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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

08
Set14

205 - Pérolas e diamantes: da necessidade de ter ilusões

João Madureira

 

Passamos por um momento de rutura. É necessário meditarmos.

 

Os políticos pequenos têm duas características identitárias: possuem um grande talento para a demagogia e um outro, exíguo, para a causa pública, a verdade e o compromisso.

 

Eu sempre apreciei os homens de palavra, não os de muitas palavras.

 

Está claro que muito do que aprendemos, e aquilo que somos, advém do nosso modo de nos misturarmos com os grupos de proximidade. Também eu passei por isso. Todos passámos.

 

No entanto, tenho de admitir – por muito que isso me doa, e doa também a gente que me foi próxima –, que nunca me senti completamente integrado em nada.

 

Aprendi que os grupos demasiado identitários, e fundamentalistas, são constituídos por gente perigosa. E digo isso por um facto fundamental: é sempre mau acreditar cegamente numa ideia, principalmente quando se possui apenas uma.

 

O escritor chileno, Carlos Cerda, escreveu que sempre vivemos abaixo das nossas ilusões. Por isso as temos, para vivermos por cima do que seríamos sem elas.

 

Antigamente iludiam-nos com as ideias. Hoje iludem-nos com a economia. Daí o sermos vítimas de uma lógica inquisitorial e, como defende Gustavo Cardoso, no seu livro O Poder de Mudar, ainda vítimas de uma legitimação das elites.

 

O argumento principal do livro é que apesar da crise financeira nos ter apanhado recentemente, antes de ela existir já tínhamos passado por uma crise política.

 

Essa crise surgiu com o facto de os portugueses terem perdido a confiança no sistema e também com a incapacidade dos protagonistas políticos de correrem o risco de mudar e sobreviver.

 

Podíamos pensar que a solução poderia (poderá?) estar nos partidos que se afirmam ser contra o sistema. Mas também eles revelam elementos de conservadorismo.

 

Por exemplo, tanto o PCP como o BE, ou os seus derivados, temem fazer alguma coisa de concreto, pois sabem que essa é a forma de se exporem e de perderem aquilo que possuem.

 

Por isso se limitam aos protestos, sabendo que, por experiência própria, a gritaria das margens do sistema político irá, mais cedo ou mais tarde, desaguar no centro do próprio sistema.

 

A isto nos levou esta praxe política que se transformou numa espécie de mera gestão de ciclos eleitorais.

 

A ação política é hoje vista como a mera gestão de uma pastelaria de bairro.

 

Necessitamos, urgentemente, de pessoas que se dediquem à política por intuição, que a desenvolvam com inteligência e que a comuniquem pela crença.

 

Necessitamos de acreditar na energia fulgurante da verdade.

 

 

PS – Diz o filósofo que não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir. Mas nós ainda acreditamos que o político sério e honrado tudo faz para que as contas públicas sejam transparentes.

 

Por isso mesmo renovamos o apelo ao senhor presidente António Cabeleira, e aos seus distintos vereadores, João Neves incluído por inteiro, para que aprovem uma auditoria externa às contas da autarquia.

 

É que o buraco da dívida camarária é de tal dimensão que tememos que nos arraste a todos para dentro dele e nos devore.

 

Além disso quem não deve não teme e à mulher de César… o senhor presidente sabe, com toda a certeza, o resto do refrão.

 

Assim o saiba rematar, não apenas com as palavras, mas, sobretudo, com a ação. 

04
Set14

Poema Infinito (214): a perseguição do desejo

João Madureira

 

Apreciamos a liberdade da chuva e a liberdade do sol mesmo quando nos chega distorcida pela velocidade do pensamento. A luz chega-nos com a velocidade das vozes, atravessando lugares, trespassando fluidos, percorrendo os espaços, cavalgando a totalidade das memórias humanas. Abrem-se todos os lugares da infância. Toda a natureza é brava e violenta, por isso nos atrai. Agora as paisagens são catastróficas, alimentam-se de movimentos exteriores, reproduzem-se dentro da nossa inquietação. São passagens ilimitadas dentro dos olhos que se incendeiam. O prazer afunda-se através da pele. Uma espécie de assombro agita o mundo. Respiramos a lenta simetria do desaparecimento. Oscilam os mares, misturam-se os climas, flutuam os sonhos. As paisagens tornam-se leves. Até a terra se agita com o movimento dos nossos olhares. A luz diminui com a cadência das idades. Tentamos apagar os sinais do tempo. As almas bravias fincam-se nas plantas. A solidez do mundo decai. Os desiludidos bebem até a sua própria sombra. Tudo se metamorfoseia. Nos lugares mais profundos encontramos a água. O tempo tomba pelo eixo da matéria. Esse é o seu modo oculto de reprodução. Os objetos inúteis caem na sua forma imóvel. Fechamo-nos dentro das nossas próprias emoções. Distinguimos perfeitamente as pulsações das pessoas que abrem as portas do tempo. Essa é uma realidade longínqua. Algumas vozes mais puras sustentam a realidade. O amor simples encontra-se nos gestos humildes. O amor intenso é leal ao silêncio. Tentamos recordar as vozes invisíveis, os gestos milenares, o nascimento do vento, a raiz densa das tempestades, a realidade das explosões solares, a cara dos deuses, o nascimento das estrelas, as palavras que brilham, o sossego da luz, o equilíbrio das pontes astrais, toda a vibração do esforço humano, as cidades varridas pelas vagas da opulência, o esforço dos desertos. O excesso dissimula o excesso. Entendemos a caligrafia límpida do ar, o exato repouso da terra, a ordenação da água, a paciência ritual do fogo. Entendemos a paciência cerimonial das ondas do mar e os gestos caligráficos da vida. Os nomes transformam-se purificados pelo assombro. O tempo oscila. A violência dança mesmo à nossa frente. Parece que o mundo continua disposto a acreditar na palavra sagrada. Daí a lentidão do entendimento. Sobre a terra tombam os paramentos da fé. As palavras mágicas tentam orientar-se dentro dos labirintos. As paisagens expandem-se. Tudo brilha impelido pela ascensão dos mitos. As palavras aceleram a memória. Falamos do misterioso silêncio dos astros, do murmúrio dos mares, da mágica rutilação da arte, da arte oculta do mundo, da arbitrária violência do caos, da densidade monótona dos sonhos, da louca rotação das almas, da desordem calma da dor, das cores maravilhosas do apocalipse, da cintilação interior do desaparecimento e do isolamento perfeito das distâncias. As palavras são rápidas quando se abrem. Os homens perseguem o desejo para não enlouquecerem. As mulheres desejam aproximar-se da alucinação. Nascemos e morremos a tentar perceber o porquê das coisas. 

