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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

20
Abr12

O Homem Sem Memória - 111

João Madureira

 

111- “Atenção. Camaradas atenção. Atenção camaradas e amigos. Camaradas, atenção, sentem-se porque vamos dar início à sessão de esclarecimento. Camaradas, nas cadeiras estão uns livrinhos que o Partido faz questão em vos oferecer. São o programa e os estatutos do Partido. Camaradas levem-nos e leiam-nos com muita atenção. Neles, camaradas e amigos, está resumido tudo aquilo que somos e tudo aquilo porque lutamos.”


A foice, o martelo e a estrela amarelas lá estavam cosidas no pano como uma bem-aventurança. O vermelho das bandeiras até doía. Tal e qual a capa dos livrinhos distribuídos. A primeira coisa que o José pensou foi que não gostava do amarelo e abominava o vermelho. E a palavra “camaradas” soava-lhe estranha. Tanta intimidade entre desconhecidos cheirava-lhe a promiscuidade. Mas tentou disfarçar. Só que aquilo que começa mal, tarde ou nunca endireita. Apenas mais tarde – tarde de mais, como veremos – é que se deu conta que nunca se pode estimar aquilo de que não gostamos. O cérebro é uma máquina infernal e o coração uma caixinha de enganos.


O camarada esclarecedor, um funcionário do Partido da era clandestina, ladeado por uns camaradas nevoenses mais ou menos conhecidos (ou mais ou menos desconhecidos, que é uma forma de dizer o mesmo mas por outras palavras), na cidade e nos arredores, esclareceu aquilo que pôde e soube, que era pouco e extraordinariamente monótono, mas em terra de calados quem decora os textos, e faz que acredita neles, chega sempre a chefe, ou a algo pelo estilo.


Os camaradas “ladeadores” do camarada esclarecedor postaram no rosto o ar mais sério deste mundo e assim compuseram um arranjo de mesa convincente. Bastava uma expressão circunspecta para fornecer aos camaradas elementos decoradores da mesa um ar suficientemente apelativo e ligeiramente revolucionário. Os camaleões, como todos sabemos, são animais de ambiência.


Dessa forma, todos os militantes camaradas que se esforçaram por corresponder à iconografia comunista, que foram exercitados a venerar no sombrio das suas casas, e no sigilo das reuniões exíguas e “conspiradoramente” clandestinas, compunham um ar beato e conformista com o revolucionário propósito de conferir algum conforto espiritual, e sentido social, a quem vivia rodeado de miséria e ignorância.


Mas estes últimos, como é fácil de deduzir, estavam nas tabernas a beber vinho até ficarem parvos, ou nos barracos a dormir a sesta ou entretidos a “caralhar”, foder e “filhadaputar” todas as frases que articulavam e a jogar ao chincalhão ou à sueca.


O povo é mesmo estúpido. Enquanto vivia a sua vida de alienação, outros, os tais camaradas, esforçavam-se, labutando sentados nas cadeiras dos Pintassilgos, por lhe traçar o destino, para lhe dar uma vida melhor, agitando as sentenças, gritando palavras de ordem, cantando hinos apologéticos, entusiasmando pequeno-burgueses que se sentiam divididos entre o proletariado e a burguesia.


Para ali estavam eles, pobres coitados, como o tolo no meio da ponte sem conseguirem definir o lado a escolher. Tanto os operários, como os burgueses, desconfiavam dos desgraçados pequeno-burgueses. E os camponeses mantinham-se na sua letargia de lagartos na toca.


Por cima de isto tudo encontrava-se o camarada esclarecedor que iniciou, como já sabemos, a sessão cumprimentando os camaradas e amigos que por ali estavam, todos eles com cara de caso e com o coração a modos que apertadinho.


Mesmo em liberdade, os camaradas comunistas continuavam desconfiados e os seus amigos que buscavam esclarecimento sentiam que ali não se respirava um ar de festa, mas antes se vivia um ambiente de serena ambiguidade. Uns sem saber bem o que dizer e outros sem atinar bem com o que pensar. Mas nada que assustasse um bolchevique português, nada que intimidasse seriamente a vontade e a determinação proletárias.


