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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

11
Mai15

239 - Pérolas e diamantes: PSD, CDS e PS é tudo vinho da mesma pipa

João Madureira

 

 

 

Como o PSD e o CDS, também o PS quer que o Estado, tal como os bancos portugueses, seja uma casa de jogo.

 

A meu ver, o PS é apenas mais ingénuo, ou inculto, pois julga que basta ser maneta para ser Vénus do Nilo ou o almirante Nelson.

 

Todos sabemos agora que as fraquezas dos chefes ideológicos refletem-se necessariamente nos seus adeptos.

 

Quando seguimos por um caminho errado, recuar é a única forma de seguirmos em frente.

 

A “polifonia” resultante da apresentação de propostas feita pelos “economistas do PS”, no dia 20 de abril, mais não fez do que não deixar perceber praticamente nada das palavras e dos conceitos que foram proferidos. O PS de António Costa é mestre nestes “arranjos musicais” a várias vozes. Não é António Costa que fala, são os seus camaradas que cantam.

 

O que devemos exigir é entender as palavras, ou, no mínimo, o sentido final das propostas. Ou seja, o que fica para além da demagogia.

 

Sobre as qualidades dos políticos atuais, lembro-me sempre do que disse Verdi sobre Wagner: “Há pessoas que fazem crer aos outros que têm asas, porque, na realidade, não se aguentam nas pernas.”

 

Atrevo-me a dizer que Pedro Passos Coelho é o grande político das pequenas ideias e António Costa é o pequeno político das grandes ideias.

 

O primeiro é a modos como um professor de natação que não sabe nadar e o segundo um mestre de equitação que não sabe sequer montar um burro.

 

Os discursos de Pedro Passos Coelho fazem lembrar as desculpas maliciosas do lobo mau disfarçado de avozinha tentando enganar o Capuchinho Vermelho. Já as de António Costa parecem inspiradas nos discursos de Warren Harding (29º presidente dos Estados Unidos, considerado um dos piores presidente daquele país, tendo felizmente ocupado o cargo apenas durante dois anos), famosos por serem como “um exército de frases pomposas movendo-se pela paisagem à procura de uma ideia”.

 

Enquanto PPC é um indivíduo sisudo e com um sorriso de raposa matreira, António Costa revela-se um sujeito bonacheirão e de sorriso fácil. Nisso se diferenciam, quanto ao resto é tudo vinho da mesma pipa. Divergem no timing das medidas, mas concordam nas políticas centrais e no clientelismo político-partidário com que enxameiam o Estado. Afinal, ambos são dirigentes dos dois partidos que levaram o país à falência e que, aflitos com o dislate, chamaram a troika.

 

Da maneira indecorosa e arrogante como PPC governa já todos nos apercebemos, somos suas vítimas e também todos lhe conhecemos as consequências.

 

Sobre a putativa governação de AC, tudo leva a crer que será a modos como a do chefe definido por Napoleão: “Um general nunca sabe nada com toda a certeza, nunca vê claramente o inimigo e nunca sabe positivamente onde é que está.”

 

Além disso, o “fenómeno” (meteorito?) José Sócrates não nasceu de geração espontânea. É bom não esquecer que a sua incubadora foi o PS. Sem o PS, o ex-primeiro-ministro não passaria, com toda a certeza, de um medíocre engenheiro de província. É triste, mas é verdade.

 

Marinho Pinto diz, e com razão, que "a culpa é do povo português! Enquanto o povo não der um coice violento neste estado de coisas, eles (PSD, CDS e PS) vão continuar a abusar”.

 

Transferir o voto do PSD para o PS é o mesmo que sair da toca do lobo para nos enfiarmos na gruta do urso. Temos de ser mais ousados.

 

 

 

 

PS – Tchékhov dizia que “a arrogância é uma qualidade que fica bem aos perus” (ou talvez aos pavões que são aves de cauda mais vistosa). Por isso, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC e aos seus distintos vereadores, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme.

 

PS 2 – Em nome da transparência, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da JF de Santa Maria Maior.

 

PS 3 – Era um ato de coragem redentora, o senhor presidente deixar-se de desculpas de mau pagador e pôr fim ao deplorável espetáculo dos esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro – Outeiro Seco.

