1 - Vamos ser sinceros: o arrependimento é um conceito que não aprecio, pois significa que não assumimos aquilo que fomos. Uma coisa sei: nunca desisti de aspirar à liberdade. O que mais me entristece é que, apesar de todo o esforço individual e coletivo, vivemos numa espécie de sociedade de empregados de escritório resignados.
Apesar dos desaires e dos desapontamentos, quando não das traições, continuo a tentar ser livre e verdadeiramente independente. Aprendi a apreciar as derrotas, pois são elas que conferem todo o sabor às vitórias. E aprendi outra coisa, que haverá sempre pessoas mais rápidas e outras mais lentas. Mas, no fim, o que verdadeiramente conta é o vigor com que percorremos o caminho.
2 – Entre a estupefação, o assombro e o júbilo, deparei-me com a notícia de que havia na nossa terra uma confraria chamada precisamente “Confraria de Chaves”, que no dia da Feira dos Santos entronizou os primeiros 34 confrades e confreiras, numa cerimónia apadrinhada, imaginem só, pela célebre “Confraria dos Vinhos Transmontanos”.
O seu lema é, além de elucidativo, de uma imaginação muito acima da média. Reza assim: “Aquae Flaviae, fomos, somos e seremos”. Assombroso. E até tem um Grão-Mestre, à moda da maçonaria.
O traje dos 34 confrades, e confreiras, é composto por capa-batina, gravata e chapéu, em tons de preto e dourado. E os seus membros exibem um símbolo onde se distinguem as duas chaves do brasão da cidade, representando a saúde e o amor. O seu hino é a Marcha de Chaves.
Quase todos os seus membros são militantes proeminentes dos denominados partidos do arco do poder. Na espreitadela que dei na foto de grupo, vislumbrei alguns, poucos, elementos do PS, um do CDS e dezenas do PSD. Na fila da frente deparei-me com o senhor presidente da autarquia e mais quatro destacados militantes laranjas. Dizem querer defender a marca de Chaves e dos produtos flavienses. Pelo menos traje já têm. E hino. E insígnia. O resto, estamos em crer, virá por acréscimo. Daqui lhes enviamos os nossos sinceros votos de felicidades. Que a força nunca vos falte. Porque fomos, somos e seremos, Aquae Flaviae.
E lá vai o hino: Ó Chaves, nobre cidade, pelo Tâmega beijada…
3 – Depois de muito porfiarem, as estruturas políticas dirigentes flavienses lá conseguiram um acordo para a gestão autárquica da Câmara Municipal de Chaves.
Depois do senhor presidente ter convidado o PS, afinal foi com o vereador eleito pelo MAI que António Cabeleira fez um acordo. Isto porque, pegando nas suas palavras, após ter convidado o Partido Socialista para uma “governação de cooperação mútua”, a candidata eleita pelo PS nas últimas eleições autárquicas, “não se mostrou disponível”. E, como muito bem disse José Sócrates, há uns anos, para se dançar o tango são necessários dois bailarinos.
Como a vereadora do PS se recusou a dançar, vai daí o senhor presidente convidou João Neves para vereador a tempo inteiro. Este não se fez rogado e aceitou, argumentando que “tinha necessariamente de haver um entendimento”. E até foi mais longe: “Estou convicto que vai ser um mandato que vai ficar na história dos flavienses.” Diz quem assistiu ao ato que proferiu tais palavras sem se rir.
Alguém me lembrou que António Cabeleira disse que nunca faria um acordo com o João Neves e que João Neves afirmou em várias intervenções públicas que era preferível que o próprio diabo ganhasse a Câmara de Chaves antes que o PSD de António Cabeleira.
Contas feitas, este acordo, no mínimo, vai custar ao erário público cerca de 200 mil euros até ao fim do mandato, mais de 3000 euros por mês, que é o dinheiro necessário para pagar os salários a João Neves.
A líder do PS diz que tal decisão não se justifica. O senhor presidente contrapõe que com mais um vereador, a gestão autárquica se torna mais eficiente. Paula Barros argumenta que, embora seja uma decisão legítima, não lhe parece que seja coerente, pois a candidatura do MAI baseou-se principalmente numa postura de protesto contra a anterior gestão do PSD.
E todos os documentos do MAI, e cada uma das intervenções públicas dos seus candidatos, mormente de João Neves, são disso testemunha irrefutável. Mas palavras leva-as o vento. E parece que não só as palavras, como tudo o resto. Mas como diz o senhor vereador João Neves: o que passou, passou.
A líder do PS, e com alguma razão, considerou que o acordo estabelecido foi celebrado entre o PSD, sem maioria absoluta, e “um independente”, para impor a máxima de “quero, posso e mando”, ou seja, “o poder total e absoluto”.
Paula Barros garantiu ainda, e isso é que é sintomático, que o acordo proposto pelo atual executivo ao PS se cingia a lugares nos conselhos de administração das empresas municipais. Ou seja, os tais tachos de que tanto se fala e os quais muita gente persegue e de que se alimenta.
E a terminar relembrou que a autarquia tem uma dívida enorme, tendo recorrido ao Plano de Apoio à Economia Local (PAEL) e que, devido a tal facto, o PS apresentou, em conjunto com o vereador do MAI, uma proposta de auditoria às contas, que foi aprovada com os votos do PS e do MAI e com os votos contra do PSD, para saber da real e absoluta situação financeira da Câmara.
Esta, estamos em crer, será a prova definitiva para ver quem está de boa-fé no processo. Os flavienses necessitam de saber o verdadeiro estado das finanças concelhias. Esse também é o sentido de voto expresso pelo menos por cerca de 45% de flavienses nas últimas eleições autárquicas.