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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

09
Nov12

O Homem Sem Memória - 133

João Madureira


133 – Quando José relatou o sucedido aos camaradas, eles limitaram-se a censurar-lhe o medo e a desvalorizar os sinais. A terra podia ser um antro de reacionários, mas aquela não era gente com coragem suficiente para se meter com o Partido e os seus militantes mais distintos. “Eles que se atrevam a molestar-nos que logo ficam a saber do que somos capazes. Os comunistas não têm medo de nada nem de ninguém. Era o que mais faltava! Nós enfrentámos, durante a longa noite fascista, as forças policiais e repressivas, a PIDE e o Salazar. Enfrentámo-los e vencemos. Não são agora meia dúzia de matarruanos que nos amedrontam ou que nos limitam no nosso direito sagrado a fazer política.”


Depois de mais uma tarefa revolucionária concluída, foram jantar a um dos poucos restaurantes que se encontravam abertos. O dono serviu-lhes de forma neutra umas ousadas costeletas de vitela com batata cozida e vinho da casa. Entretanto escureceu. Quando se preparavam para pedir o café, uma valente pedrada contra a porta do restaurante fê-los saltar das cadeiras. Todos ficaram em silêncio, menos o patrão da casa que lhes serviu o café com o pedido de que pagassem rápido e se fossem embora o mais depressa possível. Informou-os de que um grupo de pessoas se dirigia para a salão onde se ia realizar o comício munidos de varapaus, seitouras, enxadas, forquilhas, engaços, algumas pistolas e uma que outra caçadeira. O propósito não era pacífico. A reação estava alerta e organizada.


“Vão-se embora antes que eles deem cabo do meu restaurante”, pediu-lhes. “Vocês deviam saber que por aqui os comunistas não são bem-vindos. Cá na terra, até os socialistas são molestados e perseguidos. Vão-se embora enquanto é tempo.”


O camarada de Vila Real foi taxativo: “Não podemos fugir. Vem aí a Maria Tenrinha para fazer o comício. Ela é membro do Comité Central. O que iria pensar de nós? Que somos cobardes? Um comunista nunca vira a cara à luta.”


Nova pedrada embateu em cheio na porta do restaurante. De seguida ouviu-se um grito: “Morte aos comunistas.” Logo depois ouviu-se uma saraivada de sons de ferros e paus a bater com força no empedrado da rua. O dono do restaurante começou a desligar as luzes e encaminhou-os para uma saída lateral. “Fujam, que ainda há tempo”, disse-lhes em jeito de despedida.


Na rua, dirigiram-se apressados ao salão, mas não se atreveram a entrar. Do lado de fora, uma multidão furiosa ululava e batia no chão com varapaus, aguilhadas e vários utensílios agrícolas. “Morte ao comunismo. Comunistas para a Sibéria”, bradavam excitados os homens. “Assassinos”, gritavam desvairadas as mulheres.


Por muita coragem que tivesse aquela meia dúzia de intrépidos militantes comunistas, o ar assanhado da população era um enorme dissuasor de qualquer propósito que não fosse abandonar Ribeira de Pena com a organização necessária. E quanto mais depressa melhor. O camarada dirigente de Vila Real ainda ensaiou uma derradeira solução. Como a entrada do salão estava bloqueada, resolveu dirigir-se ao posto de GNR para pedir proteção e apoio. A liberdade de expressão era um direito, e uma conquista, da revolução democrática e nacional. Ninguém podia coagir ou tentar proibir os comunistas de divulgar as suas ideias e propalar os seus ideais. Além disso, a GNR, como força da ordem, tinha o dever de os proteger e de impor o respeito pelas mais amplas liberdades. A sua missão consistia em fazer vingar o princípio da coexistência pacífica entre a população e os diferentes partidos políticos.


“Vamos ao posto da GNR exigir-lhes que dispersem os reacionários para que possamos fazer o nosso comício”, disse com cara de caso o camarada de Vila Real. “Anda daí comigo José, o teu pai não é da GNR? Anda, vai lá falar com eles, enquanto eu fico a guardar os carros.” “Eu vou lá mas só se tu fores também. Eu sou apenas um militante de base, enquanto tu és dirigente. Quem tem as credenciais és tu. O Aníbal fica aqui a guardar os carros. Ele e os outros. A Catarina vem connosco.”


