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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

08
Nov13

O Homem Sem Memória - 182

João Madureira


182 – “Sabes qual a maior anedota da minha vida? Foi ter acreditado no comunismo”, disse com voz embargada o sósia do John Cleese. “Caí que nem um patinho.” “Que nem um patinho feio”, adiantou o José. Mas o sósia do John Cleese nada comentou, pois a bateria do humor já se lhe tinha descarregado há algumas horas.


“Acreditei que o comunismo era uma espécie de cristianismo sem o peso de Deus e sem a desilusão dos milagres. Acreditei que a fraternidade era possível, que a liberdade era praticável e que a igualdade era exequível. Acreditei nas manhãs que cantavam, no sol do socialismo e numa sociedade sem exploradores nem explorados, sem mandantes nem mandados, sem dirigentes nem dirigidos, sem ricos nem pobres, sem maus nem bons, sem pecadores nem santos. Enfim, sem Deus e sem o Diabo. Acreditei que os homens eram naturalmente bons. Mas enganei-me. Acreditei que era possível acreditar. Mas tudo me saiu ao contrário. O comunismo, que me venderam como doutrina científica, afinal não passa de mais uma religião. Também ela cheia de dogmas e repleta de certezas absolutas. Diziam que o comunismo era a possibilidade da liberdade absoluta, da igualdade eterna e da fraternidade universal. Mas afinal para que raio precisa o comunismo de construir um muro a dividir uma cidade ou um país? Onde já se viu isto?”


Aqui o José interrompeu com uma piada carregada de cinismo: “O muro de Berlim existe para impedir que os alemães da república Federal invadam pacificamente a Alemanha de Leste à procura da verdadeira liberdade, da genuína fraternidade e da autêntica igualdade.” Mas o sósia do John Cleese nem sequer o escutou.


“O comunismo prometeu criar uma sociedade onde a abundância é uma realidade, onde cada um tem o que necessita, onde cada qual pode exprimir a sua opinião sem temer nada nem ninguém. Afinal o que abunda por cá, e por lá, é a fome, a repressão, a violência, o martírio, as prisões e a morte. Milhões e milhões de mortos, sociedades de silêncio, países de sombras, de autómatos movidos a ideologia e de déspotas iluminados. Nenhuma religião produziu tamanha chacina e tão grande embuste. Nenhuma ideologia conseguiu matar de forma tão cega, sistemática e indiscriminada…”


“Lembra-te do nazismo”, recordou-lhe o José. O sósia do John Cleese parou então de delirar e respondeu-lhe que o nazismo é a face da mesma moeda totalitária e sangrenta. Só que Hitler poupou o seu povo, descarregando o ódio nos judeus. E os comunistas, inspirados por Estaline, perseguiram, torturaram e dizimaram o seu próprio povo. As outras ideologias e religiões procuraram sempre o inimigo fora de fronteiras, nos estrangeiros. Os comunistas vampirizaram os seus próprios povos. E de forma indiscriminada e apriorística. Mataram, e matam, ricos, remediados e pobres. Sobretudo os pobres e explorados que diziam, e dizem, defender. Transformaram o que restava de esperança num mundo melhor numa certeza num mundo pior. Transformaram a prática capitalista numa ideologia aceitável. Destruíram o bem. Relativizaram o mal. Transformaram países viáveis e minimamente democráticos em sociedades concentracionárias e subdesenvolvidas. Transformaram nações em prisões e cidadãos livres em escravos de uma ideologia. Transformaram pessoas independentes e solidárias em lobos partidários. Destruíram os laços familiares, indiferenciaram a amizade, injuriaram o amor, desprezaram os sentimentos e mecanizaram as relações sexuais. Destruíram o mito da imortalidade de Deus para criarem o mito da imortalidade de uma ideologia. Transformaram as pessoas em números, as mortes em estatísticas, a ciência em ideologia e a ideologia em dogma.”


“Descansa camarada, que amanhã o sol brilhará para todos nós”. E o sósia do John Cleese descansou enquanto o José lhe enfiava algumas colheres de sopa na boca para ver se o conseguia alimentar, pois ele agora recusava-se a comer.


Depois de umas quantas colheradas de uma sopa bastante aguada, o sósia do John Cleese suplicou por uma pausa e disse: “José, tu és um bom homem. Ainda és comunista?” “Ainda.” “Não posso acreditar.” “Nem eu.”