01
Set14

204 - Pérolas e diamantes: semear ventos

João Madureira

 

Numa tarde deste tempo pesado que nos toca viver, neste tempo de vacas magras e empréstimos camarários gordos, li no Público uma entrevista a Mario Vargas Llosa. Dela retive duas ou três coisas que passo, com vossa licença, a partilhar.

 

O maior inimigo da democracia encontra-se no seu próprio seio. É ele o desaparecimento da cultura enquanto questionamento constante da realidade.

 

Ou seja, em Estados pretensamente democráticos como o nosso, a própria cultura tornou-se uma derrota em si mesma.

 

As estruturas políticas estão muito distanciadas da realidade. “A corrupção, por outro lado, contribuiu muitíssimo para o desprestígio da política.”

 

Adriano Moreira, fundador e líder histórico do CDS, em entrevista ao Jornal I pôs o dedo na ferida: “A resposta que se é contra o Estado social porque não há dinheiro implica a pergunta se também não há princípios.”

 

Quanto mais não seja, numa coisa o acompanho: Este neoliberalismo repressivo, que teima em multiplicar as sanções, aumentando os impostos e restringindo a maioria dos nossos direitos, é antidemocrático.

 

Como ele sou “contra este neoliberalismo repressivo”.

 

De facto, o êxito passou a ser o prémio destes novos caçadores de recompensas. A fé inabalável nos mercados veio substituir a “velha” crença nos valores.

 

Os aprendizes de feiticeiro incorporaram a filosofia de que a iniciativa privada em total liberdade é a responsável pelo progresso e pela abundância. Ora isso é rotundamente falso. E a prova aí está à vista de todos. Portugal definha. O sacrifício neoliberal pode levar-nos à desagregação social e à violência política. 

 

O distinto professor lembra aos mais distraídos que as pequenas pátrias estão a querer mostrar-se. E isso afeta a unidade dos Estados.

 

Também o nosso, infelizmente, dá indícios de desintegração. O abandono do Interior é um sinal disso mesmo. Não sei durante quanto tempo mais, as populações que teimam em habitar este vasto território português vão aguentar ordeiramente que lhes roubem os principais serviços, condenando-as a uma vida de subserviência e de subdesenvolvimento.

 

O governo do PSD/CDS desculpa-se com o Tribunal Constitucional. Mas a resposta de Adriano Moreira é concludente: “Se alguma coisa contraria o governo, é a Constituição, não o Tribunal que a defende.”

 

A finalizar a entrevista coloca o dedo na nossa ferida mais evidente, o «Sistema»: “Um dos piores vícios é a promiscuidade entre o poder político e o poder económico.”

 

É caso para dizer que o nosso primeiro-ministro e o nosso, salvo seja, presidente da Câmara, ao mesmo tempo que são frusta-talentos, agudizam a memória do nosso passado pobre, fazem-nos estar fartos do nosso paupérrimo presente e encaminham-nos para a eterna desconfiança de um futuro isento de promessas dignas.

 

Toda esta crise me leva a estar cada vez mais de de acordo com António Costa: “O fim da austeridade não é uma promessa: é uma necessidade.”

 

PS – Para que os vereadores do PS da CMC também se ponham de acordo quanto à sua verdadeira posição relativamente ao pedido de auditoria externa às contas da Câmara de Chaves – até porque não é bonito atirar a pedra ao (ex-) vereador do MAI e esconder a mão relativamente à posição de um seu vereador que, num primeiro escrutínio votou favoravelmente a realização de uma auditoria externa às contas da autarquia flaviense, para depois, numa segunda fase, dar o dito por não dito, e votar em sentido inverso –, vimos por este meio solicitar mais uma vez ao senhor presidente António Cabeleira, e aos seus distintos vereadores, João Neves incluído por inteiro, que tenham a coragem de assumir a necessidade de uma auditoria externa às contas da autarquia. Pois quem não deve não teme e à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo. Até porque estamos todos com necessidade de dormir um pouco mais descansados. 

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