O Aníbal, apercebendo-se da trovoada que se estava a preparar sugeriu que fossem todos ao posto da GNR e nos carros. Estacionados perto do posto estavam a salvo.


Quando chegaram ao posto, encontraram o plantão a fechar as portadas das janelas, o portão da rua e a aferrolhar por dentro a entrada.


“Por favor, por favor, ajude-nos. Os reacionários não nos deixam entrar no salão onde vai ter lugar o comício do Partido. Mande uma patrulha lá acima por ordem naquilo”, exigiu o camarada dirigente de Vila Real.


O soldado da GNR olhou para ele com todo o desprezo do mundo e disse-lhe que a patrulha tinha ido tomar conta de uma ocorrência numa aldeia do concelho.


“Então chame o cabo.” “O cabo foi-se deitar.” “Às nove da noite?” “Está doente.” “Então chame o sargento, pois o caso é grave e pode trazer consequências.” “O nosso sargento foi passar o fim de semana a casa.” “Então e os outros guardas?” “Os outros guardas foram gozar o seu dia de folga. Eles também têm mulher e filhos.” “E então nós?” “Desenrascam-se como puderem.” “Mas somos meia dúzia de pessoas. Não podemos com aquela gente toda.” “Quem bem faz a cama bem se deita nela. Boa noite.” E mais nada disse o plantão da GNR. Bateu com a porta, deu duas voltas à chave e desapareceu deixando-os ali no meio da rua com cara de incrédulos. (Íamos para escrever cara de estúpidos, mas, como todos sabemos, os comunistas podem ter cara de tudo, menos de estúpidos. Oferecemos as antigas e saudosas obras completas de Lenine, da Novosti, em espanhol de lei, e ainda novinhas em folha, a quem nos provar o contrário.)


“Não acredito”, disse o camarada dirigente de Vila Real. “A GNR em vez de nos proteger abandona-nos à nossa sorte.” A camarada Catarina, com a sua lucidez feminina, disse: “O melhor é irmos embora enquanto podemos e lá em cima esperar pela camarada Maria Tenrinha e avisá-la de que o comício não se pode realizar por falta de segurança.”


Uma parte da multidão começou a descer a rua de encontro aos camaradas batendo com os paus no chão como se estivessem a afugentar cobras ou a espantar javalis. Jovens de moto começaram a fazer-lhes tangentes e a insultá-los.


“Vamos embora”, ordenou o camarada dirigente. Encontrámo-nos lá em cima na estrada que liga a Vila Pouca. E ninguém para. Quem se meter à frente é reacionário morto.


Quando se enfiaram nos carros, já a multidão os tinham cercado. Enquanto batiam nos viros e na chapa do carro com o que tinham à mão, insultavam-nos de tudo: “Filhos da puta, comunistas do caralho, assassinos, ladrões, papantes.”


Dentro do carro, o José, virando-se para o Aníbal, quase em lágrimas, perguntou: “Porque será que o nosso povo é tão reacionário. Será que não enxerga que quem os defende somos nós, os comunistas. Por que razão nos odeiam tanto?” “Não ligues. O povo não presta.” “Como podes dizer isso, sendo tu comunista?” “Sempre é melhor do que pensar que quem não presta somos nós.” “Que terrível dilema: Nós defendemos o povo e o povo é contra nós.” “Lá terá as suas razões…”, mas não acabou a frase pois teve de travar de repente para não atropelar uma mulher idosa que com uma forquilha em punho se meteu à frente do carro para o picar como o fazia aos animais bravos.


“O camarada de Vila Real disse que não devíamos parar. Quem se atravessar à frente morre.” “Quem morre somos nós se atropelarmos alguém,” argumentou com muita sapiência o Aníbal.


Um pouco mais adiante, o outro veículo dirigia-se com velocidade variável em direção ao cordão humano de homens mulheres que gritavam impropérios e agitavam toda a espécie de ferramentas agrícolas. Adivinhava-se uma tragédia, pois nem o carro abrandava nem a barreira humana abria qualquer brecha.


“Vamo-nos foder todos por causa daquele maluco. Se pensa que pode atropelar alguém e sair daqui incólume é bem mais maluco do que eu imaginava”, comentou o Aníbal. “Que Deus nos ajude neste momento tão delicado”, desabafou o José. “Tu ainda és católico?” “É apenas uma força de expressão.” “Com a verdade me enganas.” “Segue o carro da frente e não traves.” “Posso não ser lá grande comunista, mas decididamente não sou louco.” “Depois de ele matar alguém, o seu destino será o nosso destino.”


