Pelo menos numa coisa estou de acordo com o guru do “conservadorismo” português, João Pereira Coutinho: “Na generalidade, os políticos são maus porque os portugueses não exigem melhor.” Basta olharmos para o governo da Nação para nos inteirarmos da qualidade, e da validade, do argumento. Então se o aplicarmos ao nosso concelho, temos que concordar que é tão verdadeiro que até dói.
De facto, basta olharmos para os líderes das diversas listas concorrentes às últimas eleições autárquicas para admitirmos que o argumento lhes assenta como uma luva. E nesta comédia trágica, os partidos, e não só eles, valha a verdade, têm também a sua dose de responsabilidade. Nalguns casos, parece mesmo que em vez de terem optado pelo candidato mais credível, apenas se empenharam em escolher uma sua caricatura. Como se em vez de levarem a sério a política autárquica, apenas se entretivessem em contar uma boa anedota.
Mesmo assim, há por aí muito boa gente, na qual me incluo, mesmo pedindo perdão pela imodéstia e pelo atrevimento, que coleciona várias e distintas cicatrizes nas costas feitas pelos pretensos amigos. As minhas, por exercício de estilo, exibo-as com orgulho.
Por isso não é de admirar que o país, e a autarquia, já agora, estejam de rastos. O pão e o circo para entreter os nativos deu no que deu.
Como sempre, os portugueses hão de protestar, mas tarde e a más horas.
Está claro que a nossa representação parlamentar também sofre do mesmo vício.
João Pereira Coutinho, relativamente ao nosso sistema eleitoral, refere que se torna necessário acabar com o “voto de cabresto”, uma expressão brasileira que identifica um tipo de sufrágio existente nos partidos com representação parlamentar.
Ora esse tal voto de arreio consiste em engrossar listas de deputados com “nulidades avulsas” que depois de eleitos fazem figura de corpo presente na Assembleia da República e, mesmo em matérias que não são estruturantes para o partido, votam sempre como manda o cabecilha. Mesmo que em causa estejam os legítimos direitos e interesses dos eleitores da região que elegeram filho, ou filha, tão ingratos.
Convém não esquecer que o governo que faz questão em nos desgovernar foi eleito propagandeando que não existia um problema com a moeda única, dizendo sempre que o problema com as Finanças Públicas se devia à má governação interna e à atitude passiva dos portugueses relativamente aos novos desafios, apostando até à exaustão na narrativa da austeridade a qualquer preço. Mas o que o atual estado da nossa economia demonstra é que com a austeridade não chegamos a lado nenhum.
Além disso, a boa gestão das Finanças Públicas não é uma questão de esquerda ou direita. Esse foi chão que já deu uvas.
E é uma mentira hedionda a tese propalada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas de que para os portugueses garantirem o futuro dos seus filhos têm de abdicar do seu presente.
Isso não é verdade nem nas famílias e muito menos nas sociedades.
Estes argumentos falaciosos não são sequer negociáveis. No fundo, o que está atualmente em jogo é, sobretudo, uma questão política. É preciso, é urgente, é necessário, mudar de rumo. E isso implica mudar de política. Ou seja: temos de mudar de governo.
PS – Para podermos fazer uma ideia concreta de quais são os buracos financeiros que vão ser tapados pelo empréstimo de 20 milhões de euros negociado pela CMC com os bancos, que os flavienses vão pagar com língua de palmo durante os próximos 14 anos, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC, mais aos seus distintos vereadores, nos quais incluímos necessariamente o catavento político João Neves, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme. E à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo. Assim vamos todos conseguir dormir um pouco mais descansados.