Veio nos jornais que o novo Prémio Nobel da Literatura, quando, lá na sua distante cidade de Gaomi, no leste da China, foi informado da feliz novidade terá dito “fiquei radiante e assustado”.
Na justificação sucinta dos atributos do autor, o júri destacou o “realismo alucinatório” da sua escrita e a capacidade de fundir o imaginário dos contos populares com a História e a realidade contemporânea.
O nome com que assina os seus livros é Mo Yan, um pseudónimo que em português significa “não fales”. E foi isso o que mais me impressionou. Assim, à primeira vista, não encontrei razão explícita para o facto. Mas nem tudo tem um fundamento evidente para existir. A seu tempo a razão das coisas costuma vir à tona, tal e qual o azeite quando o misturam com a água.
Também a mim me vão chegando vários apelos para que não fale. Ou, pelo menos, para que não fale de determinadas coisas. Ou, ainda, para que fale, mas não da forma como o faço. E, como os estimados leitores são testemunhas, eu cá me vou tenteando como sei e posso. Por isso falo do P.P. Coelho para não falar do… mo yan. Por isso escrevo sobre o inenarrável Relvas para não dizer nada acerca de… mo yan.
É que a cidade é pequena e aqui as forças do poder, e os homens das decisões, pela calada dos gabinetes, sempre pela calada dos gabinetes, batem duro e forte. Castigam as pessoas, discriminam instituições, destituem adversários, perseguem concorrentes e indiferenciam as pessoas competentes e de qualidade. E sempre pela costas. Na sombra dos gabinetes. Sempre na sombra. E pelas costas. Na calada dos gabinetes.
Eu até podia, e queria, falar do presidente da comissão política do PSD de Chaves (sim, ainda é António Cabeleira) e da sua patética declaração de que, com a sua proposta de reorganização do território, ele pretende “salvar freguesias do concelho”.
Lá poder podia e querer também queria, mas, na realidade, não posso. É que a cidade é pequena e está sujeita a um torniquete político e ideológico que a torna sufocante. Apetecia-me dizer que as palavras do vice-presidente da Câmara são uma verdadeira provo…
Alto lá. Eu não devo falar de determinadas coisas. Ou, pelo menos, não devo fazê-lo da forma como o faço. Sendo quase insignificante, senão mesmo insignificante, em termos sociais e políticos, dizem que não sou controlável. Ora porra, e eu a pensar que sim. Então eu não fiz tudo o que devia fazer? Não disse tudo o que era conveniente dizer? Não sorri quando devia? Não condescendi na altura certa? Não me portei bem ao jantar? Não comi com os talheres adequados? Não fiz conversa de salão? Não disse aquilo que de mim exigiam e esperavam no momento certo e na altura adequada?
Ah, então foi isso! A verdade nem sempre interessa, ou, pelo menos, não interessa assim despida e nua, assim pura e cristalina. A verdade nem sempre é conveniente.
Pois, como vos ia dizendo, eu até podia falar do buraco, do enorme buraco, que persiste por detrás do Faustino e onde dizem que vão construir um parque de estacionamento. Mas… mo yan. Assim é melhor. O que não é falado não é lembrado e eu agora penso mais na vidinha.
Também com a crise que por aí vai, o melhor é comer e calar. O que é que adianta uma pessoa estar para aqui a chatear-se. Tudo está no seu devido lugar. Os impostos a subir e o poder de compra a baixar. Mas a quem é que isso interessa?
Por exemplo, leio no “Expresso” que para um jantar com os amigos (e eles são tantos e tão bons, não os jantares, claro está, mas os amigos), o seu especialista enólogo recomenda um belíssimo vinho tinto da região do Douro, ao módico preço de 28 euros, que deve ser apreciado, e passo a citar, “num repasto onde entrem carnes fortes, de caça de pena (perdizes, que estamos agora na época delas) ou de pelo (lebres e coelhos)”.
Ah, e por falar em Coelho, Miguel Sousa Tavares escreveu também no mesmo jornal que “já tivemos maus e muito maus governos, mas jamais tínhamos tido um Governo tão incompetente e tão mal preparado para governar”. O que me levou a fazer a analogia com o que se relaciona com a nossa autarquia, pois também já tivemos más Câmaras, mas nunca tivemos uma Câmara tão in… (olha os apelos para que não fales) com… (ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas) pe… (ou, ainda, para que fales, mas não da forma que o fazes) ten… mo yan.
Lá tentar, tentaste, mas controlaste-te a tempo. Afinal és controlável. Com um bocadinho de jeito, também consegues. Bravo.
Com vossa licença, volto aos vinhos. João Paulo Martins, ainda no mesmo semanário, escreve que é um mito o queijo da Serra acompanhar-se com vinho tinto. Pois, apesar de estarmos na controversa zona dos gostos pessoais, e após provar este queijo com vinhos brancos estagiados em madeira, é provável que não se volte ao tinto. E a mesma ideia é válida para os outros queijos amanteigados, como o de Azeitão e o de Serpa.