Milagrosamente a muralha humana abriu uma frincha quase no momento da colisão.


Estavam os intrépidos e decididos marxistas-leninistas transmontanos a acelerar por ali acima quando o automóvel da Maria Tenrinha passou por eles sem se ter apercebido que eram os seus camaradas quem abandonava Ribeira de Pena para não serem trucidados. Quando, um pouco mais adiante, pararam os veículos, discutiram se deviam ou não ir atrás da camarada do Comité Central, para a salvarem.


Meterem-se no vespeiro era morte certa, mas abandonar a camarada era uma cobardia, um ato indigno de comunistas revolucionários. Enquanto discutiam, apareceu o carro de um camarada de Névoa que em boa hora tinha decidido ir assistir ao comício. Vendo-os parados, parou também e perguntou-lhes o que faziam ali imóveis no meio da serra.


Depois de o informarem sumariamente do ocorrido, resolveram que o melhor era o camarada ir a Ribeira de Pena disfarçado de turista e tentar avisar a Maria Tenrinha do sucedido. Para o efeito teve de arrancar os cartazes dos vidros e das portas da viatura e desfazer-se de toda a iconografia comunista que nela transportava.


Quando lá chegou, já a camarada Maria Tenrinha tinha sido agredida e, com um olho negro e um joelho inchado, ia agora a caminho do hospital de Vila Real.


No hospital, a camarada do Comité Central, enquanto era observada e lhe faziam o curativo, contou aos camaradas que a rodeavam que vendo tanta gente junta dirigiu-se-lhes e que de imediato foi agredida, ainda antes de ter perguntado onde ficava o salão do comício do Partido. “Ai tu é que és a Maria Tenrinha?”, questionou-a um popular. “Aqui as bruxas comunistas levam porrada até lhes sair a ronha.” Já o pau estava a descer na direção da sua cabeça quando ela sacou de um spray de defesa pessoal e o disparou bem na direção dos olhos daqueles que pretendiam agredi-la. Mesmo assim foi atingida por vários murros e um que outro pontapé. Ato contínuo, os dois camaradas seguranças pegaram-lhe com determinação, enfiaram-na no carro e levaram-na dali com toda a velocidade que o carro permitia. 


Como a camarada do Comité Central era a companheira de outro camarada do Comité Central que tinha seu cargo as tarefas de organização e controle da segurança do Partido, logo na manhã seguinte telefonou ao governador civil de Vila Real, para se queixar da vergonhosa atuação da GNR, cuja jurisdição estava a cargo do representante do governo no distrito, e para o avisar que no fim-de-semana seguinte Ribeira de Pena ia assistir ao maior comício da sua existência enquanto vila.


E assim foi. Centenas de carros, camionetas, motas e autocarros transportando milhares de simpatizantes e militantes comunistas entupiram a estrada que ligava Vila Pouca a Ribeira de Pena agitando bandeiras com a foice e o martelo, buzinando sem parar e gritando palavras de ordem até ficarem roucos.


Os mesmos populares que no dia anterior se tinham engalfinhado contra a Maria Tenrinha e os seus companheiros, desta vez juntaram-se aos camaradas e comportaram-se como se fossem comunistas de toda a vida.


José lembrou-se do ditado popular: Se não podes com eles junta-te a eles. O povo é mesmo assim, como as giestas no monte, afaz-se ao sentido do vento.

