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O rumor da tua pele manda-me recados que fazem lembrar as tardes da minha infância, deitado no feno, lavado pelo sol, observando ao longe o rio. As manhãs completavam então a distância entre as minhas mãos e os frutos maduros pendurados nas árvores como se fossem os brinquedos dos pássaros e dos anjos. As flores demoravam-se na composição da cor dos prados. O aroma dos pomares fazia-nos sede e os olhares cegavam de tanta beleza desperdiçada. Aprendi a partir sem olhar para trás. As mulheres guardavam a sua seiva como se fossem árvores. Os seus dedos aprendiam a função vital das raízes. O tempo crescia muito devagar dentro de nós. Ainda não conhecíamos os olhares tristes que transportavam os pássaros quando regressavam do inverno. A tua boca prometia prazer. Naquele tempo as mãos nunca dormiam. Nem os olhos. A inquietação repousava no vento. Tudo estava cercado de sonhos. Mostravas-me os seios como se fossem frutos ociosos. Eu confiava-te o meu tempo. Os nomes passavam depressa. Conhecemo-nos devagar, cuidando e estudando os olhos como se fossem labirintos. Os gestos aconteciam como se fossem poemas e as nossas mãos eram como caminhos eternos. A espessura dos teus lábios desenhava o prazer. De olhos acesos, como os gatos, esperávamos que nos contassem histórias. A noite oferecia-nos o seu silêncio. E o tempo avançava, parecendo recuar, envolto em gestos inevitáveis. E começou a fechar as portas devagar. Os corpos são agora como barcos que navegam com receio. Têm o sabor das ondas. Arrastam consigo as margens dos rios e as promessas de amor que são como pequenas chamas azuis a tremeluzirem na inquietação da tarde. O tempo é uma boca que se abre e nos devora lentamente. A sua paciência é infinita e vagarosa. Adormecemos com a sinceridade das casas velhas. Por vezes o frio revela reflexos que são como âncoras siderais. No verão as planícies eram lentas como o doirado do trigo. Por vezes as brisas quentes ondulavam sibilantes sobre as searas. Os celeiros estavam vazios. O tempo era espesso, as papoilas gotejavam pelos caminhos. Quando chegavas, movias as paisagens. A tua pele chamava-me em surdina. A roupa abandonava os corpos como por milagre. O amor adquiria o fulgor das searas em movimento. Depois erguiam-se os ventos que gritavam impetuosidades clássicas, incontidas. Os homens mais velhos assomavam às portas e assobiavam cantigas da sua infância. Guardei-te em mim como um segredo. O teu sono era ativo. Recordas-me sempre a janela do meu quarto virada para o céu onde acordava todas as manhãs acompanhado pelo sol. À noite tinha medo das sombras que se passeavam pela parede como espectros longilíneos. Sentia o rio que passava muito perto sussurrar a sua tristeza líquida que não o deixava deter-se em lado nenhum. Naquela altura, a aldeia onde eu nasci cheirava a sonho e a erva fresca. Os gestos e as palavras dos adultos picavam como urtigas. As noites vinham rápidas e as manhãs tardavam em aparecer. Começou então o tempo a ser uma história dentro de outra história. O medo recortava o silêncio. Foi quando os livros começaram devagar a tomar conta de mim. A luz principiou a estilhaçar-me a visão. As cores confundiram-se dentro do meu cérebro. As aves rasgaram as janelas. Comecei a inventar histórias como se fossem cavalos que clareavam os templos rodeados de brumas. Quando os amigos partiram, apareceu o amor. Esse lugar vago foi sempre teu. És a minha biografia completa.
Olhando para a onda de corrupção que assola o nosso país, quer entre os nossos políticos e os altos cargos da administração do Estado, quer entre os “facilitadores de negócios”, quer ainda entre os banqueiros e fauna idêntica, convém lembrar que um líder é apenas tão corrupto como o sistema que o produz. Agora pensem nas figuras e nos partidos, bancos, etc., que estão na génese do nosso “Estado Democrático” pós 25 de abril e a explicação é tão óbvia que até assusta.
