Louvre
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Pode não parecer, mas a história não é uma ciência. É antes uma espécie de género literário. Como diz Vasco Pulido Valente, o que a academia acha que são ciências – a sociologia, as ciências políticas e, sobretudo, as relações internacionais – não passam de fraudes.
As ciências sociais, ainda na douta opinião de VPV, possuem o mesmo estatuto ontológico de Deus: não existem.
Talvez por isso mesmo, VPV se tenha dedicado às crónicas em vez de perder tempo com a história, a sociologia e fraudes afins.
Em muitas delas zurziu em Cavaco Silva como em centeio verde. Ele que foi um dos primeiros entusiastas do homem de Boliqueime.
Escreveu que o dr. Cavaco, quando foi primeiro-ministro, fez muito mal a este país. Não percebeu que o necessário era fazer a reforma de Portugal. Apesar de ter muito dinheiro para modernizar Portugal, limitou-se a mandar fazer umas estradas. E também transferiu uns subsídios para a lavoura numa tentativa de acabar com a agricultura de subsistência. E, claro está, não acabou. Deu cabo foi da outra. Deu dinheiro a pessoas que tinham duas vacas para deixarem de ter duas vacas. Os donos das vacas receberam o dinheiro, compraram um carro e abriram um café. De repente havia cafés por todo o país e a agricultura de subsistência continuou.
Na sua opinião, que não é única, “Cavaco é muito inculto e começa por ser muito inculto politicamente”.
São três os impasses que bloqueiam a sociedade portuguesa: o da modernidade, o da competitividade e o da reforma do Estado.
Portugal é um país em constante modernidade. O slogan é perpétuo. E a razão é simples: uma país que não produz inovação está sempre a modernizar-se, insistindo na tentativa de chegar à modernidade que os outros geraram. Só que nós chegamos sempre lá tarde e a más horas.
Quando qualquer governante diz que vamos inovar, o que quer dizer é que devemos ir copiar a inovação dos outros. A lengalenga já vem desde o século XVIII. A nossa modernização nunca passou de imitação.
Imitando melhor ou pior, o problema é que tal prática deforma sempre o modelo pretendido.
No topo da hierarquia do Estado temos um senhor risonho, ligeiramente sassamelo, que tira milhares de selfies e dá beijinhos a tudo que mexe. Sobretudo velhinhas, a quem se abraça e enxuga as lágrimas.
Ora isto não é política, nem representação. Pois ele não representa nada. Nenhuma solução ou direção política.
É um presidente divertido.
O gráfico de pirâmide da sociedade portuguesa tem atualmente a forma de uma pera. Possui uma tira gorda no meio, formada pelos que caíram de cima e pelos de baixo que subiram. Na base está uma faixa mais pequena, mas relativamente larga.
Assistimos a uma proletarização preocupante da classe média. Essa é a nova força social que vota preferencialmente à esquerda: professores, médicos, advogados, investigadores, enfermeiros, informáticos, analistas, arquitetos, técnicos de diagnóstico, fisioterapeutas, etc. Uma coisa os caracteriza: alta qualificação técnica, mas sem o prestígio social que antigamente lhes correspondia. Sentem-se frustrados porque ou desceram ou não subiram socialmente. Uma coisa os atormenta: a brutal precariedade das suas vidas.
Normalmente falamos de precariedade no emprego. Mas há ainda uma precariedade mais importante: a da situação social.
Não. Não se trata de socialismo, mas de procurar uma vida nova. A decência. O direito a ter futuro.
Portugal, e a Europa também, sabe que necessita de reformas, mas não quer reformas. O facto é que os portugueses não suportam demasiada realidade. Normalmente, costumam fugir dela, ou fazer que não a veem. Este Estado, denominado de providência, transformou o cidadão normal numa espécie de ser irresponsável. Daí os dirigentes da democracia fazerem carreira em lhes mentir.
Mas o problema continua a estar no sítio do costume. Os nossos políticos são quase todos maus. E as militâncias partidárias também não primam pela qualidade. A obediência assenta facilmente nos medíocres. Daí os partidos se terem transformado num bando de papagaios, sempre prontos a obedecer ao chefe. E sempre por interesse pessoal. Daí se exprimirem essencialmente através da intriga.
Nenhum regime político resiste à impotência. Já chega de medo e desleixo. De corrupção. Necessitamos urgentemente de atos positivos.
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