07
Nov12

O Poema Infinito (119): o fluxo

João Madureira


Respiram-me as mãos aflitas de tanta luz. E eu respiro alto e fundo fustigado por deus e pelo demónio. E a lua multiplica a angústia. E a angústia arde entre o sopro e o murmúrio. Esta é a hora da santa aliança entre o divino e a irreverência. É o tempo do limbo, esse lugar entre o vazio das sombras e o silêncio da alba. Volto-me no sentido da tua ausência onde me sinto uma semente adormecida. Esse é o enigma da pastora de viagens que adormece sonhando com o eterno enigma das brisas matinais. E a pastora fica calada na totalitária imobilidade de perceção. Agora tenho a certeza de que o meu jardim interior tem uma astronomia infinitamente minúscula. E nele vejo os insetos, com os seus múltiplos aspetos e as suas delicadas antenas, colidirem de frente com os átomos e orientarem-se pelo sentido das formigas. Nesse jardim, as palavras ficam fascinadas com a meticulosidade das constelações legíveis e permanecem sempre intactas. E as palavras transformam-se em fábulas que adormecem junto ao sol sintetizado das folhas. O jardim é agora um estremecimento. Toda a certeza do mundo se veste com as cores penetrantes do adeus. E o sol abre a noite onde mora a memória, onde os relâmpagos principiam de novo a reconstruir o mundo. E o meu corpo fica silenciosamente enrolado nos meus membros. É o caos que surge em todo o seu esplendor de borboleta ensurdecida pela beleza das cores do arco-íris. É de novo o princípio. E a água corre dentro da tua boca ardente. É dessa forma que o inferno procura a celeste ardência dos corpos. E o vazio rodopia. Explodem os gestos. Explodem as palavras. Explode a fúria suave dos corpos. Toda a vontade é agora uma força intensa de volúpia. E a fluência do poema deixa-me a boca incompleta. Lágrimas obscuras descem pelo rosto ignorando o futuro. A tua voz é um gesto em chamas. E a tua língua acende-se de sombra e vento e pousa no centro vazio dos dias. Nasce um corpo que é uma vontade, que é um sinal breve de princípio, um corpo que é quase nada. Que é quase tudo. E nele se dilui a liberdade rude do desejo. Falas-me agora do princípio escuro da paixão. E as partículas fundem-se na sua evidência atómica. E tocam a nudez como se ela fosse um bicho ao mesmo tempo obsceno e belo. De novo o caos nos visita montado nas asas da sua borboleta teórica. E o caos respira o ardor completo das palavras que respiram a tenacidade da matéria. O turbilhão, por incrível que pareça, torna-se legível. E envolve-se na parte permanente do plasma e da matéria inacessível, que os físicos denominam de antimatéria. Novamente viajo no prodigioso núcleo onde se formam os sentimentos. Aqui existe a superabundância do nada.  Toda a matéria é uma dissidência de deus. Todo o deus é um delírio legível e branco. Tudo é uma sequência viva de palavras. Todos os sinais se transformam em palavras. Todo o silêncio é uma fissão de palavras. Por isso elas dançam antes de serem absorvidas pelos buracos negros do universo. E dançam no seu desejo de delírio. E as suas linhas ardem na sua própria cor. Cada vez estou mais perto da fenda inicial da vida, da origem de tudo, da criação completa. Sobre o meu jardim interior desce um ponto negro que resolve a origem da luz e a equilibra dentro do seu silêncio suspenso. E o fluxo da vida não cessa, apesar do abismo branco da morte. 

05
Nov12

Pérolas e diamantes (10): o júbilo, o frenesim, estórias e indignação

João Madureira


Começamos hoje como terminámos a semana passada, com júbilo e regozijo. Para os mais desatentos lembramos que, segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), os concelhos que apresentaram maior número de desempregados em termos absolutos, são Vila Real e Chaves, 15% e 17% respetivamente. Isto no fim de Agosto, que é o mês do turismo. Ou seja, o desemprego cresceu em Chaves 2,46% em relação ao mês de Julho.

 

Finalmente lideramos o distrito. E estamos à frente de Vila Real. É caso para celebrarmos. E pensar que devemos isto essencialmente ao PSD nacional e, muito particularmente, ao PSD local e à sua gestão autárquica, é um fator de alento e de esperança no futuro.

 

E imaginarmos a redundante hipótese de o nosso futuro passar por uma Câmara presidida por António Cabeleira, então é caso para fazer rebater os sinos, especialmente os sinos das igrejas das freguesias extintas, cuja proposta de agregação, na visão progressista de António Cabeleira, João Batista, Nelson Montalvão e Manuela Tender, visa salvar freguesias. Salvam-se umas e morrem outras. É a lei natural dos políticos variáveis.

 

Estivesse a oposição no governo e estes senhores, e a senhora, claro está, faziam o que agora tão veementemente criticam nos outros. É por isso que a política é tão patusca. É por isso que os políticos cada vez têm mais apoio por parte dos portugueses. E, digo-vos de coração, todos eles merecem o nosso amparo.