“Camaradas e amigos”, disse o camarada funcionário esclarecedor, e continuou a palrar daquilo que desconhecia, mas pensava conhecer e saber, porque lho contaram com redondas palavras de apreço e admiração os camaradas mais responsáveis, os camaradas mais esclarecidos, os camaradas mais viajados, os camaradas mais sofredores, os camaradas mais lutadores, os camaradas mais brilhantes. Enfim: os camaradas mais camaradas dos camaradas, que, por incrível que possa parecer, acamaradavam pouco com os outros camaradas.


O camarada esclarecedor esclareceu – para isso é que ali estava –, que o mundo se encontrava dividido entre exploradores e explorados, entre ricos e pobres… entre bons e maus. Entre os camaradas verdadeiramente camaradas e os outros. Porque camaradas havia muitos, até os socialistas do Mário Soares assim se tratavam. Mas camaradas camaradas só existiam uns, os comunistas e mais nenhuns. Mas, cuidado, nem todos os comunistas são verdadeiros, nem todos os camaradas são autênticos. Apenas os do “nosso” Partido o são.


Os grupelhos autointitulados de comunistas, que apenas constituem um disfarce da burguesia, não o são, nunca o foram e nunca o serão. Esses fedelhos são apenas pequeno-burgueses de fachada socialista, arregimentados pela burguesia para iludir o povo.


Por isso todos os que ali estavam tinham de fazer uma opção clara. Porque ou se estava com a revolução ou com a reação. Ou se estava com as forças do progresso e do futuro ou com as forças do imobilismo e do passado. Ou se estava a favor da História ou contra ela.


O caminho do futuro ou era o socialismo ou não existia. Mas, atenção, o socialismo que os camaradas comunistas defendiam não era esse socialismo da treta, esse socialismo burguês, esse socialismo subserviente que os socialistas de Mário Soares diziam defender. Nem o socialismo radical, palavroso e esquerdista apregoado pelos grupelhos autointitulados de comunistas, que apenas são um disfarce da burguesia e agentes da CIA. Não, esse socialismo não era socialismo nenhum. Era um embuste. Era uma traição. Era um engano. Era a cara e a coroa da mesma falsa moeda.


O verdadeiro socialismo era o socialismo de transição, um socialismo científico defendido pelos verdadeiros socialistas, os comunistas do Partido Comunista, e apenas por eles, pois um socialismo que se ficava apenas pelo socialismo e pela utilização da palavra socialismo, não era socialismo. Não era nada.


O verdadeiro socialismo era o que possibilitava, e apontava, claramente, a última etapa: o comunismo. Mas o comunismo verdadeiro, não o apregoado pelos esquerdistas, esses grupelhos provocadores autointitulados de comunistas, que apenas são um disfarce da burguesia. Esses fedelhos da CIA.


O socialismo que se limita a sê-lo, e se esgota nas palavras e na forma, é apenas uma mistificação burguesa, organizada com a única e exclusiva determinação de trair os proletários e a verdadeira revolução mundial.


Por isso existia o Partido, para organizar as massas populares e com elas lutar tendo em vista implementar em Portugal o verdadeiro socialismo, o socialismo científico, o socialismo a caminho do comunismo. Não o socialismo do punho. Mas sim o socialismo da foice e do martelo. O socialismo da estrela amarela. Não o socialismo radical, palavroso e esquerdista apregoado pelos grupelhos autointitulados de comunistas, que apenas são um disfarce da burguesia. Cuidado com eles. Muito cuidado, pois esses fedelhos, mesmo não parecendo, são agentes da CIA.


O socialismo do punho existia para travar a revolução, para desmobilizar os camaradas proletários, os camaradas operários, os camaradas soldados, os camaradas camponeses, as camaradas mulheres e os camaradas jovens estudantes. O socialismo apregoado pelos seguidores de Mário Soares era uma traição ao verdadeiro socialismo. O mesmo se podia afirmar acerca do socialismo radical, palavroso e esquerdista apregoado pelos grupelhos autointitulados de comunistas, que apenas eram um disfarce da burguesia. Esses ganapos, com toda a certeza, eram agentes da CIA.


Não, esse socialismo não era socialismo nenhum. Era um embuste. Era uma traição. Era um engano. O socialismo defendido pelos comunistas preconizava a abolição da sociedade dividida em classes, defendia a extinção da burguesia, do estado burguês, do capitalismo e da exploração do homem pelo homem.


“Amigos e camaradas”, continuou a monologar o camarada esclarecedor, “nós não defendemos uma democracia burguesa de tipo parlamentar.” E, perante o silêncio absoluto dos camaradas e amigos que estavam na sala, continuou a malhar nos falsos camaradas socialistas como em centeio verde.