07
Mai15

Poema Infinito (249): a memória do desaparecimento

João Madureira

 

 

O dia renova-me a alma. É tempo de alegria. Semeio o sol no nabal. A sombra na terra tem exatamente a minha altura. As aves lembram-me a minha mãe. Pegam com amor nos seus trinados como se fossem flores que não gostam de ser pisadas. Os meus sonhos são preenchidos com pão e chuva e com a mesma proporção de verdade. A saudade tem a dimensão do céu que avisto aqui na aldeia. Os anjos transportam as setas que trespassaram o corpo de São Sebastião. O seu rosto reflete a dor e o desejo; o prazer e a perversidade humana. O pecado continua fechado à chave dentro dos quartos escuros das velhas casas construídas com granito puro. As nuvens lembram rosas frisadas e frutos secos veladas por cordeiros feitos de algodão carmeado. Está tudo enfeitado, a erva molhada, a noite fresca e iluminada pela luz das primeiras estrelas. Os caminheiros sentem a bênção das terras lavradas. Nas serras, os pastores esperam pela neve. Dás-me a tua língua como se fosse um peixe de água doce. Os pintassilgos transportam os sonhos de umas árvores para as outras. Semeio algum milho e outros tantos versos. Amo os meus filhos como se fossem palavras. Vejo-os a correr pelos outeiros como se fossem semeadores de pães. As oliveiras fixam a sua cor de bronze e prata. O vento sobe os rios em companhia das aves mais pequenas. A terra vai ficar fria, não tarda. A serra continua verde. A neve chegará branca, como sempre. A tarde cai. Os cães respondem ao longe. Junto à lareia, começamos a arder. O desejo é maior do que eu supunha. Imitamos a quietude da água enquanto olhamos perplexos um para o outro. Os juncos no rio também estão imóveis. O céu acende-se por cima de nós. Dizem os mais velhos que este ano todo o chão dará flores. Parecem ciprestes alegres. As suas mulheres sonham com os bragais de linho que ajudaram a fazer quando eram meninas e ouviam os passarinhos a trinar, quando cantavam nas manhãs douradas e se picavam nos espinhos das roseiras silvestres. Dizem que dessa forma experimentavam o frio e aprendiam a sentir a mudança do tempo. Eram andorinhas leves que voavam por cima do murmúrio dos rios, escutando o sossego da vida e observando a luz íntima que se elevava das igrejas. Colhiam o trevo para o gado mais fino enquanto os cães dormiam quentes ao sol. Pareciam pássaros distraídos. Agora falam da exatidão serena das flores, da frescura densa das fontes, da imprecisão do seu amor, do branco puro da farinha com que confecionavam o pão, dos seus desejos minerais, do orvalho que beijava a erva e as flores do campo, do azul inorgânico do céu, dos montes arredondados pelo trabalho, da dor que por vezes sentiam dentro da sua imaginação, das orações que confundiam com as pedras e as folhas mortas, do medo que sentiam quando lhes diziam que as cidades eram terras de engano. Deus era por vezes generoso e dava centeio para levar aos moinhos. A terra continua a existir mas a memória já começa a abster-se. Agora até fingem que dormem para enganarem o cansaço. Não esperam pelos sonhos. Os sonhos já não podem ser verdadeiros. O amor é agora como uma tarde vaga. O fogo da lareira já não aquece, apenas alumia a noite. O silêncio cai. Até as flores de plástico murcharam nas jarras. No espelho do lavatório a minha avó penteou pela última vez a sua cabeleira longa e grisalha. O azul dos seus olhos transformou-se em vidro.

04
Mai15

238 - Pérolas e diamantes: o cavalo de Goethe

João Madureira

 

 

 

Está prometido. Ou muito me engano ou vamos continuar com a austeridade pelo menos por mais quatro ou cinco anos. Devíamos pôr mais ênfase no apoio às exportações, mas isso, infelizmente, não é o que está acontecer.

 

Os donos dos grandes grupos económicos continuam a distribuir muitos dividendos e também a tirar dinheiro às empresas para o colocar no estrangeiro.

 

O PSD e o CDS continuam a insistir na austeridade de uma forma quase religiosa, como se a fome e o desemprego fossem capazes de redimir os portugueses mais desfavorecidos.

 

A Grécia é a prova provada de que a austeridade não resolve nada. Antes pelo contrário. Passou pela austeridade severa e os resultados são até negativos. Desceu enormemente o seu PIB e a dívida não para de crescer.

