Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Nada perdura no inútil labirinto da eternidade. Até as palavras fingem que ressuscitam e que se leem umas às outras. Os sonhos negam-se a ter céu. O sol parece uma flor fora de tempo. Apenas os teus olhos brilham no meio do desespero. Renovo-me no quotidiano. No cansaço. No gume do perfume da vida que os meus antepassados cá deixaram. Sol e sombra constituem o binómio da mortalidade. Da crença e da descrença nasceu a filosofia. Não há esperança que nos valha nem desespero que nos aguente. A tristeza é como um manto denso que pousa sobre nós. Por vezes vem disfarçada de alegria. A imaginação anima-nos a confiarmos nos milagres. Os deuses mais poderosos nasceram no deserto. Por isso os galos cantam três vezes depois de cada traição. Das chagas dos redentores nasceu a beleza da salvação. Agora já nada é como dantes. A ternura brota do pão azedo. No meio da bonança alguém prega a ousadia. Por isso temos de desconfiar. Os irmãos desirmanam-se sempre que podem. E cada um vai para a sua margem do rio. Antes recusaram beber da mesma nascente e não se entenderam para construir uma ponte. A sua costela humana cegou-os. Por isso entendem os lobos e fazem que acreditam na parábola dos vimes. Por isso se pede a pele dos inimigos. O problema é quando a alcateia nos sai ao caminho. Os humanos vivem da liberdade alheia. Alguém lhes segue os passos hora a hora. O primeiro a saltar é o primeiro a morrer. Entretanto o sol recua. O teu rosto continua a sorrir como dantes. As flores não desesperam. Acreditamos que o agressor também pode ser agredido. O nosso desdém é eterno. Os ribeiros, as torrentes e os rios mais caudalosos juntam-se sempre no mar. Os oceanos não têm margens. Os deuses das fúrias perseguem as sereias, dilaceram os sonhos, abrem as portas aos arcanjos, arrastam atrás de si todo o desassossego do mundo. Os seus beijos possuem a raiva da morte. Nasceram por causa das mentiras divinas. Gostam de misturar as horas e os sonhos, de regular a inquietação que dá origem aos dias e às noites, de desfigurar as fantasias, de secar os jardins onde ainda floresce a vida. Falam-nos do valor dos gestos, do destino e do caminho parado da igualdade. O tempo arrefece dentro de nós. Por vezes, os deuses adormecem encostados aos rochedos mais íngremes. Então o céu fica belo, os poetas sorriem lindos versos de amor, as pessoas pisam o chão com segurança e percorrem os caminhos apócrifos das lembranças. Ficam impregnadas de tenacidade e dedicam-se a criar beleza, torneiam a tristeza, transfiguram o pranto e guardam o amanhecer dentro do peito. Fabricam as lágrimas em bruto para quando tiverem de chorar de felicidade. Quando os deuses das fúrias acordam as pessoas ficam cheias de medo e de remorsos. De vaidade. Fazem e desfazem a luz. Deixam de perceber o canto das aves, o caótico rumo dos astros, a natureza indulgente da fúria do vento, o sacramento do silêncio, as palavras profanas, a pureza, o cheiro das flores, o gosto dos frutos, a fadiga das árvores, a melancólica consciência do amor, a culpa seguida de confissão e a confissão seguida de culpa, a timidez imortal dos poetas, a hesitação momentânea dos corpos antes da cópula, o castigo e o perdão, deus e o diabo, a sedução dos abismos, a embriaguez noturna do desejo, os gritos, os protestos, os versos. Todos os versos. Começa então a noite no próprio momento de amanhecer. Os condenados adivinham a chegada da sua hora. Cegos de medo, são empurrados pela claridade.
