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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

30
Jul18

403 - Pérolas e diamantes: A conversa e o decoro

João Madureira

 

 

O avô de Adriano Moreira bem o avisou: “Vocês têm de emigrar destas terras, quando estiverem no meio de muita gente, nunca digam que são transmontanos. Porque os outros podem não o ser e ficam envergonhados.”

 

Depois ele, lá se foi safando até chegar a ministro de Salazar. É agora um digno democrata. Melhor, um democrata-cristão. E ensina: “Quando o senhor tem um regime qualquer e é partidário de reformas, passa logo a ser de esquerda. Eu acho que Jesus Cristo era de esquerda.” O que eu não percebo, até porque o senhor é coerente, é o facto de sendo ele cristão dos quatro costados, ser de direita. Pelos vistos, o exemplo de Jesus não lhe serviu para nada.

 

Razão tem o Ricardo Araújo Pereira. Eles falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada.

 

Nós, os transmontanos, não abandonamos Trás-os-Montes, vamo-nos deixando ir embora.

 

Já dizia Napoleão: “para entender um homem há que entender o mundo em que vivia aos vinte anos”.

 

Nunca nos chegam no tempo certo os poucos pedaços de conhecimento que conseguimos obter de nós mesmos.

 

É preciso ser cego para não ver. Ou melhor, como dizia a minha avó: é necessário não querer ver para não ver.

 

Joe Gould é capaz de estar certo quando argumenta: “A história de uma nação não está nos parlamentos nem nos campos de batalha, mas naquilo que as pessoas dizem umas às outras nos dias de feira e nos dias de festa, e no modo de cultivar a terra, de querelar, de ir em peregrinação.”

 

Por isso decidiu dedicar-se à História Oral e nunca mais aceitar empregos fixos. Ou melhor, transformou-se naquilo que conhecemos como pedinte, ou sem abrigo, ou outra coisa qualquer.

 

Deixou-se seduzir pelas conversas intermináveis, ou pelas conversas curtas e vivas, pelas conversas brilhantes ou pelas conversas parvas, pelos insultos, frases batidas, fragmentos de discussões, o balbuciar dos bêbados e dos loucos, os rostos dos mendigos, os desafios das prostitutas, o linguajar dos feirantes e dos vendedores ambulantes, os sermões dos pregadores de rua, os gritos da noite, os boatos incríveis. Os brados do coração.

 

Também existiam os boémios radicais, os mais convencidos de todos, que deixaram de falar de arte, sexo ou copos. Falavam então sobre a revolução iminente, sobre o materialismo dialético, a ditadura do proletariado, o que Lenine queria dizer quando disse isto, ou o que Trotsky queria dizer quando disse aquilo, e agiam como se alguma daquelas conclusões a que diziam chegar pudessem importar para o futuro do país ou para o futuro da Humanidade. Dito de forma mais assertiva: limitavam-se a ir perdendo o sentido de humor.

 

Pelo empenho com que falavam do proletariado, podíamos ficar com a impressão de que eram todos filhos e filhas de metalúrgicos, estivadores ou operários fabris. Mas a verdade é que quase todos vinham de famílias de classe média ou alta. Alguns bem desafogados e outros até ricos.

 

Claro que chega sempre o dia em que nos sentimos estranhos no meio deles. Confesso que não era tanto a política o que me aborrecia, embora continue a achar que todo o tipo de política é uma chatice. O que me chateava era o ar convencido com que falavam de política. Sobretudo a sua maneira de dizer “nós”. Aqueles defensores do proletariado mais não eram do que flores de estufa.

 

Claro que com tropas daquelas a revolução deu com os burrinhos na água. E todos sabemos que não há nada de agradável que se possa dizer de uma derrota.

 

Uma das realidades tristes da vida é que o nosso círculo de amigos encolhe à medida que vamos envelhecendo. Seja por hábito ou falta de vigor, de repente damos por nós rodeados de um punhado de rostos familiares.

