graça – assim se chamava o seu amigo – vivia com a avó, pois a sua mãe tinha morrido vomitando os bofes devido a uma intoxicação de gás provocada por uma fuga de um esquentador instalado dentro da casa de banho. O seu pai, um sargento do exército português condecorado pela sua coragem em combate em comissões de serviço nas províncias ultramarinas (e coleccionador de orelhas e dedos de turras), vivia agora um segundo casamento onde não cabia o seu primogénito. Houve ainda uma tentativa que correu muito mal, pois um dia o Graça insultou a sua madrasta dizendo-lhe obscenidades e mostrando-lhe o pénis de forma ostensiva. Esta era a sua forma de marcar terreno em relação às fêmeas. Quando o irritavam, ou o provocavam, ou olhavam muito para ele, de imediato baixava as calças e as cuecas e ostentava o falo como se fosse um troféu de caça.

Nesse mesmo dia, quando o pai chegou a casa, tratou de o amansar com um chicote (ó ironia das ironias) feito de pénis de boi que o deixou às portas da morte. Dali foi para o hospital em estado de coma. Quando recuperou, passados alguns dias, foi entregue aos cuidados da sua avó materna, que lhe dedicava um carinho especial e que era recíproco.

Um dia, o José e o Graça, resolveram envolver-se numa luta feroz contra um bando de escoteiros mirins comandados por um meia leca de calções e chapéu colonial emprestado pelo seu pai, que era soldado da GNR. Ambos e dois lhe tinham uma raiva muito particular. Sobretudo porque tinha a mania que era bom, que se sabia impor e arregimentar soldados para o seu pelotão. Verdade é que os tratava com uma varinha de salgueiro e os vigiava com monóculo de plástico de fabrico próprio, numa tentativa de imitar o seu herói preferido, o General Spínola. O zelo era tanto, que, por vezes, à falta de animal para cavalgar, montava no lombo de um dos seus apaniguados, que tinha uma queda especial para fazer de burro. Como também não tinha cães, socorria-se de outros dois rapazes que eram especialmente dotados para rosnar, ladrar, seguir pistas, mijar junto dos troncos das árvores alçando a perna, e morder a barriga das pernas do inimigo.

O pai deste garboso capitão mirim era conhecido por, usando o seu carisma e prestígio de GNR zeloso e autuador, pois passava multas por tudo e por nada, conseguir alimentar a família à custa do povo temerário que ele patrulhava na companhia de outro imbecil do mesmo calibre. Sempre que as batatas, as cebolas, as couves, os grelos, as galinhas, os coelhos, um que outro cabrito ou cordeiro para os dias festivos, um que outro leitão para cevar lá em casa, atingiam o ponto crítico na despensa ou na corte, e o fumeiro desaparecia na arca do centeio, o mirim sénior fazia-se encontrado com determinado agricultor e encomendava-lhe aquilo que lhe faltava a troco de um próximo pagamento. Quando recebesse o vencimento prometia pagar, até com juros. Lá prometer prometia, mas nunca cumpria. Os pobres homens tinham-lhe medo e metiam-se em copas. Algum, menos avisado, a princípio ainda teve a ousadia de ir pedir-lhe o que lhe era devido. Ele prometeu-lhe, mais uma vez, ir pagar-lhe no dia seguinte. E cumpriu com o prometido. Mas, imediatamente a ter feito o pagamento, inspeccionou tudo o que tinha a inspeccionar, desde a licença e as vacinas dos cães, o tamanho da ponta metálica da aguilhada, as chedas dos carros de bois, a licença e porte de armas da caçadeira, as vacinas dos bovinos, a permissão de abate dos cabritos e dos porcos, a autorização para os galináceos que andavam pelas eiras e pelos caminhos a invadir propriedade privada, a autorização para a venda dos restantes animais, das batatas e dos feijões, a licença das navalhas e dos isqueiros espanhóis, enfim tudo o que podia ser escrutinado foi-o duplamente e o dinheiro que tinha recebido nem sequer deu para um décimo da multa que se viu obrigado a pagar ao Estado. Foi lição definitiva. Todos vendiam ao GNR a troco de um sorriso e de uma promessa de pagamento que era de imediato esquecida.  

22
Jun11

O Poema Infinito (53): o Capitão Gancho e a Sereia de Plástico

João Madureira

 

Surgiu de repente uma sereia de plástico no meio da viagem pelos mares da arábia. Eu vi. O marinheiro da proa esfacelou a coragem. O mar era estreito e pintado de cores monótonas. A costa, de vez em quando, vestia-se de neblina. Decidido, o Capitão Gancho começou a atravessar a memória da tripulação com pequenas lâminas de coral. Eu vi. Içaram a sereia para o veleiro. De seguida, a sereia de plástico levantou-se, luminescente, e abraçou o timoneiro que desfaleceu de cansaço. Os olhos vibráteis do Capitão Gancho escorregaram no sexo explícito da sereia e os marinheiros esconderam o pénis liso de encontro ao mastro do veleiro. O corpo da sereia encheu-se de pérolas fascinadas. O corpo do Capitão Gancho avolumou-se com os despojos do mar e das anémonas insones. A sereia de plástico amaciou os seus cabelos loiros e abriu os seus lábios húmidos. Um marinheiro desenhado a tinta-da-china sugou-lhe li-te-ral-mente a vagina. Limos de ciúme escorreram dentro do sonho do Capitão Gancho. Todos vigiaram o corpo exposto da sereia que continuava desenhada nos olhos implícitos do Capitão Gancho. De repente, o corpo da sereia sofreu a sequiosa transparência dos peixes luminosos. Nesse momento, o Capitão Gancho abriu o sexo da sereia de plástico e penetrou-a com um prazer vagaroso. Durante a noite, o veleiro navegou demoradamente em redor das ilhas alucinadas. Os marinheiros embriagaram-se com rum e ofereceram flores envenenadas aos amantes. Eu vi. A sereia, pela manhã, fendeu o seu próprio corpo com o gancho do Capitão Gancho. Depois chorou lágrimas verdadeiras sulcadas de solidão e adolescência. E mergulhou para sempre na escuridão incessante do mar. 

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