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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

28
Ago14

Poema Infinito (213): construção

João Madureira

 

Em cima do horizonte brilha a calma que se abre e aumenta como uma coroação de estrelas primitivas. O mundo amadurece como um todo. A água palpita como se fosse uma membrana. Os astros são labaredas opulentas que se abrem como chagas em combustão. Alguém grita de júbilo como uma imagem em efervescência. Tremem os dedos de Deus. A matéria ou arde ou se afoga. A morte é um grito de estrangulamento. Brilha a água. Brilha o gás. Brilha o medo. Tudo respira com mais força. Sente-se o júbilo do sangue. As paisagens iluminam-se de angústia. As formas são fluxos de assombro. A transparência da vida sustenta as estrelas. Todas as coisas são metáforas dentro de outras metáforas. A música é o limite do mundo. Os instrumentos nascem da terra como árvores. O mundo é agora uma magnífica e imensa massa orgânica. Iluminamo-nos. Tu levantas soberbamente o rosto. Todo o poder divino se baseia no medo. As nossas mãos brilham quando se abrem. Os caminhos estão repletos de obstáculos, neles estão espalhados signos falsos. As margens do tempo movem-se. O mundo é uma amálgama de esfinges. O meu corpo guarda a lembrança excessiva do teu. Os insetos brilham. Vejo Eva a sair do paraíso. Vejo Deus a sair do inferno. Tento agarrar as palavras. Os campos ficam paralisados pela invasão da água. As crianças recriam-se com os trovões. Dentro das árvores, as aranhas tecem o tempo da expetativa. Espantamo-nos com a fuga dos espíritos. As formas abandonam os corpos, alongam-se, deformam-se e mergulham dentro do reflexo da lua sobre o rio. Os murmúrios escondem-se dentro do silêncio. O silêncio esconde-se dentro de nós. A tempestade de Deus surge montada num alazão vermelho empunhando um dardo amarelo. Os espíritos espalham-se pelas árvores como se fossem frutos. Algumas sombras desfazem-se, outras pintam-se de branco. Nas praias bravias, as raparigas dançam por entre as ondas e ameaçam as sereias. Os rapazes ficam com os membros eretos. Tudo fica mais geométrico. Depois fazem amor da maneira mais vulgar. Transformam-se em símbolos. Guardam segredos. E tornam-se tão evidentes como as pétalas dos malmequeres. O fio do tempo fica completo. A vida olha para o mundo através dos nossos olhos. A beleza torna-se curva e dança. O desejo remanesce indefinido. De repente a memória rompe as trevas e emerge intacta no mar do tempo. Os degraus do futuro tornam-se infinitos. Aos deuses das pequenas coisas deu-lhes para ficarem reféns da sua própria alegria. Rejubilam por serem agora ferramentas sonoras que pretendem construir o desejo e domesticar a loucura. Muitos ficam prisioneiros dentro dos seus próprios sonhos e disfarçam-se de crianças monótonas. E passam a falar com as mãos. E constroem os lugares de silêncio onde os poetas enlouquecem escrevendo com os seus dedos apavorados e melífluos. A sua inocência desenvolve-se quando pretendem explicar a vida. Essa é a sua sinistra fantasia. São como estrelas que mudam de cor. Enaltecem agora os dias de luz onde se sentem levitar. A sua solidão é a forma mais abstrata de violência. 

25
Ago14

203 - Pérolas e diamantes: monomanias

João Madureira

 

A minha avó dizia muitas vezes que por necessidade até um pardal canta como um rouxinol.

 

A necessidade é que cria a vulgaridade. Mesmo quando ela se reveste de um empréstimo de vinte milhões de euros para que a nossa autarquia possa funcionar durante mais algum tempo.

 

Depois há a vergonhosa vulgaridade dos votos pressionados.

 

Sim, a vulgaridade tem um enorme poder. Especialmente se nos encontra desprevenidos a olhar espantados para o que nos rodeia. Nessas alturas cai-nos em cima com as suas garras.

 

Mas será que os políticos são assim tão maus? Tão maus assim não sei se são. Mas cansam-nos a falar. Existem alguns que são como Porfírio Vladímiritch, “fazem-nos apodrecer com as suas palavras”.

 

E isto não acontece porque o mundo da política se divide entre conservadores e progressistas.

 

Vistas bem as coisas, todos nós somos um pouco conservadores. O que, pela mesma ordem de ideias, nos leva a deduzir que todos podemos ser pessoas reativas, que de vez em quando despertam do seu sono profundo para combater a ameaça de rotura social e financeira que ronda o nosso Estado e, sobretudo, a nossa autarquia.

 

Como defende João Pereira Coutinho, «reagir» por si só significa pouco, mas mesmo assim é o primeiro passo para defender o que se encontra sob ameaça.

 

A nossa autarquia pensou sempre que era possível reduzir os nossos problemas a simples equações ou postulados matemáticos. Ou seja, que a razão dos números acabaria por resolver todos os problemas.

 

É aqui que radica o principal erro dos políticos vulgares, especialmente os que se autointitulam de conservadores, polvilhados com uns pozinhos de social-democracia.

 

Esses confundem a política com um cálculo matemático e os cidadãos com meros enunciados de uma equação.

 

Quando lhes falamos de política eles respondem-nos com números e quando lhes falamos de números eles vêm-nos com a política.

 

E as margens de erro já são tantas que invariavelmente mexem com a nossa vida do dia-a-dia.

 

Nós não somos, por mais que insistam no contrário, simplificações numéricas ou abstratas. Nós somos seres humanos concretos.

 

João Pereira Coutinho, o paladino nacional do Conservadorismo, afirma que «o conhecimento imprescindível para qualquer agente político será um conhecimento apropriado para a natureza da sua função”.

 

Em política é sempre bom ter presente o sentido da realidade. Da realidade e das circunstâncias. Churchill dizia que «por mais absorto que um general esteja na elaboração das suas estratégias, às vezes é importante ter o inimigo em consideração».

 

Convém também lembrar as palavras de Isaiah Berlin: «A total liberdade para os lobos é a morte dos cordeiros.»

 

O filósofo e historiador britânico Michael Oakeshott, sabendo que nós ocidentais, por hábito, toleramos monomaníacos, perguntava-se «por que motivo devemos ser governados por eles?»

 

De uma coisa podem estar seguras as gerações vindouras, administrados por pessoas como as que nos tocaram em sorte, em vez de uma «casa» herdarão uma «ruína».

 

PS – Para que os flavienses não fiquem com a impressão, incorreta por certo, de que o acordo estabelecido entre o PSD de António Cabeleira e o vereador eleito em nome do MAI, não foi a derradeira tentativa para que a prometida, e devida, auditoria externa às contas da CMC não vingasse, aqui fica mais uma vez o nosso apelo ao senhor presidente da autarquia flaviense, e aos seus distintos vereadores, incluindo necessariamente João Neves, para que, em nome da transparência e do bom nome da Câmara de Chaves, aprove uma auditoria externa às contas da CMC.

 

Passaríamos todos, com certeza, a dormir um pouquinho mais tranquilos. 

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