Para ele, e para os seus, o parlamento servia apenas para iludir os portugueses. Esse tipo de democracia formal não tinha espaço para ser desenvolvida em Portugal.


A democracia a implementar em Portugal tinha de ser de tipo popular, uma democracia ditatorial. Uma ditadura democrática, apelidada pelos comunistas de ditadura do proletariado, que era a forma democrática mais avançada do planeta. Porque a democracia formal era uma ditadura da burguesia, enquanto a ditadura do proletariado era uma democracia de operários e camponeses tão avançada que não havia igual e por isso não admitia contestação e, aparentemente, apenas aparentemente, até contradizia e confundia as palavras e os conceitos. A revolução tem destas coisas: subverte tudo. Revoluciona tudo. Põe tudo de pernas para o ar. Por isso é que é revolução.


O José ainda pensou em interromper o solilóquio para questionar o camarada esclarecedor sobre a aparente incoerência das suas palavras que levava a uma contradição dos conceitos e que poderia conduzir a uma interpretação errónea da quantidade e qualidade revolucionária do socialismo científico. Mas o Graça, já há algum tempo militante do Partido, e portanto camarada do camarada, e apenas amigo do José, disse-lhe ao ouvido que era melhor estar calado, pois questões desse tipo podiam ferir a sensibilidade do camarada esclarecedor e comprometer a sua futura adesão ao comunismo.


“Os princípios básicos do comunismo não se discutem. Aceitam-se porque são científicos”, afirmou o camarada Graça para o amigo José, sem admitir contraditório. “Ainda agora aqui chegaste e já estas a contestar, já estás a questionar, já estás a criticar. Deixa-te de merdas e escuta a voz da razão.”


Nesse momento pensou que afinal o comunismo era também uma espécie de religião com os seus tabus, os seus dogmas e com os seus camaradas sacerdotes, camaradas bispos, camaradas cardeais e camaradas papas. E, o que era ainda mais preocupante, com os seus assassinatos em série. Na Igreja não se discutiam os dogmas, no Partido não se discutiam os princípios, nem os meios. Apenas os fins interessavam. Na religião o homem serve a Deus, no comunismo o homem serve o Partido. Agora, por favor, caros leitores procurem as diferenças objetivas.


O camarada Graça, tornou a olhar para o ainda amigo José, observando-lhe o rosto de perplexidade, e voltou a dizer-lhe que na revolução ou se está com o povo ou se está com a burguesia. Na revolução ou se está ao lado dos camaradas explorados ou ao lado dos infames exploradores. E quem se mete ao meio apanha com o fogo cruzado da artilharia revolucionária.


“Mas…”, tentou argumentar o José rezando baixinho algumas queixas e outras tantas perplexidades. Ao que o camarada Graça respondeu com a sua recente autoridade de comunista camarada marxista-leninista, estalinista e punhalista rigoroso: “No processo revolucionário em curso não há mas nem meio mas. Ou estás connosco ou estás contra nós. E desde já te aviso que quem está contra nós fode-se.”


E o José: “Se pões a questão nesses termos, deixa lá o camarada esclarecedor dizer o que diz que eu sou todo ouvidos. Já aqui não está quem falou. No comunismo é tudo muito direto ao objetivo. Eu agora já sou dos teus, vê se te acalmas camarada. Posso ainda não estar convencido, mas sinto que fui vencido. Avante camarada.” E baixinho: “Aiô Silver, avante!... camarada avante, junta a…” E todos na sala continuaram a cantar o hino do Partido como se estivessem no mês de Maria. 

18
Abr12

O Poema Infinito (96): flores mortas de desejo

João Madureira

 