 

O Conde Rostov bem nos avisa que se a atenção deve ser medida em minutos e a disciplina em horas, a indomabilidade tem de ser medida em anos. Ou, para quem não é dado a tiradas filosóficas, podemos dizer simplesmente que o homem sensato celebra aquilo que pode. A mais não é obrigado.

 

Pois sim, concedo na compreensão. Por natureza somos caprichosos, complexos e, por vezes, deliciosamente contraditórios. No entanto, todos merecemos consideração. Ou melhor, todos merecemos ser reconsiderados. Devia existir em nós uma inabalável determinação em nos abstermos de formar uma opinião sobre determinada pessoa até termos interagido com ela em todos os contextos possíveis.  

 

Depois de tantos anos de luta e trabalho, de esperança, de carregar expetativas, engolir opiniões, gerir o decoro e fazer conversa, o que devemos procurar é um pouco de paz e sossego.

 

Propostas: Música: Deus é Mulher – Elza Soares; Leitura: Central Europa – William T. Vollmann; Viagens: http://www.destinosvividos.com/visitar-aldeia-magica-drave/; Restaurante: Chaxoila – Vila Real.

26
Jul18

Poema Infinito (415): Filho de prumo

João Madureira

 

 

É de madrugada e permanecemos intensamente deslumbrados pela atrapalhação dos caminhos. Vivemos na memória das casas abatidas, derrubadas nos tempos da usura. Pelas suas fendas penetra agora o silêncio, ocupando os espaços opacos entres as paredes, ignorando a imensidade das tardes. Antigamente fechavam-se as janelas, os outonos eram sombrios, a luz ocultava-se nos orifícios do tempo, enquanto as leitugas bravas revoltavam os prados frios e lentos. Os nossos olhos agora enchem-se de lágrimas quando avistamos as casas cheias de silvas. O avô já não revolve a terra húmida, nem os homens malham o centeio na eiras, nem a avó retorce a farinha na masseira. Era esse o pão eterno que alimentava as bocas esfomeadas dos filhos tão amados. Perderam-se as casas, os sorrisos e os silêncios. Perdeu-se a inocência. Atualmente as madrugadas são longas como os caminhos. Esse tempo morreu. A infância ficou pendurada na memória, nela couberam as mil histórias das mil e uma noites. E as estrelas. E os rios. E também o voo das abelhas e os ninhos dos pássaros. Cozia-se o pão nos fornos aquecidos com giestas e ramos de carvalho. O avô andava de socos. E o reco morria sempre entre dezembro e janeiro, quando o carambelo ficava pendurado no colmo ou nas telhas, derretendo-se pouco a pouco com a nesga de calor produzida pelo sol que negligentemente brilhava entre as nuvens. Tínhamos as montanhas no fundo dos olhos. Os segredos eram pequeninos como formigas. A orquestra que ouvíamos era formada por grilos e cigarras. Os meninos eram piratas que navegavam em barcos de papel sulcando os regos de água. Todos os brinquedos, menos os apitos, eram feitos de madeira ou de lata. Consolávamo-nos com os cachos de uvas que surripiávamos das videiras. A sua tinta molhava-nos os dedos e os lábios. Era um tempo morno, cheio de ausências e regressos. As flores nasciam incansáveis na beira dos caminhos. O sons repetiam-se até à exaustão, sobretudo o chiar dos carros de bois. O lume estava sempre aceso e os aromas eternamente presentes. O tempo caminhava de forma incansável, como hoje ainda o faz. Falavam-nos em tesouros que nunca apareciam, em segredos que não desvendavam, em ressurreições que jamais aconteciam. Por vezes, as tempestades desabavam sobre as montanhas e a avó rezava: Santa Bárbara bendita... Brrum... que no céu está escrita com papel e água benta livrai-nos desta tormenta... Brrum... Onde vais Bárbara... Senhor vou ao céu a livrar-me das trovoadas... Brrum... Todos os medos regressavam às suas respetivas casas. E a avó tremia. E o cão gania. E gato fugia para debaixo do escano. E o pai fumava. A mãe benzia-se. E a avó rezava de novo. Nós ficávamos mudos como o tempo. Até o amor queimava as mãos. As vacas ficavam violentas e expunham a sua fúria dando coices nas tábuas da porta do curral. As memórias, essas, eram verdes como as maçãs da Clérga. O vento assobiava pelo meio da palha do centeio. As palavras cresciam como se fossem pavias. Ao serão, a família falava do rio que transbordava, do vento que tombava árvores, da forma correta de fazer vassouras de giestas, dos contos que ninguém sabia muito bem como acabavam. E diziam-se adivinhas. E contavam-se romances. Todas as crianças tinham luz nos olhares. Depois sentávamo-nos no escano de castanheiro com os lousas no colo e desenhávamos letras com o ponteiro. Foi nessas alturas que os poemas começaram a crescer dentro da nossa cabeça, representando sóis e árvores e pássaros esvoaçando no ar cálido do serão. Tudo isso guardámos no peto da memória. Também os nossos olhares medravam como os pães pelos outeiros. E brincávamos com as cerejas, com os pêssegos e com as palavras. Os cães ladravam nas eiras e as névoas espalhavam-se pelo rio e pelo vale. Consertavam-se as cancelas e as sombras. Nos palheiros explorávamos a sexualidade. Agora as casas vão morrendo abandonadas, afogando-se no esquecimento. Já não fumegam, nem os potes cozem a vontade de comer. Agora imaginamos o passado, recordarmos a chuva e os bois feitos de madeira, amansados pelas palavras frescas das crianças. Através da porta saem os astros. O lume apagou-se definitivamente.

