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Encontro na tua fala um susto de promessas, como se fosse um sossego de palavras murmuradas. No teu rosto refulge a indelével respiração da poesia. Por detrás das palavras surgem os sinais visíveis da identificação. Existem no meu corpo indícios claros da tua passagem, algumas impressões digitais, alguns enredos, certos silêncios. Esquecemos por vezes os vários labirintos da identificação. As fotografias diluem os corpos, os lábios consomem a idade. Os rostos imobilizam-se nos limites da memória. A humidade do tempo confunde-se com a cor das flores. Tenho os teus suspiros agarrados ao meu peito. Escrever pode ser um vício feliz. Aprendi a ler nos caminhos a orientação do tempo, a direção dos ventos e a hesitação da água. Toda a obra é construída com paciência e insónia. Algumas vezes cresce junto dela a desolação e a incerteza. Outras ocasiões irrompem do seu íntimo vozes em queda, como se fossem aves de vidro, cobertas de metáforas. A paixão cobre de entorpecimento os textos. É a sua forma de envelhecer. O tempo escoa-se rapidamente. O vento tenta dormir. É o excesso de luz o que provoca as trevas. A melancolia é uma espécie de inércia interior. Levanto-me de manhãzinha, como os pastores. Vou com a chuva. Passo pelo nevoeiro. Regresso com o sol a pôr-se. Dentro de mim, todas as estações estão misturadas. Começo a habituar-me à grande desolação dos dias e ao silêncio transumante das noites. Avança a manhã pelos arquivos da memória. Por vezes, o céu entra-me pela janela. A paisagem que avisto respira uma intensa serenidade. As aves planam lá no alto. Os animais pastam lá ao fundo. Não sinto nem ânsia de partir, nem desassossego em chegar. A adolescência transforma-se definitivamente numa palavra salgada. Os espelhos refletem os enganos de cada um. Os movimentos da mão com que escrevo tornam-se lentos. O esquecimento é agora perfeito. Os computadores anunciam a morte da caligrafia. As salas azuis pressagiam catástrofes. Os corpos espalham-se pelos corredores. As máquinas ganham feições humanas. Os humanos adquirem a forma de máquinas. Os séculos guardados dentro dos livros mais antigos são exprimidos por palavras sintéticas. As nuvens pousam sobre o cume dos montes para serem fotografadas. Ninguém consegue aguentar a sua própria ausência. As noites de pesadelo enchem-se de catedrais, de árvores radioativas, de plantas que devoram o tempo, de aves luminosas que engolem o fogo, de uma espécie de silêncio definitivo. O vício obsessivo das palavras conduz à extinção das almas e consome os corpos. A estrada é agora uma ideia que nunca acaba. Os lugares por onde passa estão desertos. Alguém vagueia em busca do seu destino e descobre que não há destino nenhum. Os deuses do acaso predestinaram-nos ao nascimento e à morte. O tempo continua a apagar-nos sem darmos por isso. Os rostos expiram lentamente. As vozes imitam o eco dos rituais galáticos. O futuro é sempre tão longínquo que não existe. A manhã chega devagar estilhaçada pela luz. As plantas transformam o pó em oiro. Os raios de sol deslocam os objetos sem ninguém lhes tocar. A melancolia apreende tudo. O dia parece interminável quase até ao momento de acabar. A realidade continua com os olhos frios. A terra abre-se. Afinal, o poema é infinito.
Estrabão, já no início do século I d. C., referindo-se aos Belgas, mas pensando com toda a certeza nos Lusitanos, escreveu que “toda a raça a que agora chamam «Gálica» é muito belicosa… mas muito simples. E, por isso, se são provocados, juntam-se de imediato para o combate, abertamente e sem circunspeção, pelo que quem os queira derrotar por meio de estratagemas consegue vencê-los com facilidade.”
Por esses tempos, César, diz Suetónio, não se importava com o “estilo de vida nem riqueza dos seus homens, mas apenas com a sua coragem”, por isso construiu um império e chegou a ser seu imperador.
Tinha aprendido com as nomeações dos seus tribunos e perfeitos, que o haviam desiludido tempos atrás. Nomeações decididas tendo como base as recomendações e os favores.
Na época de César eram raros os filhos dos senadores que não sabiam latim ou grego. Quanto ao grego, o ensino ficou provavelmente a dever-se a um escravo de origem helénica (paedagogus), que tratava das crianças.
As figuras passadas eram enfatizadas nas aulas devido ao seu orgulho em serem romanas.
As crianças aprendiam a admirar as excecionais qualidades romanas, tais como a dignitas, pietas e virtus, termos que possuíam uma ressonância própria e muito mais poderosa do que o seu equivalente atual, dignidade, piedade e virtude.
Dignitas era o comportamento despretensioso que patenteava claramente a importância e responsabilidade de um homem, impondo dessa forma o respeito.
Tal comportamento era importante para qualquer cidadão romano, sobretudo se ele pertencia à aristocracia e ainda mais se ocupasse um cargo de magistratura.
Naquela altura as elites davam o exemplo ao povo. Atualmente, as nossas elites tendem a seguir os maus exemplos do povo.
A pietas abarcava não apenas o mero respeito pelos deuses mas também pela família e parentes, pelas leis e tradições da República.
A virtus possuía fortes tendências militares, englobando não apenas a coragem física mas também a confiança, a coragem moral e as qualidades que se exigiam tanto aos soldados como aos comandantes.
Os comandantes eram os primeiros a morrer liderando as suas legiões.
Atualmente contam-se as verdades aos conhecidos lá de fora, mantendo os que nos são próximos na ignorância.
Os líderes invetivam-nos, condenam-nos à sua própria biografia. São por vezes cosmopolitas e mundanos como Mr. Hyde, e, outras vezes, modestos como Mr. Jeckyll. E até jogam connosco à bisca lambida.
Procedem como os agricultores relativamente aos patos do curral, cortam-lhes as asas para que não levantem voo quando os outros os chamam nas suas peregrinações para norte.
Sozinhos, não sabemos para onde nos dirigirmos. E quando não sabemos para onde ir, nenhum caminho serve.
Prometem sempre qualquer coisa que parece que vai chegar e nunca mais chega. São apenas remedeios, preparativos para qualquer coisa que está sempre uns passos mais à frente.
Pressentimos a felicidade. Mas quando pensamos que está para chegar, ela passa ao lado, escapa-se, desaparece.
Todas as cores partidárias fazem parte da mesma nódoa.
Contam-nos sempre a mesma história. Dizem-nos que é verdadeira. Nós sabemos que é mentira.
A desilusão é fictícia.
Real só mesmo a tristeza.
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