Bem podem eles (Bloco Central dos Interesses - PSD/CDS/PS) falar em diálogo, que todos sabemos que para essa gente o processo sugerido se encontra sujeito às suas próprias condições, se reveste apenas de simbolismo, para levar os eleitores a votarem nos partidos tradicionais.
Dessa forma criam uma espécie de suspense necessário que apenas tem por objetivo sustentar uma fachada política que nos faça crer que o ensaio da sua participação política transforma a representação em realidade.
Fartos dos arremedos democráticos deste BCI estamos nós.
Tal como Espinosa, dizemos que exigir a um ser humano o que é impossível, exercer um poder onde ele não pode ser exercido, é tirania.
É tirania condenar, como o faz Pedro Passos Coelho, mais de três milhões de portugueses ou à miséria ou à indigência. É tirania, como o faz o PM de Portugal, condenar centenas de milhares de portugueses ao desemprego, especialmente a nossa geração mais jovem e bem preparada de sempre. É tirania, e estupidez, a pretexto da dívida, o PSD e o CDS quererem vingar-se do povo grego por motivos meramente eleitoralistas.
É política e eticamente inqualificável o nosso PM ter estado cinco anos sem pagar contribuições à Segurança Social e, quando pressionado pela notícia de um jornal, desembolsar nesse mesmo mês cerca de 4 mil euros para tentar iludir os portugueses. É por isso que a Segurança Social está como está.
É indecoroso e abjeto o ministro da tutela vir justificar o PM com uma desculpa estúpida, tentando fazer dos portugueses parvos.
Mas se do lado do governo PSD/CDS chove, do lado da oposição protagonizada pelo PS de António Costa troveja.
Os jornais afirmam, insistentemente, com um misto de estupefação e desalento, que começam a surgir no PS sinais evidentes de irritação e desespero com a forma politicamente inábil como A. Costa tem gerido a agenda política.
E temos de reconhecer que têm razão. O líder do PS começou por dizer coisas muito acertadas e por fazer diagnósticos corretos sobre o país e a Europa. Mas sobre as possíveis soluções nada adianta. Costa apenas diz generalidades inócuas. Sobre todas as questões essenciais guarda um silêncio prudente.
O mutismo sobre os tristes desfechos do BES e da PT, sobre a privatização da TAP, sobre a Justiça e também sobre a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde é muito esclarecedor sobre a sua postura política.
Com o país a ser consumido em fogo lento pelas políticas neoliberais do governo do PSD e do CDS, António C. dá-se o luxo de planar acima de toda a crua realidade.
Vai andando por aí, ora assumindo o papel de presidente da Câmara de Lisboa, ora o de secretário-geral do PS. Sempre aos ziguezagues. Contornando, dessa forma, as questões e os obstáculos com um sorrisinho nos lábios.
Todos concordamos que quem pretender ganhar as eleições, desta vez vai ter cuidado com as promessas que fizer.
Mas uma coisa é ter cuidado com as promessas, outra, bem diferente, é não fazer nada, e dizer outro tanto, sobre a forma como se pretende agir quando se chegar ao poder.
António Costa está metido num sarilho dos grandes. Quando fala desce nas sondagens, mas quando está calado acontece-lhe o mesmo.
É verdade que o líder do PS não consegue dizer nada de substantivo. A princípio pensávamos que era por questões de estratégia política. Mas o problema é bem mais complicado do que parece. A. Costa, afinal, não tem nada para dizer. E é preocupante que assim seja. O principal partido da oposição não pode ser um vazio de ideais.
Os portugueses já se deram conta de que o PS de Costa é o mesmo que era liderado por Sócrates.
Quanto mais os portugueses conhecem A. C., mas o mito cai.
Todos sentimos que a maioria absoluta que o PS de António C. almejava já se esboroou. O enigmático é que está seriamente em risco a vitória do PS nas próximas eleições legislativas.
PS – Tchékhov dizia que “a arrogância é uma qualidade que fica bem aos perus”. Por isso, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC e aos seus distintos vereadores, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme.