23
Jul18

402 - Pérolas e diamantes: A sustentabilidade da imbecilidade

João Madureira

 

 

 

Tal como Niall Fergunson, do The New York Times, também eu não consigo ler no ecrã de um computador com prazer. Para isso tenho de ter um livro impresso com papel e tinta, “de preferência um robusto paperback”.

 

Tal como James Ellroy, penso que é a ler que se aprende a escrever. “Mas, na realidade, não posso dizer como é que eu aprendi.” Ellroy acha que foi Deus quem lhe deu esse dom, pois chegou-lhe de forma misteriosa a partir dos livros que leu. A mim foi mesmo o Diabo em figura de gente.

 

Mas o mundo literário, apesar do seu brilho exterior de civilidade, é um lugar estupidamente convencional, cheio de egos incomensuráveis.

 

Mesmo assim, a realidade está sempre a superar a ficção. Como escreveu Philip Roth, “ninguém podia imaginar que o grande desastre americano do século XXI não seria um ‘Big Brother’ orwelliano, mas a figura ridícula e sinistra do bobo arrogante da commedia dell’arte”.

 

Na carta do editor do último número da revista LER, Francisco José Viegas refere que os dados disponíveis no Eurostat (2011) informam que apenas 5,2% da população portuguesa lê mais de 10 livros por ano, que é metade da percentagem da taxa da Espanha (11%) e muito menos do que a Estónia (21,9%), a Alemanha (22,1%), ou a Finlândia (24,4%). Há ainda 9 % de portugueses que leem entre 5 a 9 livros por ano.

 

Sigamos então o bom exemplo do Presidente da República e procuremos aquilo em que somos mesmo bons: a única contabilidade em que Portugal fica no topo é na honrosa categoria “não leu um livro”, em que nos classificamos no segundo lugar – entre os países da UE, apenas a Roménia nos bate.

 

FJV tem razão, a crescente desvalorização da literatura no ensino do português é cada vez mais evidente. Proliferam por aí os textos em “português normal”, o que, a curto prazo, contribuirá para a banalização da literatura, agora mais conhecida por “entretenimento”, onde se misturam o bom e o mau em doses idênticas, desde que apresentem as denominadas “dimensão cultural” e “festiva”.

