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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

13
Out14

210 - Pérolas e diamantes: o buraco da CMC e o aumento de impostos

João Madureira

 

O senhor presidente da Câmara, António Cabeleira, na reunião da Assembleia Municipal de Chaves de 24.09.2014, resolveu distribuir um documento de duas páginas relativo à atividade camarária compreendida entre 30 de junho e 11 de setembro. Dela constavam três pontos: 1 – Situação Económica/Financeira, com documento em anexo de 2 páginas (onde se encontra plasmado, em números redondos, o descalabro da dívida astronómica); 2 – Obras em Curso, com documento em anexo de uma página (que são as tais de Santa Engrácia, pois demoram uma eternidade a ficarem concluídas); 3 – Atividades relevantes.

 

Respeitante ao ponto 3, foi-nos fornecida uma listagem de 11 atividades. A saber: Comemoração do Centenário do nascimento do marechal Costa Gomes; reunião com o Ministério da Saúde, com o Diretor Regional da Cultura, com a Direção da Fundação Nadir Afonso, com o Conselho Municipal de Educação e com o Ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional; participação numa apresentação na UTAD em Vila Real e numa manifestação sobre o mapa judiciário em Lisboa; reunião no Conselho da Comunidade dos Agrupamentos de Centros de Saúde do Alto Tâmega; reunião da Assembleia geral do MARC, SA e da Associação Promotora para o Ensino da Enfermagem.

 

De tudo isto resultou uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Ou quase. Pois na citada comemoração do senhor Marechal, os serviços camarários arranjaram uma tal confusão protocolar que só não deu barraca porque os “não-protocolados” resolveram pôr acima da falta de respeito e consideração da Câmara de Chaves em relação aos eleitos autárquicos, os legítimos interesses dos cidadãos flavienses e, sobretudo, o respeito pela memória do ilustre flaviense. 

 

Relativamente à Saúde e à Justiça no nosso concelho, tudo continua na mesma como a lesma. Ou quase. Pois a condição do nosso Hospital persiste em degradar-se a cada dia que passa. E sobre o Tribunal nem é bom falar.

 

Mas até não viria daqui grande mal ao mundo se, nos intervalos das denominadas “Atividades Relevantes”, o senhor presidente não se tivesse dado ao trabalho de aumentar ainda mais os impostos e penalizar de forma evidente os contribuintes flavienses, pela mais que evidente incompetência dos executivos do PSD, que sufocou as contas da autarquia.

 

Algumas almas mais tolerantes, muitas delas ligadas ao PSD local, esperavam que a “sua” Câmara fosse capaz de atenuar o esforço fiscal dos flavienses, diminuindo os impostos municipais. Mas não, António Cabeleira e os seus distintos vereadores, decidiram aumentá-los. Apesar de a receita global resultante dos impostos se ter ampliado nos últimos dois anos.

 

O IMI, que em 2011 era de 0,2%, e que atualmente se situa nos 0,3%, vai passar para taxa de 0,35%.

 

Dir-me-ão que 0,05% até nem é um grande aumento. Eu relembro que é mais um imposto a agregar a todos os outros impostos, diretos e indiretos, os quais, todos juntos, perfazem uma pipa de dinheiro que nos retiram dos bolsos sem nos pedirem, sequer, licença.

 

Além disso, é bom ainda recordar que o recente processo de avaliação geral de imóveis originou um enorme aumento do imposto a pagar pelos proprietários.

 

Para nos inteirarmos do que verdadeiramente significa este aumento da taxa do IMI, basta dizer que, com ele, a autarquia flaviense pensa vir a arrecadar, no próximo ano, cerca de mais um milhão de euros, a juntar aos cerca de €3.138.491,60, que é o que representa a taxa de 0,3%.

 

Mas a fúria do aumento de impostos não termina aqui. A autarquia vai cobrar a cada flaviense a taxa máxima de IRS a que tem direito, em vez de seguir, por exemplo, a Câmara de Lisboa, que, para contrariar a política de agravamento fiscal sistemática do governo, resolveu apenas cobrar aos seus munícipes 2,5%, ou a de Boticas que pura e simplesmente decidiu abdicar da sua participação de 5% no IRS, para desta forma “apoiar a população e minimizar as suas dificuldades financeiras, procurando colaborar para um maior desafogo das famílias”.

 

A Câmara de Chaves, por causa da sua incompetência política e financeira, passa para os ombros dos flavienses a árdua tarefa de, com os seus já magros rendimentos, suportar o descalabro das contas autárquicas.

 

Só nos resta a esperança de que, como bem diz o nosso povo, como não há bem que sempre dure, também não há mal que nunca acabe.

 

PS – Para podermos fazer uma ideia concreta de quais são os buracos financeiros que vão ser tapados pelo empréstimo de 20 milhões de euros negociado pela CMC com os bancos, que os flavienses vão pagar com língua de palmo durante os próximos 14 anos, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC, mais aos seus distintos vereadores, nos quais incluímos necessariamente o catavento político João Neves, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme. E à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo. Assim vamos todos conseguir dormir um pouco mais descansados.