 

Deixem que aqui faça um pequeno parêntesis. Eu sei que estão surpreendidos por tão grande lembrança, refiro-me, claro está, a Manuela Tender. Mas o que tem de ser tem muita força. Sim, a senhora ainda está no parlamento, pois eu vejo-a sempre sentadinha no seu lugar, educada e atenta, e nesse seu prestigiado estatuto, e estado de alma, tem desempenhado o seu papel com muito denodo e subido empenho.

 

Ainda não nos cansámos de observar a senhora deputada bater palmas e sorrir quando os seus correligionários de partido falam, ou os do governo discursam (bem, quando os do governo dão aquelas boas notícias que a todos nos enchem de esperança e júbilo, como o aumento estratosférico do IRS, bem, aí a senhora deputada sai da sua pacatez habitual e aplaude tanto, mas mesmo tanto, que até o senhor primeiro-ministro fica surpreendido por ter na sua bancada parlamentar deputada tão solidária), a senhora sorri com um sorriso verdadeiramente liberal. E extraordinariamente neo.

 

Mas também, mesmo que lhe custe, e nós sabemos que sim, quando os deputados da oposição tagarelam a dizer mal do seu partido, da sua coligação e, sobretudo, do seu querido e estimado primeiro-ministro e do seu governo, a senhora deputada (que não se cansa de citar e recitar e tornar a citar, o chefe do executivo como se Pedro Passos Coelho fosse um sábio da Pérsia), sabe manifestar o seu genuíno desagrado.

 

Só ainda não a vimos deitar faladura. Mas ainda não perdemos a esperança de a observar, lá no hemiciclo de São Bento, a discursar em favor dos transmontanos e, sobretudo, dos flavienses. Assim ali de pé como as árvores, a defender as nossas freguesias, a defender o nosso Tribunal, a defender o nosso hospital, a defender o nosso comércio tradicional, os nossos agricultores, o nosso direito a andar nas autoestradas que pagamos todos os meses através dos impostos, enfim, a defender o nosso direito a termos futuro.

 

Definitivamente, João Batista (Ó senhor presidente, os flavienses já estranham a sua prolongada ausência das cerimónias camarárias e afins, e por consequência das fotografias nos jornais. Apareça. Caro presidente, por favor, apareça mesmo que seja muito de vez em quando, pois sentimos a falta do seu sereno e simpático sorriso. Vá lá senhor presidente, não nos abandone antes mesmo de desocupar definitivamente o cargo para que foi eleito. Por favor! O povo que em si votou reclama-o. Por isso faça-lhes, faça-nos, a vontade. Por favor, por favor senhor presidente. Olhe que nós sentimos a sua falta.), António Cabeleira, Nelson Montalvão, Manuela Tender e todo o seu pequeno grupo de apoiantes acérrimos merecem bem o nosso aplauso. E, estamos em crer, o seu esforço será devidamente recompensado.

 

Mas o que desta vez nos abalança para a escrita são as atividades que semana a semana o município de Chaves, através do seu presidente em exercício e putativo candidato a presidente efetivo, protagoniza e que por isso vemos escarrapachadas nos jornais, quase sempre na capa e a cores, e que nos enchem de júbilo.

 

Uma das que nos chamou mais a atenção foi o “Primeiro Fórum Europeu de Cooperação Transfronteiriça de Segurança Rodoviária”, evento que encerrou a “Semana da Educação e Segurança Rodoviária na Eurocidade”. Veem, lá voltam eles com a brincadeira da Eurocidade. Estes autarcas de Chaves e de Verin são uns patuscos.

 

Reúnem-se à volta de uma mesa para lerem umas folhas escritas pelos assessores e saltam logo a dizer que aquela reunião é um Fórum. Seguidamente basta um dos presentes falar português e outro galego, para propalarem que é Transfronteiriço. Posteriormente chega apertarem as mãos uns aos outros e trocarem meia dúzia de abraços e palavras de circunstância para falarem imediatamente de cooperação. E depois enchem a boca com a Segurança Rodoviária por acarrearem meia dúzia de guardas-civis e colocarem duas dezenas de crianças a guiarem uns carrinhos de feira num campo alcatroado em Verin e dizerem que foi um sucesso de adesão e participação.