“Olha José, o comunismo é como este calor abrasador. Nem nos deixa pensar.” “Calor? Qual calor? Está um frio de rachar.” “Então sou eu que estou com febre.”


“Olha, José, ainda não sei porque estou preso.” “Nem eu. Mas desconfio que é por causa da política. Pelo facto de sermos comunistas bons.” “Mas não há comunistas bons. Bondade e comunismo são conceitos que se excluem. Pois estamos presos por isso mesmo. Como a bondade e o comunismo se excluem mutuamente, nós ou não somos bons ou não somos comunistas.”


“Acho que se fossemos apenas bons comunistas a esta hora estávamos em liberdade.” “Percebo. Um bom comunista é o contrário de um comunista bom.” “Pois.”


“Olha, José, porque é que o comunismo arrasta tanta gente atrás de si?” “Porque todos gostamos de histórias com final feliz.” “Eu não.” “Pois, por isso é que estás preso.”


“José, e tu por que razão é que estás preso?” “Eu é porque não gosto de histórias.” “Percebo. O comunismo para ti não passa de uma história.” “Uma história mal contada.”


“José, achas que nos vão libertar em breve?” “E tu acreditas em histórias com final feliz?” “Não.” “Pois, aí tens a resposta. A nossa realidade tem um final infeliz. Por isso deves apreciá-la.”


“José, não sabes mentir?” “Não.” “Pois.”


“José, mal me levante daqui e ponha os pés lá fora, o meu primeiro intento vai ser fugir daqui. Não aguento mais. Serei livre ou morrerei.” “Pois, vê-se que tu queres mesmo que eu escreva uma história com o final a teu gosto.” “Seja o que Deus quiser.” “John Cleese, mas Deus não existe.” “Então seja o que o seu substituto quiser.” Silêncio seguido de mais silêncio. “Os cómicos são suicidas?” “Deus te responda?”

06
Nov13

Poema Infinito (171): ordenação

João Madureira

 

Conquistei devagar a ciência certa da indecisão. A sua alma, os seus movimentos, a sua densa vulnerabilidade. Depois fui assaltado por visões de promessas solitárias. Essa é a minha divina imprecisão. As palavras balbuciadas dão corpo a uma linguagem própria dos peregrinos da rutura. Os deuses da poesia ensombram os poemas que celebram a vida. Todo o sofrimento é uma regra de composição. Por isso, os meus olhos pressentem a luminosidade do teu rosto. Escrevo contra a exigência da loucura, contra o apogeu do inverno, contra a eloquente remissão do sofrimento, contra a lonjura do silêncio, contra o peso intemporal da indiferença, contra a relação recíproca dos pecados, contra o demónio que há em Deus e contra o deus que habita o Demónio. Escrevo a favor da coerência prodigiosa do tempo e dos poemas autênticos. Em mim sinto misturar-se a insólita natureza dos instintos, as frases bíblicas dos litígios, as palavras que curvam a desordem e o erro, a indolente alma dos aflitos, a substância nominativa do atrevimento, as memórias milenares, a álgebra dos espelhos, a semântica da intimidade, o imprevisível cântico da distância, o cansaço da exigência, os olhares lógicos, a reverência dos rituais, o estranho sofisma dos navegadores, os gestos que fecundam o verão, o contágio universal da poesia, a incómoda herança da vulgaridade, a prática aristocrática das métricas, o espaçoso desespero das genealogias, o culto da celebração, a dor enfática da solidão, o reflexo dos ventos atlânticos, a reinvenção das paranoias e da normalidade, o peso intemporal da morte, a nostalgia infinita das imagens a preto e branco, a expectante celebração dos dogmas, a energia metafísica da matéria, a verdade humana da divindade, o fundamento da natureza sagrada, a serena impunidade das certezas, a evolução desesperante dos modelos retóricos, as margens sombrias das pulsações, o tempo infinito, o perfil sinuoso do desejo, a vocação glaciar da inveja, o desassossego dos imprevistos, a acidez do amor eterno, a alucinação trágica das mães, a memória estagnada da infância, a agonia genuína das revoluções, a grande consciência dos sentimentos contraditórios, as perguntas desnecessárias, as respostas inúteis, a solidão do céu, a dor triunfal dos templos, as paisagens perversas, a imagem soluçante dos horizontes, a lógica interior do sofrimento, a ordem milenar da ausência, o embranquecimento dos murmúrios, o território incerto dos olhares, a luz triste da aurora, o silêncio súbito das montanhas, a hipérbole triste do cântico das aves de inverno, a beleza intransitiva do teu olhar, o solene instante do desejo, o ruído imperceptível da luz, os corpos que se dobram para evitarem a realidade, a realidade que se dobra para evitar os corpos, o mar que agita as marés, as leis dolorosas do despovoamento, a fingida memória dos poetas, a ténue linha da imaginação, o trabalho doloroso do destino, os nomes vivos dos mortos, os lamentos ciciados pela chuva, a excessiva solidão da criação, as palavras que desordenam os lugares, a inútil razão das ideologias, os lamentos nascidos da dor e os nossos corpos que estremecem na hesitação dos dedos. Tu és o meu modo desconhecido de ser, a minha segunda revelação, o meu texto explicativo. Tudo se ordena para um fim alto e secreto. 