PS 2 – Também em nome da transparência, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da JF de Santa Maria Maior.
PS 3 – Era um ato de coragem redentora, o senhor presidente deixar-se de desculpas de mau pagador e pôr fim ao deplorável espetáculo dos esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro – Outeiro Seco.
Assimilamos os montes, o céu, as árvores, as borboletas e os pássaros espantados pelo amanhecer. O verde que tudo envolve é silencioso e fragmentado. O calor do tempo ficou escuro. Regressamos à lentidão do amor, como se estivéssemos num baile de máscaras. Os gnomos tocam violoncelos. As gotas de orvalho acendem-se como se fossem lâmpadas de natal. Os pequenos seres que moram dentro da minha imaginação continuam adormecidos deitados nas folhas cor de âmbar da floresta. Os nossos olhos atravessam o abismo. Os pássaros transformaram-se em cristal. Adoeceram. Sobre as constelações desceu a chama divina do desaparecimento. As árvores flutuam. A terra treme. As metáforas respiram. As esculturas movem-se em busca do desejo. O teu nome agora apenas pode ser dito pronunciando as vogais aspiradas como se fossem buracos negros de paixão. Disfarçamos a decadência com símbolos submersos. Os signos lânguidos da esperança incendeiam-se. A harmonia toma conta do cio dos nossos corpos. As ninfas escondem-se dentro dos teus olhos e choram. Os jardins ficam minúsculos e breves. Acariciamos o tempo. Na tua língua nascem flores. Eu suspiro-te conceitos que perpetuam o crepúsculo. Ao longe, as mulheres mais solitárias passeiam descalças junto ao mar, maravilhando a praia com as suas sombrinhas e os seus pés descalços. O vento levanta-lhes as saias expondo a sua nudez libertina. Deus deixou de fazer perguntas e de dar respostas. A lâmpada do pecado acendeu-se no quarto que assimila agora o movimento feroz do final do coito. Coloco as mãos em concha para recolher os teus gemidos. O sangue lateja na minha cabeça e no meu sexo. O teu corpo abre-se revelando um labirinto sumptuoso. O teu corpo é agora o sol. Um momento enigmático desliza entre as carícias. O amor é como uma metamorfose do desaparecimento. As montanhas ficam vazias. Os animais respiram silêncio. As bocas das estátuas fulminam as asas dos anjos. A luz que entra pela janela purifica o meu delírio. As palavras tremem como se fossem feitas de água. Os teus olhos são agora estrelas brancas que emitem florescências ténues. Sinto-me cercado pelos astros mais longínquos. Sou um frágil satélite do tempo. A minha ignorância é agora circular. O desejo cavalga a luz como se fosse uma fórmula matemática. Os números tremem como se fossem redondos. Os textos sagrados convertem-se em catedrais liquidadas. As magnólias dos poemas de que gosto evaporam-se. Moves-te como uma paisagem lasciva. O desejo continua a ser uma serpente venenosa coberta de espuma e palavras que são vermelhas como os abismos. Um fogo silencioso consome-me a memória. O tempo fica informe. O desejo liberta as mãos de rezar. Sinto de novo a vertigem branca da escrita. Os corpos das mulheres solitárias que passeavam na praia começaram a incendiar-se por dentro. Observo-lhes a minúcia das suas bocas e dos seus sexos. Dizem-me que são a origem de tudo. Que nasceram para completarem a criação. Pedem-me que faça de deus e sopre as suas cinzas para o mar. Chamam umas pelas outras enquanto os seus corpos se consomem. As palavras começam a ficar frias e densas. Chegam por fim os homens. Levantam os seus braços e gritam. Tudo é agora ausência. O amor transformou-se numa cintilação silenciosa. Os olhares ficam vazios. Sinto ainda uma réstia de felicidade nos dedos. O sol fica rápido e desliza sobre o horizonte aprisionado na sua densidade absoluta. O presente é absoluto. Uma radiosa sombra toma conta do teu olhar. Os nossos sexos ainda cintilam. A matéria, o espaço e o tempo continuam a expandir-se. O silêncio também pode ser uma festa.
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