 

Para que esta história fique para a História como uma estória com muita imaginação e com os figurantes devidamente identificados, podemos dizer que os convidados de honra foram Roberto de Castro, subdelegado do Governo em Orense (Olhem, nós até conhecíamos vários tachos, panelas, designações, prebendas, títulos e demais caganças nominativas, mas esta de subdelegado do Governo em Orense é de se lhe tirar o chapéu. Mas Orense é algum principado? Algum enclave territorial para merecer a presença de um delegado e de um subdelegado do governo numa cidade tão pouco relevante numa relação entre Estados?), José Hermida, tenente-coronel chefe do setor de tráfico da Galiza, David Llorente, chefe provincial de Tráfico, Juan Manuel Jimenez Morán, alcaide de Verin (outro patusco da dimensão de António Cabeleira) e o próprio presidente em exercício do município flaviense, o nosso querido e estimado arquiteto paisagista.

 

E enquanto dentro de portas, os adultos brincavam com palavras tão bonitas como “coordenação dos serviços de vigilância” e “acordo de Schengen”, além dos lugares comuns useiros e vezeiros nestas ocasiões, cá fora as crianças brincavam com os carrinhos a pedal e subiam para um helicóptero e para um camião dos bombeiros como se fossem diversões da Feira dos Santos.

 

E riam-se muito. Tanto as crianças, como os adultos.

 

António Cabeleira, na cerimónia inaugural, meio tapado pelo seu computador portátil, chegou mesmo a esboçar um sorriso quase natural. Vê-se que tem treinado com os seus assessores de imagem. É que a campanha está aí à porta, e os seus presumíveis adversários nisso ganham-lhe sem nenhum esforço e até lhe dão uma capilota. Por isso, o putativo candidato do PSD ainda tem muito que aprender. Mas se adotar a pose sorridente de João Batista, já não vai nada mal acompanhado para a contenda.

 

PS – Sobre a extinção das freguesias no nosso concelho, o PSD sentiu-se tão incomodado com a atitude de indignação e contestação por parte do PS, que o seu líder concelhio, novamente António Cabeleira (quem diria, o homem está em todas, cada cavadela sua minhoca), ele e o seu reduzido núcleo de persistentes apoiantes, acusou os subversivos e temíveis socialistas flavienses de, e passamos a citar, “discutir a bondade ou não da lei, mas nunca as propostas concretas” (como se elas fossem discutíveis), “nem apresentar qualquer alternativa. Bem pelo contrário, numa atitude que não tem qualificação, apelou, com a distribuição de um panfleto, à revolta das populações”.

 

Por muito que nos custe a admitir, o senhor presidente do PSD flaviense, e presidente em exercício da Câmara de Chaves, tem razão. Esses agitadores do PS são uns bardinos, pois mostram-se dispostos a contestar e a lutar. Onde já se viu tamanha desfaçatez. Apelar à revolta das populações é um crime de lesa pátria. É uma atitude indigna de um partido democrático. Eles deviam era seguir o PSD e aceitar a extinção das freguesias de bico calado. Deviam era votar na proposta do PSD, aplaudi-la de pé e ir para casa calçar as pantufas e ouvir os discursos de Vistor Gaspar para se convencerem da infalível verdade dos seus números que ainda nem uma única vez bateram certo nem com a realidade nem com as suas próprias previsões.

 

E, bem vistas e analisadas as coisas, as freguesias afinal servem para quê? Apenas prestam serviço às poucas pessoas que habitam nas aldeias. O melhor será extingui-las a todas. Acabava-se com o mal pela raiz. Basta a troika exigir isso a Pedro Passos Coelho que ele assina logo por baixo de cruz. E nem pestaneja. E os nossos autarcas do PSD batem logo palmas de pé. Pois que lhes faça bom proveito a destruição do nosso mundo rural. Um dia a história os julgará.

 

Assim como os julgará pela que estão a fazer, ou a deixar fazer, ao Tribunal de Chaves e ao Hospital. Mas em verdade, em verdade vos digo, e lhes digo, quem semeia ventos colhe tempestades. 

02
Nov12

O Homem Sem Memória - 132

João Madureira


132 – O Aníbal “Goela Grande” era assim conhecido pelo simples facto de conseguir emborcar uma caneca de cerveja apenas de uma assentada. Quem espreitasse pelo vidro do recipiente bojudo podia observar a goela do Aníbal abrir-se e ficar da forma de um túnel do comboio enquanto engolia o líquido amarelado. Depois de engorgitar a cerveja dava sempre um arroto engraçado e de seguida fumava um cigarro. Pelo meio expelia sempre um peido com que pretendia alegrar o seu desempenho.


