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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

20
Out14

211 - Pérolas e diamantes: Sair ou não sair? Eis a questão…

João Madureira

 

Todos sabemos que os partidos políticos já não são organizações que formam a opinião pública e lhe dão corpo. São, nos tempos que correm, sobretudo agências de promoção social dos seus principais membros.

 

Mas existe especialmente um que apenas tem espaço, e alma, para o pensamento económico. O seu líder, em campanha eleitoral, afirmou desejar um novo tempo, protagonizado por pessoas capazes de criar valor porque possuíam valores.

 

É agora evidente que nem ele nem os que o rodeiam são capazes de evoluir e, muito menos, de cumprir com a palavra dada. É o triste fado dos políticos portugueses, nunca acompanham os movimentos das ideias, vão sempre atrás dos outros. E mentem descaradamente.

 

Ângelo Correia tem razão quando afirma que os partidos se comportam como comunidades numa sala cerrada, pois não dialogam, preferindo antes jogar em círculo fechado.

 

A Visão, com o título “A face oculta do PSD”, noticiou que a Procuradoria, a Judiciária e as Finanças andam a investigar uma agência que trabalhou em dezenas de campanhas eleitorais do PSD. Pela tal agência terão passado milhões de euros em faturas falsas, financiamento eleitoral proibido, concursos forjados e comissões para intermediários.

 

Esses dinheiros terão circulado por câmaras municipais e estruturas partidárias.

 

No universo dessa agência desfilaram governantes, deputados, autarcas e dirigentes partidários.

 

Ainda segundo a revista Visão, a agência de publicidade WeBrand fez dezenas de campanhas do PSD e por “ela terão passado milhões subtraídos ao erário público em negócios polémicos e ilícitos”. As ordens internas eram para “triplicar” os valores dos trabalhos efetuados, que os partidos pagariam depois do ato eleitoral.

 

 A mentora da agência terá escrito a um amigo: “Estes trabalhos em Portugal não precisam de concurso… precisam de amigos para serem ganhos.”

 

Por isso é que a cada dia que passa todos nos sentimos um pouco como Silva Peneda. Já não são as pessoas que saem dos partidos. São antes os partidos que vão saindo das pessoas.

 

 

PS – Qualquer estudante do Secundário sabe que a teoria geral da relatividade explica as coisas maiores do universo, nesse sítio onde a matéria faz curvar o espaço e o tempo.

 

A teoria mais elaborada dos quanta aclara o muito pequeno, onde a matéria e a energia se dividem em ínfimos pedaços.

 

Mas, se tentamos usá-las juntas, as duas revelam-se absolutamente antagónicas.

 

Para que ao exercício do poder democrático e à respetiva transparência das contas públicas não lhes suceda o mesmo que às duas teorias citadas, mais uma vez renovamos o nosso apelo para que o senhor presidente da câmara, mais os seus distintos vereadores, aprovem uma auditoria às contas do nosso município, pois à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo e quem não deve não teme.

16
Out14

Poema Infinito (220): os profetas e as mulheres

João Madureira

 

Debruça-se nos séculos o pó dos imortais. Acende-se a cabeça de Cervantes. As esfinges ficam presas nas hastes do vento. A boca passa a ser o limite dos mistérios. Os pensadores metálicos olham as pedras de Tebas e choram como o fazia Dante. Talvez o inferno seja a memória do tempo e o céu a limpidez cáustica do pecado. Pascal continua a viajar no seu comboio feito de nostalgia, amor e fama. Esse era o seu vício branco. Os seus olhos são números. Agora os cientistas vendem as suas ideias em barracas de feira. Os seus membros são voláteis. O seu coração já não gira à volta do mundo. Os profetas são como megafones. São tudo e não são nada. Ajoelham-se nos lajedos e choram perante as câmaras de televisão. São os servos utópicos da decadência. As suas imensas falas corroem o mundo e chegam apressadamente aos sentidos, como uma droga dura. As raízes cuidam das lágrimas do tempo. O sol, enorme, penetra nos pássaros. Os profetas absorvem a alegria. As suas metamorfoses fremem como se fossem um milagre. Várias mulheres dançam envoltas pela aurora. Os profetas pensam em lavar-lhes a alma. As suas mãos erguem uma ponte à entrada da noite. As mulheres engravidam, vítimas da sua febre tentadora. Os profetas falam-lhes com palavras abortadas, numa longa conversa comprimida. Lavam os séculos. O seu Deus é o léxico. As suas palavras são loucas. As suas mensagens são rápidas. As mulheres ficam sombrias por verem os pénis dos homens a entardecer. Colocam as mãos em concha e gemem. Bebem a idade por cálices de amargura. Em tempos foram felizes. Foram o motor do vento, os sonhos dos homens, a cama onde dormiam. Foram as suas estrelas confusas. Foram mães inquietas que tatearam o tempo à procura dos filhos. Os profetas afirmavam a presença dos deuses e definiam os homens como os seus desperdícios, como as suas sobras. Como a suas sombras. E louvavam o sol que assusta os animais. As mulheres sentiam então os seus sentimentos levados pelas manhãs. Mas não se renderam. Os pássaros pousam nas imagens. Uma espécie de fé banha a memória. As crianças ficam sonolentas olhando para a ciência das mães. O amor é um abismo onde os corações incham. Os profetas louvam o deus dos objetos, a história afeiçoada dos mortos, os séculos de caos, as vozes escritas na madeira, a cegueira do cosmos, os exílios, os vagões da loucura, as linhas do delírio, a tristeza das mãos assustadas dos anjos míopes. Os profetas recomeçam com as perguntas e afogam as imagens. As mulheres envelhecem. Os profetas recitam-lhes a poesia das tragédias e lembram-lhes a terra que devora os corpos. As mulheres adormecem embrulhadas no seu próprio cansaço. E exclamam que uma vida não se constrói apenas com anos, nem com metáforas. Os profetas movem os símbolos como se estivessem a jogar xadrez. O tempo fica liso. O desejo fica transparente. Os profetas põem máscaras novas. O seu céu fica cada vez mais abstrato, ligado aos homens por redes invisíveis de assombro. As palavras começam a sobejar-lhes. As pedras crescem debaixo dos seus pés. As suas mãos ficam frias como as do seu Deus. Repartem entre si o júbilo da morte. Hieronymus Bosch começa a pintá-los com a sua louca objetividade.

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