Um (S. K:), Dois (VPV) e Post-Scriptum
Um - Confesso-vos, gosto muito dos filmes de Stanley Kubrick. Na sua análise irónica e crua, faz sempre uma fascinante, e muitas vezes perturbadora, aproximação à realidade. Na sua obra a ordem e o caos convivem lado a lado sem sequer se atrapalharem. Docemente. Para Kubrick, os planos que cada um faz para a sua vida nunca podem ser levados muito a sério devido à imprevisibilidade da natureza humana.
O realizador tinha a perfeita consciência de que os caminhos que a humanidade teima em seguir vão dar a um abismo. Além disso defendia que o que aprendemos com a História, na verdade, não nos serve de muito, porque a verdade é que nunca aprendemos com ela. A História tende a repetir-se. Ciclicamente. Anedoticamente.
Os impulsos do homem e a sua inata violência serviram de alimento para o seu psicanalítico filme “Laranja Mecânica”. A excitação cinematográfica da guerra deu lugar ao “Nascido Para Matar”. Já “Barry Lyndon” fala-nos da fragilidade humana e da inconsequência conduzida por um homem que se deixa perder por uma paixão.
Kubrick defendia que os seres humanos são governados pelas emoções e não pela razão. As emoções falam sempre mais forte do que a inteligência e o conhecimento. Em “Dr. Estranho Amor” conta-nos uma evidência: apesar de as armas serem cada vez mais poderosas, os homens continuam fracos, pois os seus corações não mudaram.
Muitos disseram que o seu cinema passava um pouco ao lado da dimensão emocional porque se deixava encaixar dentro de um formalismo cerebral muito acentuado. Mas quem não se emocionou com o seu humor inteligente em “2001 Odisseia no Espaço” e com a célebre morte de uma máquina, o comovente HAL 9000.
Outra das coisas que o seduzia, e que de certa maneira influenciaram a minha maneira de ser e de pensar, era o fascínio pelas estruturas totalitárias e a violência do Estado. Quando jovem vi “Laranja Mecânica” no antigo Cine-Teatro de Chaves. E aquilo nunca mais me saiu da cabeça.
Kubrick vivia permanentemente em actualização informativa, por isso se interessava com a velocidade a que ela se transmitia. Para realizar as suas obras reunia sempre o máximo de informação de que era capaz. Foi nos seus filmes que descobri que a sociedade da informação, baseada na tecnologia, tornou extremamente fácil as pessoas magoarem-se.
Dois - E agora algo completamente diferente. Magoado anda Vasco Pulido Valente. E com razão. Afinal tudo o que escreveu tem, aos olhos do mundo, a dimensão de uma putativa História de Alicante. A realidade é mesmo essa. Apesar de a sua inteligência ser brilhante, lúcida, clara e cáustica, o país pregou-lhe uma partida. É, como bem dizia Manuela Ferreira Leite, piqueno. Não tem dimensão. Nem os nossos problemas históricos interessam ao mundo.
Na perspectiva de Vasco Pulido Valente, chegou o cobrador vestido de FMI que nos vai levar as pratas. Além de nunca ter deixado de fumar nem de beber, e ter chegado aos setenta, VPV está assarapantado com um problema que diz ser grave, o de saber se existe algum líder nacional que “politicamente seja capaz de persuadir os portugueses a passarem dez ou quinze anos a viver daquilo que produzem”.
E como não há homens intocáveis, passo a citar: “Toda a gente geriu mal. Mesmo o doutor Cavaco, que até ser reeleito não abriu a boca. E ele sabia da crise.” Pois ele lê o “The Economist” e os relatórios do Banco de Portugal. Lá diz o povo: Tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta.
De José Sócrates disse o que nem Maomé se atreveu a dizer do toucinho e, ainda, que foi o controleiro do PS. Sobre Pedro Passos Coelho afirma que “nem o seu Governo nem o próprio primeiro-ministro interessam muito. Interessa, é saber se as pessoas estão com medo para obedecer”. Parece que sem medo e sem obediência não há futuro. VPV sabe do que fala.
Sobre o putativo neoliberalismo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, defende que “isto não é liberalismo. Isto é vender as pratas”. E finaliza com nova praga bíblica: “Todos esses rapazes, como o Barroso e o Guterres, que a gente já se esqueceu do que fizeram, hão-de aparecer aí outra vez”.
E profetiza: “A Europa morreu”.
PS – Enquanto a notícia não se confirma, aconselhamos, como sugestão da “Ás de Copos”, os estimados leitores a prepararem mais um apetitoso cocktail, pois vai muito bem com o Verão e com a crise. E se tiverem uma piscina ao lado ainda melhor.
Vodka Collins Pimento – 1 fatia de pimento; 2 cl de xarope de açúcar branco ou amarelo; 3 cl de sumo de limão natural, que podem ser substituídos por 3 cl de sumo de laranja, a dar-se o caso de ser militante ou simpatizante do PSD; 6 cl de vodka, que podem ser ampliados até aos 10 cl se for militante ou simpatizante do PCP. Técnica: Agitar tudo no shaker, coar bem e juntar água com gás até ao cimo, de preferência “Águas das Pedras”, porque é a melhor. Decoração: Rodela de pimento. Tempo de preparação: 5 minutos.