 

FJV propõe que se avalie a qualidade do ensino relacionado com a leitura, para ver até que ponto ela reflete e amplia a crescente banalização do banal.  

 

Fala-nos a seguir de uma sua participação num encontro relacionado com bibliotecas escolares, onde ouviu as costumeiras cantilenas. Primeira: que o digital providencia um “absolutamente notável” progresso da civilização, e que esse progresso é inquestionável. Segunda: que é necessário transformar a leitura numa “atividade inclusiva”, provavelmente banindo “livros difíceis” e “incluindo cada vez mais literatura popular que diga alguma coisa às pessoas”. Terceira, em jeito de lamento: a vida é como é.

 

De facto, “o lero-lero da ‘inclusividade’ e da ‘leitura inclusiva’ não é mais do que uma desculpa para perpetuar essa banalização do banal nas nossas escolas”.

 

E termina com duas questões pertinentes: quantos livros leem os jovens das escolas secundárias portuguesas por ano? Quantos livros leem os professores de Português por ano?

 

A festejada atriz Beatriz Batarda já deu o mote, quando afirmou: “Não gosto de Gil Vicente. Desprezo Shakespeare.” Pois lá bem diz o povo: o comer e o coçar está no começar.

 

Alguns, os tais do politicamente correto, já falam de uma literatura sustentável. O que até originou que um livro que denuncia o racismo seja considerado perigoso porque usa palavras racistas.

 

Numa escola americana do Mississípi, a leitura de Não matem a Cotovia, de Harper Lee, apenas pode ser feita com uma autorização expressa dos pais, uma vez que nele se usa a palavra “nigger”. Os bem-pensantes consideram que essa expressão racista, bem como muita da linguagem da obra, pode incomodar as almas sensíveis das crianças, que, tal como nós, abominam o racismo. Já não basta afirmar que o livro de Harper Lee é uma denúncia amarga do racismo, torna-se necessário fazê-lo de forma apropriada e “sustentável”. Ó raio de palavra. Ó c. de gente.

 

Na Califórnia corre um folheto, exarado pelo Departamento de Educação do Estado, que recomenda aos pais que tenham em atenção a cor do cabelo dos bonecos, a forma como se vestem, se utilizam sotaques regionais, se os meninos brincam com carros, se as meninas se vestem com cores suaves, se as personagens das “minorias” desempenham papéis secundários, se eventuais diferenças de classe social são ou não nomeadas como injustiças, se existem diálogos que fazem prever comportamentos transfóbicos, se a opinião subjetiva do autor parece racista ou sexista ou outra coisa qualquer.

 

A ideia parece ser a de que os pais, os editores, os jornalistas, os bibliotecários e os professores passem a fazer de Santa Inquisição, passando todos os livros a pente fino e, muito provavelmente, queimem em público os maus exemplos. Pelo caminho que isto leva, e com a nossa irremediável tendência para seguir orientações estrangeiras, não tarda nada a que idêntica lei seja aplicada em Portugal. O mundo está a ficar cada vez mais estúpido.

 

Como se isso ainda fosse pouco, uma mãe inglesa, ou melhor, uma mãe de Bragança que vive na capital britânica, pediu para que o filme Branca de Neve e os Sete Anões não fosse mostrado ao seu filho de seis anos, iniciando mesmo uma petição pública para que a proibição se estendesse por muito tempo, porque, na sua douta interpretação, o momento em que o príncipe desperta Branca de Neve com um beijo configura uma situação de “abuso sexual”. Esta púdica e inocente mamã não quer que o seu jovem rebento fique com a ideia distorcida de que as raparigas podem ser beijadas enquanto dormem. Mesmo que seja por um angélico príncipe à moda antiga. 

 

Propostas: Música: Bundle - Soft Machine; Leitura: Babbit de Sinclair Lewis; Viagens: http://www.destinosvividos.com/douro-vinhateiro-roteiro-miradouros-percursos-pedestres/; Restaurante: Pensão Flávia – Chaves.

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