Numa terra plantada de poemas eu abro os olhos na direção impercetível dos amantes que se amam com frases intensas de desejo e com olhares quentes e com sílabas enormes de volúpia. Assim cultivam a vida enquanto os homens sérios debatem as sombras e pisam o chão exíguo da sua verdade surda ao crepitar das lágrimas intensas dos desprotegidos. Mais ao longe o fogo da dúvida ergue o verão em pleno inverno. E os homens cruzam os braços e as mulheres plantam os pés na água pura da ribeira. A memória é uma alfaia permanente que lavra as manhãs frias. Agora os homens discutem com as mãos os versos de pranto que apertam as coisas firmes e que percorrem as sílabas ausentes do amor. As mulheres dançam com passos inconsistentes como se fossem feitas de vento e sussurros. Esta é a hora exata dos deuses se transformarem em seres mortais crescendo dentro do seu coração alienado. Uma música violenta percorre o ondular dos amantes que falam pelo meio de gemidos sustenidos. Eles são os instrumentos que se movem em rede bordando sexos periféricos com os músculos tensos de retórica animal. Por vezes sentem-se sós. Outras vezes ligam os seus motores eróticos e dançam até cair. E os seus lábios pegam-se e despegam-se como se não quisessem transitar para dentro dos espaços proibidos pela razão. Os seus olhos são os sinais límpidos que se tornam solenes na angústia e na liturgia do medo. Os corpos em movimento pronunciam sucintas flores com pétalas de vocábulos luxuriantes. Nas suas bocas transitórias uma confusão meiga mastiga mais um naco de desejo. Sobe por eles uma solidão doméstica libertando-os da matéria dos seus membros. Sentem-se ilhas no meio de um mar altivo que nasce todas as manhãs. Anjos com asas castigadas acordam resplandecentes de beijos neutros. Os homens sérios e indispostos caminham para trás cumprindo com a sua lei da inércia temporal. As mulheres pisam os séculos e os sexos dos violadores e dos conquistadores de corpos. Um sol inscrito na paisagem persegue os animais em cativeiro. E a guerra do silêncio suspende a sua fúria e tenta adormecer no seu leito de sangue. Os crentes enrolam-se na sua poeira do tempo e alimentam os seus profetas como se fossem galinhas poedeiras. Toda a lírica da razão da vida morre de encontro aos deuses gramaticais. A lógica fenece, o amor endoidece, as palavras escrevem-se abrindo o seu sexo divino. As palavras transformam-se em cristais e adormecem mortalmente dentro da sua luminosidade artificial. Tu dizes: a poesia é um momento. E eu acaricio a ondulação alquímica do teu corpo. Essa é a minha certeza. Esse é o meu mistério lavrado no chão da vida. 

16
Abr12

Da expetativa ao imobilismo (XI): A Invenção Política - Chaves dos Pequeninos

João Madureira

 

Leio nos jornais nacionais a notícia de um advogado que inventava tribunais. Leio nos jornais regionais a notícia de que o Conselho Local de Ação Social aprovou o Plano de Desenvolvimento Social para os dois próximos anos. E leio ainda nos jornais regionais que a secção de Chaves do PSD apresentou uma posposta temática no último congresso.

 

Ou seja, tanto a segunda como a terceira notícias são variações sobre o tema da primeira: a invenção. A invenção política enquanto propaganda. A invenção política enquanto fantasia.

 

A “Casa de Abrigo” é a continuação da propaganda de António Cabeleira enquanto putativo candidato a candidato do PSD de Chaves à presidência da Câmara. É uma variação sobre o tema da caridadezinha servida em forma de apoio social de quem nunca fez nada em tempo útil para que os idosos, as mulheres e as crianças não sofressem com a pobreza, a desinserção social, o abandono e a violência doméstica.

 

Este tipo de iniciativas servidas nos jornais a conta-gotas são bem o espelho da demagogia, da falta de ideias e da carência de projetos do vice camarário, que já não sabe o que mais inventar para aparecer na sua postura de faz de conta. Verdade, verdadinha, o homem é mesmo um enorme vazio de ideias, um tremendo equívoco político.

 

Enquanto o António teimar eu também teimo. Um na cadeira do poder e o outro ao lado da cidadania. Por isso volto a insistir na indignação, volto a afirmar sem papas na língua: Cenas de falsa amizade pelos idosos, mulheres violentadas e crianças indefesas ficam muito mal a todos, mas combinam ainda pior com os políticos que sempre os esqueceram e apenas deles se lembram nos períodos pré-eleitorais.

 

Todas as pessoas de bem sabem que a autêntica grandeza humana está na prática da generosidade, mas sem condições. Na capacidade de dar aos que nada têm, não o que nos sobra, mas uma parte do pouco que temos. Dar até que doa. Mas não fazer política nem exigir prerrogativas com essa ação. E muito menos praticar a enganosa filosofia de obrigar os outros a aceitar os nossos conceitos do bem e da verdade.

 

A “Casa de Abrigo”, bem como o mesmo tipo de iniciativas já divulgadas anteriormente, são pura e simplesmente formas de tentar enganar os flavienses. São manobras de diversão patéticas, carregadas de demagogia insultuosa.