04
Nov13

Pérolas e diamantes (62): danças e contradanças

João Madureira

 

Temos de reconhecer que as eleições de 29 de setembro último foram das mais interessantes desde o 25 de abril.

 

Está visto, e confirmado: os principais partidos do nosso regime foram penalizados.

 

A penalização foi feita ao sistema político-partidário, representado principalmente pelo PS e pelo PSD. 

 

Analisados os resultados, verificaram-se três fenómenos conjugados: uma abstenção de protesto, a manifestação explícita de contestação realizada através do voto nulo e do voto em branco e, por fim, o voto nos movimentos independentes.

 

E as coisas não tiveram uma expressão bem maior pelo simples facto de que vivemos numa partidocracia estabelecida dentro e fora dos partidos do arco do poder, e até nas instituições públicas, que tornam muito difícil mudar essas estruturas demasiado fechadas e corporativas.  

 

Todos sabemos que os partidos do arco do poder são atualmente controlados pelas maiores secções, em muitas circunstância artificiais e dirigidas por caciques locais, cuja vida, carreira e progressão social depende exclusivamente da sua habilidade para controlar o poder interno.

 

As carreiras e os empregos são atualmente os mecanismos fundamentais da autoridade interior nos partidos maioritários. Todos conhecemos esses autarcas que dominam com mão de ferro as estruturas partidárias porque a sua carreira profissional depende apenas da política. Eles podem afirmar a pés juntos que se dedicam à causa pública, por razões altruístas, mas todos sabemos que isso não é verdade. A sua única preocupação é gerir as suas próprias carreiras.

 

Assim como temos autarcas prepotentes na província, temos também no país um governo que usa de má-fé para com os portugueses. E o maior exemplo disso é a luta surda que trava com o Tribunal Constitucional.

 

Quase todas as medidas punitivas tomadas contra os reformados, pensionistas e funcionários públicos são medidas que pretendem diminuir e castigar o TC.  

 

Pacheco Pereira afirmou ao Público que “não se pode ter um país democrático em que as eleições não podem mudar a política, que foi o que aconteceu a 29 de setembro. E se as pessoas não encontram no voto algo que introduza diferença, depois vão para a rua”.

 

O governo bem pode vir agora dizer que a austeridade é um mal necessário que já ninguém o leva a sério. Todos os portugueses se deram conta de que a austeridade é necessária. Mas o grande problema não reside especialmente na austeridade, reside antes no mau governo feito com a desculpa da austeridade. E isso não tem perdão. Todos sabemos que esta política não tem futuro. E o governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas muito menos.

 

Não é que isso me ponha aos pulos de contentamento, mas partilho da opinião de muitos comentadores políticos, e de cidadãos em geral, de que o futuro do PS e do PSD passa pelo envolvimento de António Costa e Rui Rio.

 

Mas vou mais longe e solidarizo-me com o porta-voz do PS, João Ribeiro, que defende uma revolução no sistema político e chega a propor a “radicalização da transparência” através, nomeadamente da concessão do direito de voto a maiores de 16 anos e a criação de círculos uninominais para a Assembleia da República abertos a movimentos de cidadãos.   

 

É necessária uma revolta moral.

 

Urge trazer de novo para a política as questões morais ou, se preferirem, da moral. Hoje existe muita gente a ser maltratada, muita gente arrastada para a miséria, para a exclusão, para a ignorância e para o experimentalismo social.