Dizem os entendidos que nunca tivemos um mês de julho tão quente, com os valores médios de temperatura máxima a rondar os 32 graus, o que originou muitas noites tropicais. Daí a crise política se ter evaporado, pelo menos na opinião de Pedro Santos Guerreiro, o novo diretor do Expresso, que adota e subscreve as declarações do nosso presidente MRS. O calor de julho, por incrível que pareça, não teve expressão na mortalidade, mas, segundo dois jornalistas do Público, o cenário pode mudar. Quando o calor aperta, o rendimento do trabalho baixa, por isso a ONU prevê que as alterações climáticas tenham um forte impacto na economia global, porque vão levar a uma diminuição do rendimento profissional nos países mais pobres. Já ao nível do investimento, a bolsa registou o mês passado como o melhor dos últimos 19 anos. Pedro Nuno Santos acha que seria um erro provocar eleições, até porque a geringonça já chegou a ter 16 reuniões por dia. Atrapalhados com a situação do país, os deputados Domingos Pereira, João Gouveia, Joaquim Raposo, Pedro Pinto e Miranda Calha ainda não abriram o bico neste ano parlamentar. Manuela Ferreira Leite diz que nunca levou as sanções europeias a sério porque tinha a perceção de que tudo isto foi um teatro bem montado, em que o Governo e as autoridades europeias contracenaram com muita qualidade. Pedro Passos Coelho enfiou o barrete até às orelhas. Em 163.668 professores das escolas públicas portuguesas, apenas 451 têm menos de 30 anos. Já os alunos afirmam que andam a esforçar-se para ter sorte. No entanto, apostar no Euromilhões vai ficar mais caro a partir de setembro. Uma professora confessa ao Sol que, como as escolas são o barómetro da sociedade, os alunos refletem o desprezo pelo saber e a desesperança. Em Sesimbra, os turistas que ajudam a puxar as redes recebem peixe de borla. Os militares, gastos e cansados de tanta guerra, resolveram cerrar fileiras e lutar contra a idade da reforma. Segundo o Expresso, a Parvalorem, a antiga dona do BPN vai ser liquidada. A invasão dos Pokémons é mesmo verdadeira. Luís Onofre criou uma nova linha de sapatos masculina que pode tornar os homens mais altos cerca de 3 centímetros. O património ao abandono vai ser aberto a privados. Segundo o Expresso e o Ministério Público, os pagamentos a José Sócrates vêm desde a OPA da PT e têm origem na ES Enterprises, desde 2006. Para José Mourinho, andar a cheirar títulos não é o mesmo que ganhar. E no futebol roçar a arrogância é positivo. Por isso é que Portugal, segundo o Special One, partiu do pressuposto de que não ia sofrer golos e fazendo um ganhava. Por causa da pesca predadora feita nas costas portuguesas, pela procura desenfreada do mercado asiático, o cavalo-marinho, o meixão e o pepino do mar estão em vias de extinção. Segundo o jornal I, Ascenso Simões não foi afastado da campanha do Partido Socialista por causa dos cartazes. A razão é mais complexa. AS é transmontano, católico e da ala mais à direita do PS. E quem lê a entrevista até pode chegar mais longe e concluir que Ascenso Simões é também da ala mais à direita do catolicismo português pois prefere o Papa alemão Bento XVI, considerando que o Papa Francisco, quando lhe fazem uma pergunta, responde de forma inopinada, o que evidencia que é um Papa sem estrutura ideológica clara. E que a bonomia não é suficiente para uma igreja com 2000 anos. Presunção e água benta, etc. Quanto ao futuro do primeiro-ministro já o observou na bola mágica da vidente do vale de Vila Pouca: Quando a festa acabar, Costa deverá regressar ao parlamento europeu, cujo mandato interrompeu. Culturalmente vai mais longe, muito mais longe do que o PS alguma vez foi, pois, na sua douta opinião, o seu partido tem de perceber que a condecoração do governo francês a Tony Carreira é um elemento central (sim, central, não leram mal) do simbolismo público. Estou em crer que AS subscreve na íntegra as palavras de César Mourão: “Não sou um humorista, embora achem que sou.” Claro que ainda não atingiu (o Mourão, claro!) as explosões de humor do Vasco Santana n’O Pátio das Cantigas, mas é jovem e possui talento. Bem vistas as coisas, tudo é uma comédia de enganos. Diane Arbus defendia que fotografar de perto é a condição para existir como pessoa. Já Moebius ou Gir ou Jean Giraud, o magistral desenhador de BD, defendia que não existe qualquer razão para que uma história seja como uma casa. Pode ser como um campo de trigo, um elefante ou fogo de artifício. Francisco Valente noticiou no ipsílon que Barry Lyndon, do genial Stanley Kubrick, vai voltar a ser exibido nas salas de cinema. Na sua opinião, nunca um filme tão bonito nos mostrou o quão feios podemos ser. Claro que tudo isto me deprimiu. Julho deitou-me abaixo. Só podia. Mas arribei quando li a entrevista de Teodora Cardoso, a presidente do Conselho das Finanças Públicas. Explica que os economistas são um pouco incultos e aconselha-os a prestarem mais atenção à História, à Sociologia e à Ciência Política. Afirma que precisa de ler livros policiais para adormecer, pois distraem-na das preocupações do dia a dia. Mas o que me deixou deveras tranquilo foi a revelação de que do seu apartamento, com vista para o Bugio, acompanha, através dos binóculos, as regatas e a entrada e saída dos navios.
33 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.