 

Nas palavras de quem o anunciou, “o Plano prevê 17 ações, cujo objetivo principal é promover o desenvolvimento social concelhio, bem como a inclusão social de grupos considerados vulneráveis”. Convenhamos que declarar isto e não dizer nada é a mesma coisa. São palavras ocas, revestidas de adjetivos enganadores e carregadas de inutilidade prática. Nada a que já não estejamos habituados por parte deste executivo camarário.

 

Verdade, verdadinha, se João Batista encobria, e ainda encobre, a sua falta de ideias por detrás do seu sorriso natural, o seu vice camarário limita-se a fazer política da forma mais primária, encostando-se à propaganda conservadora e miserabilista, ao vazio de projetos consistentes, à demagogia mais retrograda e provinciana, nada de acordo nem com a nossa tradição, nem com a nossa cultura de tolerância, honestidade e audácia.

 

António Cabeleira dá-se ares de capataz de província, um feitor azedo e rancoroso, capaz de dizer que pretende fazer aquilo que não foi capaz, sequer, de iniciar na última década que esteve no poder. Pusessem no seu lugar um mestre-de-obras e o resultado seria o mesmo. Só que dessa forma poupávamos tempo e dinheiro.

 

Este esbracejar para dizer que existe, este tentar aparecer nas fotografias dos jornais em pose de autarca, em vez de o auxiliar, prejudicam-no. Mas daí não viria mal ao mundo se isso não nos prejudicasse também a todos nós. E é aí que bate o ponto.

 

Mas também serve para mostrar a quem tinha dúvidas que o chefe político do PSD de Chaves faz lembrar o cromo televisivo que não se cala e não se cansa de gritar a sua frustração, afirmando que os políticos falam, falam, falam, mas não fazem nada.

 

Depois de meia página de lugares comuns, de demagogia barata e de um vazio de ideias completamente esmagador, o representante da autarquia flaviense anuncia que “o município está a equacionar o local para acolher estas vítimas, estando em aberto várias possibilidades”.

 

Então vem-se para os jornais assegurar que se tem um projeto e uma ideia para apoiar os idosos, as mulheres e as crianças e ainda não existe um lugar escolhido? Ou seja, quando toca a concretizar as ideias, lá saltam as dúvidas e as imprecisões, lá brota o vazio, lá resplandece a inutilidade, lá brilha a mais comezinha das demagogias onde as palavras – coitadas delas que não têm culpa de quem tão mal as usas e delas abusa –, assentam num vazio enorme e preocupante.

 

Mas não é tudo. Isso é que era bom. Alguém referiu aos jornais que aí vem de novo a sopa dos pobres. A triste e salazarenta sopa dos pobres. A que se seguirá, estamos em crer, o famigerado bodo aos mesmos. Aí estão os sinais do nosso retrocesso civilizacional. Aí estão eles de novo – esses democratas de pacotilha – no seu esplendor classista.

 

Com esta rapaziada da Câmara, todo o cuidado é pouco. Por isso é necessário estar com um olho no burro e outro no cigano.

 

Estamos em crer que António Cabeleira se apresta para fazer da nossa antiga e nobre cidade, a Chaves dos Pequeninos. A ser verdade, o nosso futuro, enquanto cidade e com o putativo candidato do PSD à Câmara, não existe. Só nos resta a caricatura: conformarmo-nos em ser cada vez mais a Chaves dos Pequeninos. E olhem que isto não é apenas reinação, é antes a realidade vinda desse homem que o PSD teima em impor como candidato. 

 

Agora vamos lá à auto propalada proposta do PSD de Chaves em congresso. E lá estão os três delegados de Chaves: João Batista, António Cabeleira e Nelson Montalvão. E lá estão eles de fato e gravata. E lá estão eles a mexer nos papéis no momento da fotografia, a dar-se ares de quem lê a proposta “Coesão Territorial e Justiça Social”. Convenhamos que o título até é pomposo. Mas o título não é tudo numa proposta. Pode até ser um redondo nada. Ou quase. E ela é isso mesmo: uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. É um faz-de-conta. Um ritual para marcar presença nos jornais da terra, claro está, porque no congresso coisas deste tipo passam sem que ninguém delas se aperceba.