 

As pessoas podem até não perceber muito de finanças, mas sabem distinguir perfeitamente o que é digno do que é indigno.

 

Pode parecer um lugar-comum, e até muito de esquerda, mas é necessário lutar. É necessário lutar contra este estado de coisas. Lutar-se de todas as formas: individualmente, socialmente, culturalmente, politicamente. É necessário não aceitar de cabeça baixa os sacrifícios que nos estão a impor. É necessário dizer não.

 

Alguns dirão que esse é a atitude mais comum na esquerda. Mas nem só a esquerda tem o monopólio da contestação, nem da verdade, nem da razão.

 

E quase termino por hoje com uma reflexão de Pacheco Pereira: “Uma das razões por que a linguagem política à esquerda é muito pouco eficaz para exprimir o que se passa nos dias de hoje é que ela substituiu um elemento de indignação que é moral por um discurso político que é restritivo.”

 

É necessário parar com a dança dos números. Pois eles dão sempre errado. Afinal para que serve a economia e os economistas se as suas previsões falham sempre? Parece que a ciência económica é apenas, como muito bem lembrou um deputado da nação, uma página do borda-d’água. Afinal se não chover é muto provável que brilhe o sol.

 

Penso que Pedro Passos Coelho até faz o que pode e sabe, mas pode pouco e sabe ainda menos. Por isso concordo com Henrique Monteiro: “Ao líder do governo falta vida e estrutura de pensamento.“

 

E vou até mais longe, ou mais perto, se quiserem, mas parece-me que ao nosso presidente da Câmara, minoritário, as palavras do Henrique Monteiro lhe assentam igualmente como uma luva. E também, por que não dizê-lo, a alguns presidentes de junta das freguesias urbanas de Chaves, que, para manterem o poder absoluto a que estavam habituados, mesmo sendo minoritários nas suas assembleias de freguesia, inventam argumentos que nem ao diabo lembram.

 

 E eles são tão católicos, meu Deus!

01
Nov13

O Homem Sem Memória - 181

João Madureira

 

181 – Deitado na solitária, pálido e magro como um cão, o sósia do John Cleese vira-se para o José, que também permanece prostrado, sorrindo com nítido esforço físico, e diz: “Pareces um esqueleto.” Ao que o José responde: “Olhe que não. O camarada está é a ver-se ao espelho.” E depois desata a rir até desfalecer. Segue-se um comentário do sósia do John Cleese: “A tua anedota é de morrer a rir… José, José, não te vás antes de mim. Não me abandones.” O José volta a si e diz: “Isso nunca. Quando for para o outro mundo levo-te pela mão, camarada.”


Passados alguns minutos, o sósia do John Cleese volta ao ataque. O José ainda comenta: “Conta uma que não nos mate de riso.” E riem-se os dois a modinho para não desfalecerem, tal é o seu estado de fraqueza. Parecem dois judeus num campo de concentração nazi. Ou será num campo de concentração comunista? Agora ficámos confusos.


Depois de mais uma pausa de sobrevivência: “Esta é mesmo russa. Dois esqueletos encontram-se nas ruas de Kiev durante a Grande Fome da Ucrânia. “Ouve lá”, diz um deles, “quando é que morreste?” “Em 1932, na Grande Fome”, responde o outro. “E tu?”, pergunta o primeiro. “Bem, eu ainda estou vivo, graças a Deus.” “Chiu! Não sabes que agora não podes agradecer a Deus, mas sim a Estaline?” “E que hei de fazer quando ele morrer?” “Depois podes agradecer a Deus.”


“Esta foi boa. Dá-nos mantimento intelectual para umas horas”, comentou o José. Entretanto, o sósia do John Cleese engole mais um pouco de saliva, passa a língua pelos lábios gretados e dispara: “Esta é em nossa homenagem. Num campo de concentração alentejano…” “Então também há campos de concentração no Alentejo? Sempre me saíste cá um reacionário…” “três detidos conversam sobre o motivo que os levou até lá. Diz um com cara de José: “Estou cá por afirmar que o camarada Vital era contrarrevolucionário.” Outro diz: “Mas que curioso. Eu estou cá por jurar que o camarada Vital não era contrarrevolucionário.” Vendo que o terceiro nada dizia, os dois camaradas viram-se para ele e perguntam-lhe: “E tu, estás cá porquê?” Ao que ele responde: “Eu sou o camarada Vital.”