Era rapaz para beber cerveja como um bávaro e era até fisicamente parecido com eles, quase albino, vermelho de cara e barrigudo como uma burra prenha. Só não vestia calções porque infelizmente tinha pernas à Garrincha e também não usava suspensórios e chapéu a condizer porque eram adereços caros. Era também um homem de paz, o que num comunista parecia algo bizarro. Era, ainda, bom amigo, pachorrento e andava sempre bem-disposto e disponível para tudo, até para fazer a revolução, mesmo que a “puta da revolução revisionista”, como a classificava o Mário “Camões”, consistisse apenas em colar cartazes, pintar paredes e redigir comunicados que, bem vistas as coisas, ninguém lia, a não ser os próprios autores.


Enquanto o Graça e o José beberam dois finos cada, o Aníbal “Goela Grande” ingurgitou três canecas que acompanhou com dois pratos de marisco do Eusébio. Arrotou três vezes, deu três traques e fumou três cigarros. O pai do Aníbal, com um misto de ironia e verdade, disse que boa parte do que ganhava a vender cerveja, pratos de tremoços e amendoins era gasta para tapar o buraco da endémica sede do filho. Ele a ganhar dinheiro por um lado e o filho a bebê-lo e a mijá-lo por outro.


Depois de deixar o álcool produzir o seu efeito colateral, o Graça chegou ao que queria: convencer o José e o Aníbal a passarem o fim-de-semana ao serviço do Partido. O Aníbal sorriu e disse que talvez sim, já o José levou-se dos diabos. “Então agora não sou independente?”, perguntou. Ao que o Graça respondeu: “Isso é durante a semana e aqui em Névoa. O Partido necessita que os seus melhores quadros o sirvam a tempo inteiro. E tu és indispensável. Neste sábado temos de organizar um comício em Ribeira de Pena. Tu foste indicado para, em conjunto com os camaradas de Vila Real, decorares a sala e montares o sistema de som.” “Eu sozinho?” “Não, tu e o Aníbal.” “Mas o Aníbal só sabe beber canecas de cerveja.” “Olha que não. Também sou bom a beber finos e até a beberricar cerveja pela garrafa”, contrapôs o “Goela Grande”. “Não sejas reacionário”, avisou-o o Graça. “O Aníbal é um bom condutor e uma excelente companhia.” “É disso mesmo que estou a precisar, da companhia de uma esponja”, rematou o José.


O Aníbal riu-se. O Graça sorriu e o José amuou. “Não posso negar-me?”, perguntou o José. “Não convém. Com a ficha partidária que tens, o melhor é cumprires com as indicações do coletivo.”


Sábado de manhãzinha, o Aníbal foi buscar o José a casa e, numa velocidade hesitante, pois o Volkswagen do camarada Marcelino não dava para mais, puseram rodas a caminho. Chegaram a Ribeira de Pena por volta do meio-dia. Os camaradas de Vila Real ainda não tinham chegado. Gente importante faz-se sempre esperar. Foram até um bar e pediram de beber e de comer. Enquanto o José ingeriu dois finos e comeu um prego, o camarada Aníbal enfunilou três canecas e outros tantos pregos no pão. Arrotou três vezes e fumou três cigarros. No fim, um pouco mais a modinho, deu um terno de peidos. “Porco”, acusou-o o José. “Gases”, respondeu o Aníbal. “E com os gases não se brinca. Temos de lhes dar a liberdade que requerem. O meu médico disse que não os devemos reter. Faz muito mal à saúde.”


Eram cerca das três horas da tarde quando chegou a brigada de Vila Real. Quando olharam para o José nem o reconheceram. A sua toilete de independente era um disfarce com sucesso. O camarada mais graduado da brigada disse-lhe: “Pareces um verdadeiro independente.” Ao que o José respondeu: “É o que agora sou.”


Ainda antes de irem buscar as chaves da sala, o chefe da brigada de Vila Real propôs que fossem comer e beber qualquer coisa, pois os camaradas estavam quase em jejum. Tinham passado quase a noite toda a revolucionar a sua cidade, enchendo-a de cartazes e de palavras de ordem pintadas na parede.


O Aníbal aceitou de imediato. O José, a princípio, resolveu fazer-se esquerdo, desculpando-se que ele e o Aníbal já tinham comido e bebido que chegasse, mas depois alinhou.


Como se por acaso, o elemento feminino da brigada até tinha os seus encantos. Por isso havia algo em que pôr os olhos para ajudar a passar o tempo.


