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TerçOLHO

Este é um espaço dedicado às imagens e às tensões textuais. O resto é pura neurastenia.

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06
Mai19

441 - Pérolas e Diamantes: Girondinos e Jacobinos

João Madureira

 

 

Como dizia Flaubert, as frases também são aventuras. A arte, para o bem e para o mal, é uma evasão, até porque o peso da realidade é imenso.

 

Por vezes, o pensamento criativo pode ser mais importante do que o conhecimento. Um erro não corrige outro. Há na política muita gente que se julga líder mas não passa de entrave.

 

A política neoliberal assemelha-se ao homicídio mais difícil de resolver: o que é cometido para esconder outro crime.

 

O tempo por vezes faz magia e consegue que aquilo que era invisível fique visível.

 

Uma coisa temos segura: os cães ladram sempre, tanto os do lado deles como os do nosso.

 

O poder democrático assenta no exercício recíproco de influências entre os dignatários do regime,  a que alguns apelidam de bloco central. Os jacobinos costumam reunir o comité central. E os outros, os girondinos, ou outras, engordam o cilício com a sua carne ternurenta. O seu misticismo é voluptuoso. O seu jejum é uma forma de iguaria requintada. Costumam ser os heróis, ou heroínas, da conversa fiada, repleta de vozearia, ênfase e hipérboles. 

 

São as unidades mínimas de carícia. O povo entretém-se a deitar mão ao vazio. A classe média enche-se de desassossego, fazendo surgir a insatisfação.

 

Apesar da sua aparente origem comum, o zelo religioso costuma dar-se mal com as contradições dialéticas, pois criam situações de dependência. É como a sopa de peixe temperada com âmbar, à velha maneira dos Pomorches, devoradores de pomuchel, conhecido entre nós como bacalhau.

 

Por vezes a realidade cai em cima de nós como uma tempestade de primavera.

 

O campo continua bonito, as árvores estão verdes e as roseiras estão em flor, mas isto é agora usufruído apenas através das fotos ou da televisão. Deslumbramo-nos com a natureza através da janela. Já não saímos à rua.

 

Os problemas costumam surgir quando nos queremos afastar da teoria e nos aproximamos da prática. Trabalhar junto das bases não é fácil. O povo pode parecer tolo, ou até sê-lo, mas tem boa índole. Quer do ponto de vista teórico, ou, até, do funcional.

 

Aí se colhe a experiência, se desperta a confiança, se pratica a beneficência e se começa, finalmente, a perceber a economia.

 

Ter um discurso um pouco elaborado é, nos dias que correm, como pronunciar obscenidades em latim: ninguém percebe, nem quer perceber. Ninguém sabe ou quer saber. Para quê discutir ideias? O que o povo deseja é comer bom e barato e ter um carro novo amigo do ambiente. E a vida espiritual despacha-se com uma ave-Maria seguida de um padre-nosso.

 

Os girondinos, não acreditando, nem tolerando a geringonça, foram tocar os sinos desabaladamente para assustar a populaça que começou por não compreender a desgraça anunciada. O mundo por vezes dá voltas e torna-se confuso. O facto é que nem Belzebu chega nem a gente almoça.

 

A verdade, é que da deceção se passou à exaltação. E, como é lei da vida, da exaltação se passará a deceção, sem que a ceia da conciliação tenha lugar. Os encontros fortuitos são sempre gerados pela casualidade.

 

Os girondinos costumam ficar nervosos quando chove. E também quando faz sol. Para eles, o mundo é perfeito quando há sol na eira, chuva no nabal e o povo se entretém a rezar o terço. A devoção a Nossa Senhora é imensa. É terna. É eterna.

 

Daí o estado de depressão girondina.

 

Mas a resposta é simples: os jacobinos concluíram que mais vale um pássaro “geringonceiro” na mão do que três a voar.

 

Os girondinos, acabrunhados, deixaram-se mesmo enovelar numa espécie de inércia culposa. Até o seu penteado chefe se tornou num viciado da imobilidade.

 

E eles, os pobres girondinos, pensam lá para os seus botões: é impossível saber se foi por nós ou por causa de nós, o que aconteceu. A vida, por vezes, é cruel.   

 

Mikhail Chichkin escreveu que “a harmonia universal é um regulamento destinado a ensinar aos neófitos que tudo é uma rima”.

 

Será a social-democracia uma suave monotonia?

 

Será a democracia-cristã um paroxismo de raiva?

 

Já nada os acalma, nada os satisfaz: nem os brinquedos, nem os alimentos, nem as bebidas.

 

Será a mágoa contagiosa?

 

O socialismo, por agora. É só sorrisos. E abraços.

 

E também drama. As eleições estão aí.

 

Os sermões vão-se suceder como as canções no festival.

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