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Gosto das ruas que descem até aos rios. De todas elas. E dos rios que sobem até às ruas. Nos rios faço exceções. As quintas dos ricos parecem-me sempre gólgotas, os românticos caminhos da morte. Os ingleses parecem-me paredes de granito vestidas com portões verdes sorrindo para meninas pensativas. Sou tão xenófobo que até me rio do Brexit. Para disfarçar leio Saramago, Aquilino, Eça, Ferreira de Castro, Agustina e outras reticências e pontos de exclamação e vírgulas e virgos. Admiro a velha literatura e as novas tecnologias. Fascinam-me até os livros de leitura obrigatória que abrem as caudas dos vestidos das raparigas com pinceladas de perfume. Imagino-me a descer as escadas de pedra antiga, a cruzar os jardins de árvores e canteiros e, de mão dada contigo, a nomear de cábula na mão as japoneiras, os rododendros e araucárias. Não há nada mais ordinário do que descrever as tílias frondosas que deixam tombar os cachos de flores e o seu perfume e a sabedoria pedante das sibilas e das cartas de amor e a Amália e o Eusébio e Fátima e até o Fernando Pessoa. Pois pim para todos eles. E viva o Almada Negreiros. Dizem que os escritores consagrados têm risadas cristalinas. O meu conselho é lê-los. Ou escutá-los. Ou assim-assim. Entediam-me as salas repletas de quadros, de fotografias antigas e de conversas que parecem ocasionais, repletas de miríades de pequenos objetos. Os peitoris das janelas assemelham-se aos livros das estantes, colocados para apoio dos braços que seguram o queixo de quem se põe à janela para conquistar o príncipe desencantado com os vasos floridos, com as épocas inesperadas, com a transparência dos vidros, com as tesouras que antigamente podavam as vinhas e agora cortam os frangos e os leitões. Os vizinhos de hoje são tão chatos como os seus gatos e tão defecadores como os seus cães. Já não há nem homens nem animais vadios. Eu não gosto da Anna Karenina. Eu gosto é da Valentina. Já cada vez menos se varrem as folhas de outono. Agora tudo é soprado por máquinas estrepitosas e depois enviado para a reciclagem. As primaveras têm todas o mesmo cheiro. Todas as rosas possuem as mesmas certezas,. Os lugares míticos possuem todos o mesmo tipo de iluminação. Com o avançar da idade percebemos melhor Rembrandt, todos nos sentimos rondados pela noite, pelos seus indícios e pelos seus presságios. Todos imaginamos as possibilidades perdidas, as conversas encetadas, os sentimentos exemplares. É preciso vencer a timidez. Depois adoecemos. Toda a caligrafia fina tem o seu sentido oculto. Tudo é evidentemente inócuo. Assustamo-nos com o íntimo das nossas vidas, com as palavras que fecham portas, com a geografia patética dos livros. No apeadeiro onde espero é outubro, o ar está muito quente e há um cheiro paternal a ervas, resina e folhas secas. A sabedoria cria poucos amigos. Aprendi a disfarçar a impaciência. Estou quase em ruínas. Subo as escadas devagar, devagarinho, como quem se confessa perante a força da gravidade. O pátio reflete o sol. Adivinho a chuva que há de cair inclemente durante as horas do desassossego. Estou virado a sul. Quase alegre. Quase triste. Ouço arrepiado os sinos da igreja. O pai e a mãe converteram-se num lugar, num jazigo. Numa dor permanente. Antigamente por aqui havia videiras. E macieiras. E nogueiras. E figueiras. Tudo foi desmantelado. Os remendos rebocados das casas possuem uma aparência fantástica.
Inger Enkvist, uma professora Universitária sueca, já reformada, catedrática emérita de literatura espanhola e latino-americana, que é convidada para dar aulas da sua especialidade um pouco por todo o mundo, revelou-se crítica da “nova pedagogia”, o que no nosso país, onde prolifera o “eduquês”, significa quase ser proscrita.
Inger conhece bem os sistemas educativos onde o sucesso impera. Defende o regresso a uma escola onde os professores são a autoridade e os alunos aprendem em turmas de nível e “os pais têm uma palavra a dizer... mas em suas casas”.
Reconhece que não conhece muito bem o sistema português mas admite que Portugal fez um esforço enorme, tornando-se melhor.
Sobre as reformas admite que muitos países estão numa situação crítica. “No mundo ocidental tem havido uma agenda ideológica centrada na pedagogia, que não procura que o estudante aprenda – claro que é uma generalização. Como têm uma background marxista, dizem que os factos o são por pouco tempo, logo não é útil conhecê-los. Ser esta a visão central nos sistemas educativos provoca grandes estragos.”