 

E lá continuam eles, na sua inútil fixidez fotográfica, com cara de caso, a fazer que fazem, a dizer que dizem, a parecer que mexem nos papéis. Mas cá para nós que ninguém nos ouve, eles já os perderam.

 

Diz o lead da notícia que a tal proposta temática do trio flaviense assentava na isenção de portagens e nos benefícios fiscais como principais exigências. Pois se tinham essa intenção deram com os burrinhos na água. Em primeiro lugar porque andam atrás das propostas da oposição. E em segundo lugar porque o texto é críptico, exíguo e envergonhado. Como quem pede uma esmola. E se há coisa de que os transmontanos se orgulham é de não baixarem nunca a cerviz porque todos sabemos que quanto mais nos baixamos mais o rabo se nos vê. Como é este o caso.

 

Ora vejam lá os considerandos: “A melhoria da coesão territorial passa pela melhoria da coordenação entre políticas sectoriais e territoriais e por uma maior coerência das intervenções territoriais”, por isso é necessária “uma promoção do desenvolvimento económico e social das regiões mais fragilizadas”.

 

Ou seja, isto é nada vezes nada. É o primeiro nada do nada que se lhe segue. O outro nada é ainda outra vaguíssima referência às SCUT’s, referindo a coesão nacional, a localização e as alternativas. Ou seja, perante a necessidade de falar forte e inteligível para que os ouçam, optaram pelo gemido, pelo sussurro, pela mitigação dos problemas em nome de uma pretensa unidade partidária. E isso é um segundo exercício de vazio. Outro enorme e redondo nada. Mas não contentes com esta investida, passaram a referir a política fiscal, a gemer o argumento do desenvolvimento (talvez da falta dele), da competitividade das empresas, da inovação, exportação, criação de emprego qualificado e da utilização de tecnologias amigas do ambiente e da redução do valor do IRC. Mas afinal em que país, e em que região, é que estes senhores vivem?

 

Uma proposta deste tipo tem logo um tremendo problema: o equívoco. E esbarra num segundo: a realidade. E confronta-se com um terceiro: a responsabilidade. O que nos leva a um quarto: o comprometimento. Porque, bem vistas as coisas, quem é que governou o nosso concelho durante a última década? Quem é que se fartou de fazer-se de autista perante os problemas e assobiar para o lado? A culpa não pode morrer solteira e os flavienses já sabem quem são os verdadeiros culpados pelo nosso atraso endémico, pela inoperância da gestão autárquica, pela falta de visão, pelo equívoco das políticas sociais, económicas e culturais. E pelo desastre financeiro. Pelo enorme buraco que é a dívida da nossa autarquia.

 

Mas há ainda uma última coisa que define a inoperância, o equívoco e a timidez desta proposta: a ausência de qualquer tipo de referência aos problemas mais prementes da nossa vida enquanto comunidade regional: a Saúde e a Divisão Territorial. Ou seja, o encerramento dos serviços no Hospital de Chaves e a extinção da grande parte das nossas freguesias. E sobre isso, o trio de transmontanos e flavienses do PSD nada escreveram, nada disseram, nada propuseram. Calaram-se. E quem cala consente. E isso é que é preocupante.

 

Esse silêncio tem todo o peso da desistência, da abdicação, da subserviência perante o poder central e perante as estruturas nacionais e centralizadoras do PSD. Ora Chaves tem de estar acima dos interesses partidários, tenham eles a denominação que tiverem. Primeiro somos flavienses, depois transmontanos, em terceiro somos gente do Norte e só em quarto lugar é que somos portugueses. A não ser assim vão atirar-nos para o cesto do lixo. Por muito que nos digam que não.

 

Pelos vistos o PSD de Chaves já desistiu do Hospital e deu de barato a extinção das freguesias. Mas se o fez, fez mal. E estamos em crer que os flavienses, todos os flavienses, independentemente da sua cor partidária, jamais perdoarão esses gestos insensatos de abdicação.

 

Deixem que lhes cite uma frase paradigmática do escritor norte-americano Oliver Wendell Holmes: “Quando o cérebro humano se distende para abrigar uma ideia, nunca mais volta à dimensão anterior.”

13
Abr12

O Homem Sem Memória - 110

João Madureira

 

110 – E dali se foi José até aos Pintassilgos, um velho teatro desativado na parte antiga da cidade, na companhia do Graça para começar a ouvir o que os defensores da classe operária tinham para lhe dizer. Não podia adivinhar que seria ali mesmo que se iniciaria a sua Via Crucis. O Matrix comunista esperava-o em silêncio.