No meio da polémica, pus-me a pensar que teimar na ideia de que um presidente da Câmara quando se vai embora tem de deixar o seu vice a governar é um mito. E dos maus. E um mito que já deu provas de ser meio caminho andado para o fracasso. Todos nos lembramos de Alexandre Chaves ter teimado em deixar na sua cadeira o seu delfim. E viu os seus intentos destroçados. (Olha os apelos para que não fales…) Também João Batista está a tentar seguir o mesmo caminho. (Ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas...) Dizem na minha terra que só os… (ou ainda, para que fales, mas não da forma que o fazes…) só os… mo yan.
Eu sei que Altamiro Claro e António Cabeleira são pessoas distintas. No entanto também sei que escolher entre um e outro é entrar na controversa zona dos gostos pessoais. Mas eu não tenho receio nenhum em afirmar que gosto mais de vinho tinto a acompanhar o queijo da Serra.
Outra treta, relacionada com o vinho, claro está, é que à mesa o copo maior é para a água. Mas lá está João Paulo Martins para nos desfazer de novo o mito, ou melhor, o erro. A água não requer, nem beneficia, de um copo grande. O vinho, pelo contrário, pode melhorar enormemente. Por isso é que eu acho que a candidatura do António Cabeleira não beneficia nada em ser servida em copo grande. Reúne todas as condições para ser servida em copo pequeno. É que a água nem tem sabor, nem cheiro, nem cor. Além disso, quem é que ainda acredita no putati… mo yan.
Eu ainda não entendi em que momento foi que António Cabeleira julgou que tinha perfil para ser aquilo para que manifestamente não tem… (Olha os apelos para que não fales… ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas... ou, ainda, para que fales, mas não da forma como o fazes…), nem nunca virá a… mo yan.
Na sua coluna habitual, já para o fim, o diretor do “Expresso” escreveu que “se há coisas que o país não perdoou a Sócrates foi a maquilhagem da verdade, o ‘empurrar com a barriga’, o dourar a pílula, a inconsciência otimista, as faturas adiadas.”
Também eu penso que os cidadãos do nosso concelho não vão perdoar a este executivo camarário a maquilhagem da ver… (olha os apelos para que não fales…), a inconsciência otimista das obras prometidas e irreali… (ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas...), as faturas adiadas de uma década de desperdí… (ou ainda, para que fales, mas não da forma como o fazes…).
Apesar do sacrifício feito em me conter, não quero terminar sem partilhar uma sugestão do enólogo do “Expresso” sobre um vinho que devemos guardar na garrafeira. Das suas seis sugestões, eu fiquei-me pela garrafa de preço médio (apenas 30 euritos, ó crise vai-te embora, porra, e leva contigo o Relvas e põe-no a estudar e leva também o Coelho e põe-no em casa a descansar).
É um tinto do Douro com o nome de “Quinta do Passadouro” Reserva Tinto de 2009. E escolhi-o porque me fez lembrar António Cabeleira. E sempre por boas razões. Desde logo pelo nome que nos remete para o passado. Para um passado que queremos bem passado. Não numa referência à carne de bife, convenhamos, mas sim numa alusão à memória. Porque, bem vistas as coisas, a memória é o que fica depois de tudo.
Mas atentem sobretudo na telegráfica recensão. “Com base em vinhas velhas de castas misturadas, é algo agressivo enquanto novo mas evolui muito bem, tornando-se refinado passados alguns anos na garrafeira.”
Fora as castas misturadas, que para aqui não são chamadas, a sua “qualidade agressiva” enquanto novo não vos faz pensar em nada? Se sim, ótimo, se não amigos à mesma. Mas sempre vos digo que engendrar este texto tem-me dado uma imensa trabalheira.
É minha firme convicção que o vinho e o senhor vice-presidente da Câmara de Chaves possuem uma característica comum, é que se tornam refinados passados alguns anos na garrafeira.
Eu, como quem não quer a coisa, já tenho a minha garrafa “Quinta do Passadouro” quietinha no lugar a refinar-se. Não sei se me entendem. O que eu quero dizer é que… (Olha os apelos para que não fales… ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas... ou, ainda, para que fales, mas não da forma como o fazes…)
Ainda não entenderam. Pois eu quero dizer que, para a nossa terra ter futuro torna-se necessário que o putativo candidato do PSD seja colocado no… mo yan.
PS – A “Quinta do Passadouro”, está reservada para, daqui a uns anos, ser degustada acompanhando um queijo da Serra com o meu amigo Anselmo. E sei que nos vamos rir e apreciar o seu estágio.
Mas o que me levou a escrever este PS tem tudo a ver com as boas notícias. Isto para não me acusarem de bota abaixo. Finalmente Chaves ultrapassou Vila Real e é líder distrital.
Segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), os concelhos que apresentaram maior número de desempregados em termos absolutos, são Vila Real e Chaves, 15% e 17% respetivamente. E isto no fim de Agosto, que é o mês do turismo. Ou seja o desemprego cresceu 2,46% em relação ao mês de Julho.
Finalmente, lideramos o distrito. E estamos à frente de Vila Real. É caso para celebramos. E pensar que devemos isto ao PSD nacional e, muito especialmente, ao PSD local, e à sua gestão autárquica, é um fator de alento e de esperança no futuro.
Definitivamente, João Batista e António Cabeleira merecem o nosso aplauso. E mais qualquer coisinha.