Estavam eles a terminar o segundo fino e o primeiro prego no pão com mostarda e já o Aníbal fumava o seu terceiro cigarro depois de ter engorgitado a sua terceira caneca, devorado o seu terceiro prego no pão lambuzado de ketchup e arrotado três vezes. E mesmo na frente da camarada, peidou-se de novo com muito à vontade e com um sorriso marxista de Grouxo nos lábios carnudos. A camarada, ligeiramente enjoada, pois parece que não estava habituada àquelas amplas liberdades, acusou-o: “Porco.” E ele respondeu-lhe como era seu timbre. “São gases, menina.” “Camarada, se não te importas, camarada”, disse ela com toda a sua autoridade comunista. “Então: são gases camarada menina. E eu tenho permissão do meu médico para os libertar seja onde for. Sofro de flatulência”, rematou o Aníbal.


Quando saíram do bar repararam que a vila estava deserta. O que não era normal. Mas não lhe atribuíram nenhum significado especial. Descarregaram os materiais do carro, transportaram-nos para dentro do recinto e puseram-se a trabalhar. Quando se preparavam para distribuir e colar os cartazes pelo salão repararam que não tinham trazido a fita-cola. O chefe da brigada de Vila Real pediu então ao Aníbal, que estava sentado numa cadeira a ver como os outros camaradas trabalhavam, para ir ver se arranjava fita adesiva. “Num sábado à tarde?”, perguntou perplexo. Olhando de novo para o camarada que quase dormia na cadeira, o camarada chefe mudou de ideias. “Acho melhor ideia ir o José. O camarada Aníbal tem um aspeto estranho. Pode criar antipatia. Já o José, com a sua indumentária de independente, é rapaz para cumprir a tarefa com sucesso.”


E lá foi o José calcorrear as ruas da localidade com toda a paciência revolucionária de que era capaz. Pediu nos cafés e nos bares, mas todos lhe disseram que não com maus modos. Reparou que logo após explicar que a fita-cola era para ajudar a arranjar a sala para o comício do Partido Comunista que se ia realizar à noite, as pessoas alteravam a expressão do seu rosto como se tivessem engolido fel. Voltou para ao pé dos camaradas de mãos vazias. Alguém lembrou que apenas lhes restava uma possibilidade, recorrer à farmácia de serviço na vila. E lá foi ele. Desta vez, apesar das ruas desertas e das portas e janelas fechadas, começou a escutar palavras de ódio aos comunistas. Como não encontrava ninguém a quem perguntar onde era a farmácia, dirigiu-se ao posto da GNR. Lá dentro apenas encontrou o plantão de serviço que a seu pedido o informou, mas fê-lo com maus modos. O José tentou amenizar a antipatia informando-o que o seu pai era também guarda-republicano. Ele resmungou: “E o que faz o filho de um GNR com os comunistas? E ainda por cima cabeludo. O teu pai não te educou? Não sabes que os comunistas odeiam os militares da GNR? Se fosses meu filho esganava-te.”


O José virou-lhe as costas e foi-se embora. Na farmácia perguntaram-lhe quem era e o que fazia ali. Ele respondeu com a verdade, que era comunista e que estava ali para decorar a sala onde à noite se ia realizar um comício do seu Partido. Os empregados disseram-lhe que apenas tinham um rolo e que não lho podiam dispensar pois precisavam dele para as suas necessidades. E invetivaram-no com afirmações de que os comunistas eram gente ruim que roubava as terras e as casas às pessoas. Ele saiu da farmácia furibundo. Cá fora, apesar de não avistar vivalma, ouvia cada vez mais vozes que lhe chamavam cabeludo, degenerado e maricas, que lhe diziam para se ir embora, ele mais os seus compinchas, pois se não iam a bem teriam de ir a mal. Que Ribeira de Pena era terra de gente séria, pacata e respeitadora dos bons costumes e da velha tradição, por isso não gostavam de comunistas, que eram gente daninha e traiçoeira, que eram contra a igreja e que matavam os padres e os velhos. Que retiravam os filhos às pessoas. “Ladrões, assassinos”, eram palavras cada vez mais audíveis nas vozes que vinham de dentro das casas. Ao José não lhe restou outra solução que não fosse ir para junto dos seus e avisá-los que o ambiente se estava a tornar perigoso. 

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