Quando chegaram ao salão ainda ninguém se tinha sentado. Nem entrado sequer. Estavam todos a arranjar coragem. Olhavam uns para os outros como se fossem estranhos. Lá estranhos eram, apesar de viverem na mesma cidade. Proletários nem vê-los, camponeses nem um. Mas por ali estavam muitos dos seus representantes. Dos que orgulhosamente, sós ou mal acompanhados, se afirmavam seus mandatários ou seus companheiros de luta.


O mal dos proletários esteve sempre na transferência perpétua das suas justas aspirações para as mãos dos autoafirmados seus procuradores, companheiros de luta ou afins. Só que os seus máximos representantes, camaradas de luta e afins, não eram proletários. Nunca o foram. Nem nunca imaginaram sê-lo. Ou sequer parecê-lo. Vestiram-se com essa pele de cordeiro, mas por baixo eram raposas. Raposas famintas de poder e de protagonismo. As raposas podem mudar de pelo mas não conseguem mudar de hábitos.


Gostavam dos livros que se escreviam em nome dos espoliados, onde esses mártires sociais eram as vítimas inocentes dos vilões capitalistas, dos burgueses pançudos e incultos e dos capatazes façanhudos. Estimavam os programas políticos que se elaboravam em sua defesa. Simpatizavam com a iconografia, com a solidária ideia da defesa intransigente dos pobres e dos oprimidos. Apreciavam a qualificação sacrificial, mas a condição objetiva era boa na inspiração paradigmática própria para pintar quadros, compor canções, escrever poemas ou romances comovedores, esses dramalhões socialistas que envergonham quem os escreve e quem neles participa, mesmo que sob a forma de personagens redentoras. Além disso, essas coisas não eram para viver. Eram para ver, para ler, para cantar ou declamar. Para eles a pobreza era apenas uma forma de arte.


Os que por ali cochichavam, compraziam-se em sentir-se heróis de romances neorrealistas. Aspiravam escrever livros a favor dos explorados. Sonhavam redigir brochuras a denunciar as atrocidades dos exploradores. Mas não eram nem uma coisa nem outra. Eram as cigarras da revolução. E, como todos agora sabemos, as formigas justificam indefinidamente as cigarras. São elas que dão moral e sentido à história, mas são sempre elas as pacientes sofredoras. Nem as formigas podem alguma vez vir a ser cigarras, nem as cigarras podem transformar-se definitivamente em formigas. O mundo animal é mesmo assim. Cada qual na sua condição. É essa a lei da Natureza.


Os dirigentes dos autoafirmados partidos proletários constantemente se afirmaram formigas, mas sempre cumpriram com a função de cigarras. Continuamente representaram o seu papel de trágicos comediantes avulsos.


Uma coisa é passar fome, não saber ler, ser inculto, viver dependente de toda a gente, cheirar a merda e conviver com o excesso de intimidade das famílias numerosas em espaços exíguos e mal ventilados. Sofrer com a pobreza, sentir-lhe o cheiro. Sofrer com inveja a falta das coisas boas. Outra situação bem distinta é comer e fazer atos de contrição solidários com os famintos. É ler e fazer que não se lê. É ter autonomia literária e ler para os outros aquilo que pensamos que eles querem escutar, que eles desejam entender, que eles necessitam ouvir.


Uma coisa é ser o juiz imparcialmente parcial, ou ser o advogado defensor de causas de terceiros. Outra bem diferente é ser réu. É ser vítima. Os seus defensores paramentam-se para participar na liturgia do engano. As vítimas rezam para que os tirem dos livros e dos filmes em que os colocaram. Rezam para que deixem de os envergonhar. Ninguém sente qualquer tipo de orgulho em ser um bardamerdas que trabalha muito e é explorado. Ninguém aprecia a exposição pública da sua menoridade, da exposição das chagas de pobreza, do abandono e da incultura.


Uma coisa é parecer querer sofrer. Outra, bem distinta, é sofrer sem tencionar parecer, sem fazer disso teimosia ou emblema. Sofrer mesmo.