Na sua entrevista ao Público não se mostrou apologista do “aprender a aprender” pois quando aprendemos alguma coisa é sempre específico.
O “aprender a aprender”, na sua opinião, deixa implícita a ideia de que se aprendeu alguma coisa que se pode usar noutras situações. Só que a investigadora afirma que não. “É preciso aprender factos para se ser capaz de pensar, compreender e chegar a conclusões. É preciso ter muito conhecimento para se ser capaz de pensar bem.”
“No 1º ano, o professor é quem abre o mundo do conhecimento às crianças, ao mesmo tempo que mostra como funciona a escola. Precisa de lhes dizer: É assim que se aprende e aprender é entusiasmante, vai mudar-te, vai tornar-te adulto, mas há regras às quais tens de obedecer.”
Também existe a ideia de que todas as crianças são iguais e que devem ter o mesmo e a escola é que deve adaptar-se. Mas para Inger Enkvist isso não é correto. É necessário haver outras opções.
Na sua opinião deve haver a possibilidade de escolha. E dá exemplos. Em Singapura existem turmas para os alunos que aprendem mais depressa. Na Finlândia existe ajuda extra para os alunos que aprendem mais devagar. Na Suíça existe a possibilidade de, aos 12 anos, se poder escolher cursos diferentes com mais ou menos disciplinas práticas.
E isso não é discriminação? Na sua opinião não. É, antes, preparar o aluno o melhor possível para o seu futuro.
“O que acontece a esses alunos é que se limitam a sobreviver na escola, na esperança de que, um dia, aquilo termine e sejam livres. Outros ficam tão aborrecidos que começam a fazer disparates porque não acham que o conhecimento seja importante. Na adolescência, diria que submeter os alunos a isso é maltratar psicologicamente.”
Se as crianças aos 4, 5 e 6 anos tiverem bons educadores, inteligentes e preparados, o normal é arrancarem bem, pois conseguem facilmente aprender bem a língua e adquirem bons hábitos sobre como se comportar na sala de aula.
Sobre a razão de no Reino Unido e em Portugal ninguém querer ser professor, Inger é taxativa: “É um problema também noutros países. Em comum, têm o facto de terem introduzido a ‘nova pedagogia’ que diz que o estudante tem direitos e não é obrigado a obedecer ao professor. Quando o aluno pode entrar ou sair da sala de aula, quando pode chegar e não trazer os trabalhos feitos, ou pode dirigir-se ao professor de forma desrespeitosa, ninguém quer ser professor.”
O ensino funciona nos países onde os professores trabalham com grupos com as mesmas necessidades. É mais fácil que estes alunos aprendam ao mesmo tempo.
O “eduquês” é fruto das duas ideologias recorrentes, pois tanto uma como outra defendem que todos devem ter uma atenção pessoal. A de esquerda afirma que todos somos iguais e que não é necessária ajuda para se tornar igual. A de direita declara que todos têm direito a atenção, direito à livre escolha, a ser um agente livre para fazer o que quer.
Só que ambas estão erradas. “A coisa correta é ter bons professores que ensinem bons programas e dar-lhes autoridade.(...) Deixem os professores serem os orientadores.”
E então qual é o papel dos pais? Para Inger Enkvist, o que é normal é os pais providenciarem uma boa educação em casa: boa alimentação, boas noites de sono, ensiná-los a sair para brincar e garantir que chegam à escola a horas.
Também lhe devem fornecer estímulos intelectuais, conversarem juntos sobre o que se passa no mundo e perguntar-lhes o que aprenderam.
Na sua opinião, os pais nunca devem falar mal dos professores. Podem dizer: “Se fosse eu não faria assim, mas aprende tudo o que puderes com essa pessoa.”
Nas férias, os pais devem ir com os filhos para a rua e depois pô-los a ler. Ler pelo prazer. Até podem oferecer uma recompensa: “Lê dez livros e oferecemos-te uma viagem.”
Se não forem bons leitores, não serão bons alunos.
Os melhores pais não são aqueles que dão tudo a troco de nada. É necessário ter a coragem de dizer não. “Não compreendem como é importante dizer ‘não’ a alguém de quem gostam.”
É errado apostar nos ecrãs como principais difusores de conhecimento. “Através dos ecrãs as crianças não recebem os estímulos necessários para aprender e com o nosso dinheiro estamos a empobrecê-los.”
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