298 - Pérolas e diamantes: liberdade de escolha
Há dias assim. Hoje não me importa o tema. Hoje tanto se me dá. Não sei se vou falar de literatura, ou de política, ou de vida mundana, ou do dia de ontem, ou do de hoje, ou mesmo do dia de amanhã.
Sei que os dramas da História, e das histórias, são sempre deslumbrantes quando vistos de longe, pois são constituídos pelos mesmos elementos que compõem as nossas obscuras existências diárias. Mesmo as estrelas mais remotas possuem a mesma composição que os nossos ossos que um dia serão pó e repousarão ao lado dos dos nossos pais.
Somos pó de estrelas.
Descobrimos que as coisas que nos circundam estão enlaçadas pela beleza que reside no mero facto de existirem e de serem simplesmente aquilo que são.
Para mal dos nossos pecados, os homens que tentaram implementar as grandes ideias acabaram por amontoar à sua volta apenas ruínas.
Uma coisa sei ao certo: o ponto culminante dos nossos dias mais partilhados não é o momento em que nos vestimos para as pessoas, mas o momento em que nos despimos para a pessoa que amamos.
Sim, bem sei, ler Proust dá nisto. Eu avisei logo no início.
Bem, meus amigos, há um provérbio que diz que quem se põe a gozar com um touro acaba por levar com o corno. Mas também sabemos que depois de levar com o corno, os provérbios não servem lá para grande coisa.
É a vida.
Na vida há dois tipos de jogadores: os bons e os outros. Os maus jogadores são muito parecidos com os que se entretêm a jogar snooker aos fins de semana. Andam sempre a “dizer raios partam o bilhar” e sempre a colocar giz nos tacos e a abanar a cabeça, pois as bolas teimam em não entrar no sítio certo.
Ao nível dos sentimentos também há dois tipos de pessoas: as parecidas com os gatos e as semelhantes aos cães.
Os gatos não se apegam a ninguém. Ninguém lhes conhece os sentimentos. Está demonstrado cientificamente que não conseguem sentir afeto.
Isso de se esfregarem nas nossas pernas e de se contorcerem é neles apenas uma forma de nos marcarem com o seu cheiro porque, para eles, somos uma espécie de comida ou um lugar onde podem descansar porque lhes pertence. Não são animais sociais.
Para os gatos, nós somos uma espécie de cobertor elétrico para os dias frios.
E os cães? Bem, os cães são outra coisa. A sua amizade e a sua lealdade não têm limites.
Depois existem as verdadeiras personalidades. Eu aprendi a apreciar a que mais é do agrado de todos. Ou quase. A princípio custou-me até porque era contra os meus princípios.
É do género que adia a necessidade de qualquer tipo de resposta minha contando-me a minha versão da minha história.
Fazem-me lembrar Hegel que achava que a transcendência é absorção.
Mas eu confesso, Hegel continua a provocar-me urticária. Apesar dos anti-histamínicos.
Prefiro David Foster Wallace que defende que “o homem que conhece as suas limitações não tem nenhuma”.
Por vezes até eu acredito em coisas em que não sabia que acreditava até me saírem da boca.
Essas coisas são como certos aromas da infância que, apesar de nos serem familiares, nos parecem inexplicavelmente tristes.
Há sempre aquele tipo pessoas que nunca simpatizarão com outra faça ela o que fizer. Mas também não se tem de gostar de uma pessoa para aprender com ela.
As pessoas más nunca acham que são más, mas que todos os outros o são.
Na verdade vos digo: É possível aprender coisas importantes com pessoas estúpidas.
Uma coisa tenho como certa: Não pode haver liberdade de escolha se não se aprender a escolher.