09
Out14

Poema Infinito (219): a decadência da fé

João Madureira

 

Os pássaros já não pousam nas árvores porque as protegeram com grades. Por isso escurecem o seu gorjeio. Os pescadores já não pescam poemas, apenas apanham peixes estandardizados de aquacultura. As crianças já não transportam nos bolsos o sol e os passarinhos nem caem no rio onde mergulhavam os pés rasos de água. Os dias aparecem-nos chorando com as suas bocas pequenas de cobras. Os rostos das pessoas parecem feitos de chão e desalento. Os rios vão-se embora atrás das andorinhas. Alguma da sua água fica guardada nos nossos olhos. As nossas bocas ficam secas como pedras ao sol. Também o vento deixou de subir ao cimo das árvores. Alguém engoliu os últimos raios de sol. Recordamos o tempo em que o vento brincava com os pássaros perto do nosso quarto, junto ao pomar. As palavras viajavam pelo chão claro das ruas, seguindo a água. Então inventávamos barcos feridos que conseguíamos salvar cantando canções de alegria. Subíamos até ao céu ascendendo pela árvore da esperança. Bebíamos água no rio, apanhávamos as sombras da tarde e dávamos beijos com os lábios repletos de aromas molhados. Brincávamos com as borboletas que se alimentavam de luz. As nossas mãos derramavam os frutos maduros com a arte do amanhecer. Agora os sorrisos fogem dos nossos rostos e os pássaros ficam desinquietos nos pontos cardeais. Molhamos o rosto na chuva. As nossas mãos ainda carregam algum amor. Pousamos o olhar nos rostos que amamos como quem planta flores nos jardins. Por vezes comentamos o sabor que a tarde deixa nas nossas bocas. O azul possibilita que as garças voem no firmamento. Temos saudades do cavalo de pau e das estrelas verdes no céu. Descobrimos que mesmo as estrelas amadurecem e ficam tristes. Temos saudades do tempo em que os frutos cheiravam a verão. Agora os dias escondem-se atrás das noites e as manhãs são como escaramujos. As nuvens comem as árvores mais viçosas e o vazio desfolha as noites. O silêncio adquiriu a forma das raízes. No crepúsculo cantam as últimas cigarras. Os pássaros voam desconfiados por dentro do orvalho. As mãos aumentam pelo meio do tempo. Ao longe, o luar adormece as árvores. A gente mais crédula ainda espera pelos sonhos. As plantas ensinam-nos o chão. Quem se mete pelos atalhos encontra sempre o inferno. O musgo sobe-nos até aos lábios. O entardecer é como o gume de uma adaga. Experimentamos a sensação de nunca termos onde chegar, de sermos como as coisas que não têm boca, de nos sentirmos como crianças secas. Agora entregamo-nos aos objetos. Somos como formigas sem sono. Os novos ícones desfazem as flores e as aves. O tempo de esperar começa a desaparecer. Apesar de termos ainda alguma fé, estamos sozinhos como os sorrisos tristes. A tristeza veste uniforme e senta-se ao pé de nós como se fosse nossa amiga. Estamos silenciosos como ruínas. Mastigamos as esperanças destruídas. A nossa esperança reside no facto de os nossos corpos ainda se arrepiarem diante das flores silvestres banhadas pelo orvalho da manhã.

06
Out14

209 - Pérolas e diamantes: o direito a ser decente

João Madureira

 

Tal como a jornalista inglesa Lara Pawson, também eu aprendi que as democracias bem-sucedidas permitem que as pessoas se manifestem, mas os governantes não reagem. É aqui que reside a perfeição do processo: deixar que a população proteste à vontade, mas ignorá-la por completo.

 

Ninguém imagina o que é ter-se talento para fazer algo e não o poder fazer. Ou pelo menos imaginar que se possui essa vocação para fazer algo e, no entanto, não a conseguir realizar.

 

Alguns meus amigos possuem tanto talento que nem se quer se dão ao incómodo de fazer alguma coisa de útil para a sociedade.

 

Eles dizem-me que as coisas que parecem diferentes na realidade são iguais. Eu oiço e nada respondo. Mas desconfio que as coisas que parecem o mesmo é que na realidade são diferentes.

 

Cada vez estou mais convicto de que os homens de bem não conseguem prosperar. E na nossa terra ainda menos. Quem teima em ser impoluto, leva mais porrada do que um liteiro.

 

Mas a mim ensinaram-me em pequeno que um homem tem o direito a ser decente.

 

Por aqui parece que apenas existem duas soluções: ou nos conformamos ou fazemos de conta que nos conformamos.

 

Conheço gente que diz cobras e lagartos de muitos seus conhecidos, ou correligionários políticos, mas, quando estão juntos, parecem unha com carne e estão sempre a sorrir, a bater nas costas ou a aplaudir.

 

Já não há valores, só há preços. E estou em crer que o preço da frontalidade está em época de saldos.

 

Depois veem-nos sempre apelar à conciliação e ao diálogo. Mas são sempre esses os que já têm a faca e o queijo na mão e o assunto cozinhado.

 

Quando oiço falar os nossos principais responsáveis autárquicos fico sempre com a sensação desagradável de que falta ali alguma coisa. Como quem assiste a uma missa em latim.

 

E rio-me sempre baixinho dos que pensam que o poder é uma virtude positiva. Esses acabam sempre por gostar automaticamente daqueles que o possuem, pois gostam de permanecer agradáveis e incolores.

 

Mas como não há mal que sempre dure, esperamos sinceramente que deste poder autárquico, daqui a uns anos, nada mais reste do que apenas recordações.

 

Olhando para trás, apenas me apetece dizer como o personagem Paco Gay, do livro de Gonzalo Torrente Ballester, Onde os Ventos Mudam: “Ai, a terra, a terra! Se nos apanha, dá cabo de nós.”

 

 

PS – Para que todos os flavienses fiquem a ter uma ideia aproximada do dinheiro que foi gasto pela CMC durante os últimos 12 anos, em propaganda política e o que efetivamente foi gasto em obras necessárias e estruturantes na cidade e no concelho, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da autarquia, António Cabeleira, mais aos seus distintos vereadores, incluindo necessariamente João Neves e João Moutinho, para que, em nome da transparência e do bom nome da Câmara de Chaves, aprovem uma auditoria externa às contas da CMC.

 

Passaríamos todos, com certeza, a dormir um pouquinho mais tranquilos.

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