“Ui, ui, ui, vou desfalecer outra vez”, disse o José antes de desfalecer. “Ui. Ui, ui, eu vou mijar-me a rir”, diz o sósia do John Cleese. Mas além de se urinar, também desfaleceu.


Quando os dois voltam a si, o sósia do John Cleese lembra-se de outra anedota. O camarada Alberto Punhal ouve dizer no comité central que existe um falso camarada que é responsável por 99% de anedotas contadas a respeito do camarada secretário-geral e do socialismo implantado na República Popular do Sul. Então chama o comissário da PDES e diz-lhe para convidar esse agitador reacionário para uma reunião no opulento salão da sua casa. Serve-lhe então um enorme banquete e diz-lhe: “Um dia todos os cidadãos comunistas estarão a comer assim.” “Espere aí, achava que era a mim a quem tocava o papel de contar anedotas”, retruque aflito o convidado.


“Ui, ui, ui, acho que vou desfalecer de novo”, diz o José. “Ui, ui, ui, eu acho que já nem forças tenho para isso”, diz o sósia do John Cleese. Mas desta vez nenhum desfalece. Limitam-se a rir a modinho para se manterem conscientes.


“Tenho fome”, diz o José. “Achas que nos vão dar de comer?” “Olha, José, pensava que aqui quem contava as anedotas era eu”, replica já em esforço extremo o sósia do John Cleese. “Ui, ui, ui, acho que vou tornar a desfalecer”, diz o José. “Ui, ui, ui, eu acho que já nem forças tenho para isso”, diz o sósia do John Cleese. “Se não nos derem de comer, morremos”, diz o José. Ao que o sósia do John Cleese responde: “Eu não acho piada nenhuma ao camarada La Palisse.” “Então o La Palisse também era camarada?”, pergunta o José. “Todos os camaradas são seguidores de La Palisse”, diz o sósia do John Cleese com cara de Alberto Punhal. “Eu pensei que eram discípulos de Marx”, diz o José. “Eu também sou discípulo de Marx”, diz o sósia do John Cleese. “Ainda?”, pergunta o José. “Sim, de Grouxo Marx…” “Oiço passos”, diz o José. “Acho que vem aí o nosso jantarinho.” “O Capuchinho Vermelho?” “Ui, ui, ui, acho que vou desfalecer de novo”, diz o José. “Ui, ui, ui, eu acho que já não possuo forças para tal”, diz o sósia do John Cleese. “Hoje sempre vamos comer. Não nos vão deixar morrer à fome. Podem ser comunistas, mas ainda são seres humanos”, diz o José sem se rir. Mas o sósia do John Cleese não se consegue conter: “Ah, ah, ah… Ui, ui, ui, acho que vou tornar a desfalecer.” “Ui, ui, ui, eu acho que nem forças tenho para tal”, diz o José.


Quando voltam a dar acordo, o sósia do John Cleese diz: “Vou contar a última anedota. Passa um século sobre a implantação do comunismo na República Popular do Sul. Um lindo e esguio menino, militante dos pioneiros, pergunta ao seu avô, um militante do Partido: “Querido camarada avô, hoje o filho da professora disse que no tempo dos seus avós era muito frequente passarem muito tempo em filas. Avô, querido camarada avô, o que é uma «fila»? E o avô: “No meu tempo, que era ainda o tempo do socialismo, havia filas, muitas filas. As pessoas faziam filas umas atrás das outras e depois davam-lhes manteiga e chouriços.” “Avô, querido camarada avô, o que é manteiga e chouriços?”


“Ui, ui, ui, acho que vou desfalecer de novo”, diz o José. “Ui, ui, ui, eu acho que já nem forças possuo para isso”, diz o sósia do John Cleese. “Vamos mas é dormir, pois já apagaram as luzes há muito tempo.”


E o José: “Olha, olha, um fantasma a brilhar no escuro. Será Nossa Senhora? Será Jesus Cristo? Será Deus Todo Poderoso?” Ao que o sósia do John Cleese contrapõe: “É mesmo Marx.” O José comenta: “Mas não tem barba.” O sósia do John Cleese esclarece: “Lá no céu anda tudo barbeado.” “Ui, ui, ui, acho que vou desfale…” “Ui, ui, ui, eu acho que já nem…” Silêncio.

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