 

Após quatro anos de ajuda internacional, o balanço em Portugal é trágico, tantos foram os erros, as mentiras e as aleivosias a que assistimos impávidos e serenos.

 

Primeiro foi Pedro Passos Coelho, aquando do famoso PEC 4 de José Sócrates, que, aconselhado pelo inenarrável Miguel Relvas, se recusou a deixá-lo passar, recorrendo ao argumento de que não apoiava novos sacrifícios sobre os portugueses. O seu objetivo foi a queda do Governo e a realização de eleições antecipadas.

 

Aníbal Cavaco Silva, que ficará na História como o pior presidente da República pós 25 de Abril, ou até bem para além disso, como bom conspirador, ajudou à festa através do seu famoso discurso de tomada de posse, onde afirmou que já não existia mais espaço para a austeridade.

 

Entretanto os banqueiros esfregavam as mãos conspurcadas de dinheiro mal ganho e pressionaram o então ministro das Finanças para recorrer à intervenção da troika. Até Merkel ficou estupefacta perante tanta traição e estupidez.

 

Depois aconteceu o que todos sabemos: a austeridade programada para durar um ano prolongou-se por quatro; a recessão prevista de 4% situa-se já no dobro; o ajustamento das nossas finanças falhou; o desemprego atingiu níveis nunca vistos, cerca de 17%; 300 mil portugueses emigraram; e a recuperação económica é uma miragem.

 

Uma coisa este Governo conseguiu: o regresso de Portugal aos mercados. Mas isso para a quase totalidade dos portugueses é uma espécie de realidade virtual, pois os benefícios práticos apenas os teóricos do poder os enxergam, mas com o auxílio de enormes lentes de aumento.

 

Ou seja, tudo o que o atual primeiro-ministro prometeu aos portugueses redundou em fracasso. E outra coisa não seria de esperar, pois baseou-se numa colossal mentira.

 

Como também é mentira o argumento invocado por Pedro Passos Coelho, e Paulo Portas, de que as privatizações tornariam a economia portuguesa mais competitiva, pois, no seu ponto de vista, os preços a praticar tinham de descer.

 

O exemplo paradigmático do embuste do argumento utilizado pelo executivo do PSD/CDS está no facto de se ter vendido a EDP aos chineses e o preço da eletricidade ter aumentado.

 

E a prometida, e famosa, reforma do Estado afinal resumiu-se ao brutal aumento de impostos, ao corte de salários, pensões e apoios sociais aos mais carenciados, bem como à fragilização das relações laborais.

 

O modelo económico resultante desta política neoliberal assenta numa mão de obra mal paga, empregos precários e em trabalhadores amedrontados e desmotivados.

 

A classe média volatizou-se devido ao efeito dos impostos. Nos hospitais entupidos e à beira da rutura reapareceram as doenças características do Estado Novo, sobretudo ligadas à pobreza, à fome e indigência.

 

E com tudo isto chegámos onde tínhamos de chegar. Por isso a troika continua a recomendar que, apesar do sacrifícios feitos, os portugueses têm de fazer ainda muito mais.

 

Isto até poderia ter fácil solução já nas próximas eleições legislativas, mas, como diz Ricardo Sá Fernandes, “o PS é um partido minado pela cultura do favor e pela promiscuidade”.

 

Daí a necessidade de apostar em partidos liderados por gente que é fiel aos valores do caráter, passando um pouco à margem do ser-se de esquerda ou direita. Pois muito mais importante do que ser de esquerda ou de direita é ser-se frontal, honesto e incorruptível.

 

Faço votos para que não nos aconteça o mesmo que ao cavalo de Goethe, que, “cansado de liberdade, consentiu que lhe impusessem uma sela e um freio, e deixou-se montar até morrer de sofrimento”.

 

 

 

 

PS – Tchékhov dizia que “a arrogância é uma qualidade que fica bem aos perus” (ou talvez aos pavões que são aves de cauda mais vistosa). Por isso, mais uma vez solicitamos ao senhor presidente da CMC e aos seus distintos vereadores, que aprovem uma auditoria independente às contas da nossa autarquia. Quem não deve não teme.

 

PS 2 – Em nome da transparência, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da JF de Santa Maria Maior.

 

PS 3 – Era um ato de coragem redentora, o senhor presidente deixar-se de desculpas de mau pagador e pôr fim ao deplorável espetáculo dos esgotos a céu aberto em Vale de Salgueiro – Outeiro Seco.

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