Quem enche as prisões são sempre as vítimas da fome, da desigualdade, da discriminação, não os que cantam hinos em seu nome, que afirmam compreendê-los, que fazem alarde em afirmar que os desculpam. Uma coisa é ser o hipócrita que tem pena do ser humano que sofre. Outra bem distinta é ser a pobre criatura que sofre envergonhada a sua condição e ainda por cima é a vítima inocente da hipocrisia dos putativos defensores da classe operária e dos camponeses, mesmo que esse estatuto esteja envolvido na toga de um juiz, de um advogado ou de um dirigente político, sindical, ou até de um escritor que se esforça ao máximo por parecer aquilo que não é. O chefe político safa-se sempre. O escritor disfarça sempre. O proletário fode-se sempre. E por isso preenche o seu destino histórico, o de justificar a sociedade injusta em que vive.


As sociedades construídas, e justificadas, em seu nome foram historicamente as que mais os discriminaram, as que mais os exploraram, as que mais os reduziram à sua insignificância. Os explorados e famintos morreram às mãos dos seus defensores com o argumento de que os estavam a salvar. A morte por um ideal que os justificava foi a maior aberração do século XX. A Torre de Babel comunista, qual bomba de Hiroxima, matou o mais bonito sonho da humanidade, sem sequer parar para pensar.


O tal Partido Comunista Mundial matou mais gente que centenas de bombas de Hiroxima juntas. Mas o genocídio, como muito bem o definiu o camarada Estaline, passou à História como uma estatística. Convenhamos que essa estatística tem a dimensão dos Gulagues proletários e camponeses da Rússia Soviética e da China.

 

Uma sociedade construída sob o paradigma dos insolventes, dos descamisados, dos famintos e dos incultos, nunca poderia ter futuro. Ninguém consegue construir uma ponte apenas com o suor dos proletários, por mais que eles suem, ninguém consegue escrever um livro a pensar que os incultos o vão ler. Além disso, um proletário nunca conseguirá escrever um livro. Quando o escreve ou o lê com olhos de ler já não é um proletário. É uma outra coisa.


Os proletários só são explorados porque são proletários. E, entendamo-nos de uma vez por todas, qualquer proletário aspira a deixar de o ser. Não há nenhum proletário que deseje para os seus filhos a condição de proletário. Uma sociedade de proletários é uma aberração, é um absurdo, é o fim da História.


E não há nenhum registo histórico consistente onde se relate que o filho de um não proletário tenha aspirado e triunfado socialmente tornando-se proletário. Ora uma sociedade orgulhosamente proletária que sabe que só consegue triunfar e ter futuro se os proletários deixarem de o ser, é uma mentira medonha. É um anátema. É um engano ainda maior do que afirmar, e defender, que a sociedade capitalista é o futuro inteiro e louvável da Humanidade.


A condição de proletário é inseparável da condição de explorador. Por isso, e fazemos votos que nos contradigam, quando os proletários deixam de o ser, os capitalistas também acabam porque já não existe mão-de-obra barata para ninguém. Quando se extingue a exploração deixam de existir os protagonistas que lhe outorgavam a razão de ser. E sem razão de ser, a contradição extingue-se. E quando a contradição se extingue a justificação tomba por si. O ideal de uma sociedade proletária caiu quando, como muito bem a definiu Orwell, os animais, que eram todos iguais, passaram a ser uns mais iguais do que outros. E, caros leitores, quem não quer ser o animal mais igual de todos não lhe veste a pele.


Desculpem-me o atrevimento: Há por aí alguém que aspire a ser proletário? Qual de vós é que pretende ir para as fábricas trabalhar? Qual de vós deseja escrever um livro para redimir a classe operária?


Cada leitor deve tentar responder honestamente a cada uma das perguntas. Depois podemos falar em revolução.


Tudo isto, ou quase, o José pensou, ou poderia ter pensado, ainda antes de ter entrado no redil do comunismo. Ou imaginou que pensou antes de cair na armadilha da revolução. Esse passou a ser o seu Matrix. Mas ele, definitivamente, e para que não restem dúvidas sobre o caminho desta história, não era Neo. Ninguém se mete conscientemente na ratoeira. O melhor mesmo é pensar que esteve sempre consciente quando o levaram ao cadafalso. Lá chegado, não o enforcaram, não lhe cortaram a cabeça, apenas lhe amputaram uma das mãos, a direita, aquela com que escrevia.


Mas a história do que há-de vir ainda está por compor. Por agora vamo-nos concentrar na sessão de esclarecimento do Partido. A grande História faz-se destes pequenos equívocos, destas pequenas mentiras, destes sonhos enganadores. 

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